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- Escrito por: Cinthya Nunes
Quando meu gatinho Bento morreu, há pouco mais de um mês, fiquei em dúvida se adotaria outro. Menos de uma semana depois, uma amiga me enviou fotos com filhotes de gatos para adoção. Minha reação automática foi responder negativamente. “Acho que não voltarei a adotar outro tão cedo”.
Percebi que minhas resoluções não são dignas de fé. Ao menos não aquelas que envolvem pets e livros. Há tempos desisti de mentir para mim mesma sobre não comprar mais livros.
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- Escrito por: Cinthya Nunes
Uma a uma as árvores vão caindo. O baque seco e surdo no chão, entrecortado pelo som medonho e insensível da serra elétrica. Moradas de pássaros, de abelhas, verdadeiros pulmões da natureza. Algumas pequenas, outras com décadas de vida, uma ou outra provavelmente centenária. Todas indefesas, pouco importando o porte ou a espécie. Sem pernas para correr, sem asas para voar, sem dentes para morder, nada podem diante da crueldade humana.
Esta é a imagem que tem me apavorado desde que soube da obra da Avenida Sena Madureira, próxima de minha casa, na cidade de São Paulo. Um grupo de pessoas inconformadas e preocupadas com o meio ambiente se reuniu em torno da causa. Primeiro foi tentado o diálogo, apelando-se para o bom senso, solicitando transparência, informações, justificativas. Pouco ou quase nada se conseguiu assim.
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- Escrito por: Cinthya Nunes
Joana tinha uma rotina pesada: acordava todos os dias antes mesmo dos passarinhos, fazia café, deixava prontas as torradas com o resto do pão do dia anterior, cozinhava um ovo para o Pedro e fazia o suco da Mariana. Ajeitava as almofadas do sofá, varria a cozinha, dava comida para o filhote de gato e para o cachorro velho e manco, sem se esquecer de um bom afago em cada um.
Se o tempo estava seco e o dia prometia ser quente, ainda molhava as plantas, elogiando aquelas que estavam mais bonitas e dando uma bronca leve nas outras. “Vocês precisam reagir. Minha parte eu faço, então tratem de melhorar”.
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- Escrito por: Cinthya Nunes
Fã de livros sobre crimes reais, descobri mais outra forma de consumir esse tipo de conteúdo durante a pandemia, enquanto pesquisava receitas de pão e aulas de aquarela no YouTube: os canais sobre True Crime, como também ficaram mais conhecidas no Brasil tais narrativas.
O conhecimento sobre a mente humana e seus estertores, mas principalmente os meios investigativos utilizados para fazer cessar todo mal que se esconde sob aparências inofensivas de homens e mulheres supostamente “de bem”, ou nas erráticas e quase invisíveis figuras sombrias de andarilhos e solitários taciturnos, é fascinante.
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- Escrito por: Cinthya Nunes
Depois de semanas de muita seca, em um ano sem estações marcadas, sem outono, inverno ou primavera, o verão já ameaça chegar antes da hora, com chuvas e vendavais, causando estragos. A falta de manutenção de árvores, de poda adequada, monitoramento de pragas, plantio de espécies próprias para os centros urbanos e mesmo o vandalismo humano, tudo contribui para que, diante de chuvas mais intensas, centenas de árvores venham abaixo.
Lamentavelmente as cenas se repetem em todo país. O descaso com o meio ambiente chega a ser criminoso, além de muito triste. Enquanto isso, quando escrevo, outubro de 2024, a Prefeitura de São Paulo segue com um projeto, havia anos engavetado, para construção de um túnel na zona sul da cidade e que, para além de implicar no corte de centenas de árvores, já provocou a concretagem da nascente de um rio e do corte de árvores centenárias ou quase centenárias.
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- Escrito por: Cinthya Nunes
Há poucos dias fui surpreendida com a triste notícia do falecimento do Prof. Celso Sisto. Eu estava conferindo as notificações do WhatsApp e vi que em um dos muitos grupos dos quais faço parte, várias estavam chegando. Embora a oficina de escrita para crianças já tivesse se findado há alguns meses, criamos outro grupo, agora sem o professor, para prosseguirmos trocando ideias sobre nossas iniciativas e conquistas na área. Fiquei sem acreditar quando li: “Meninas, por favor, me digam que é mentira que o Celso faleceu!”
Durante os primeiros meses da pandemia, diante de todo aquele contexto e de algumas questões profissionais pessoais, resolvi encarar um curso de um ano e meio, online, de Formação de Escritores. E foi durante o curso que tive a oportunidade de fazer um módulo de escrita para crianças, ministrado pelo Celso. Gostei de cara. Comprei livros escritos por ele e passei a segui-lo nas redes sociais. Descobri que, multifacetado, ele misturava artesanato, sobretudo bordado, com literatura e ministrava oficinais sobre o melhor dos dois mundos.
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- Escrito por: Cinthya Nunes
Há quase sete anos escrevi um texto pela chegada dele. Encontrado na rua em pleno dia 31 de dezembro, estava embaixo de um carro e veio até mim quando eu o chamei.
Magrinho, maltratado, presumi que nascera em algum quintal abandonado. Dócil, aninhou-se nas minhas mãos, como quem chega em casa. Naquele momento eu soube que, embora não tivesse planos de ter mais um gato, aquele pretinho minúsculo, com barriga grande de vermes, ficaria comigo para sempre. Pena que o sempre durou pouco.
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- Escrito por: Cinthya Nunes
Escrevi meu primeiro livro quando estava com 23 anos. Recém-formada, sem saber exatamente o que fazer da vida (a propósito, acho ótimo continuar não sabendo), resolvi escrever duas histórias que, havia tempos, habitavam minhas memórias. Comecei escrevendo sobre o Totó, o fiel companheiro da minha infância, cãozinho que dividiu quatorze anos de existência comigo. Logo em seguida escrevi O Príncipe Azul, uma fantasia infanto juvenil baseada em uma história que meu pai me contava para dormir. “A Batata que não queria ser assada” foi o terceiro, escrito anos depois, após uma provocação feita por minha mãe.
A experiência foi incrível, sobretudo pela troca que tive com os meus leitores mirins. Foram cartinhas recebidas por crianças que hoje já têm seus próprios filhos, todas carinhosamente guardadas. Sempre houve planos de novos livros e as histórias fervilhavam o tempo todo nas minhas ideias, mas por dezenas de motivos e até pela ausência de alguns, nunca mais, desde aquela época, voltei a publicar textos infanto-juvenis.
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- Escrito por: Cinthya Nunes
Estávamos no sofá quando ouvimos um apito. O som fez uma escada pela qual desci até minha infância, no tempo em que o sorveteiro passava na rua todas as tardes, anunciando sua chegada com apitos contínuos e longos. Não sei se havia um combinado prévio, uma diretriz, mas todos apitavam da mesma forma.
A criançada parecia brotar de dentro das casas, implorando aos pais por um sorvete. Geralmente, na verdade, por dois ou mais. Não importava que tivéssemos acabado de almoçar ou que fosse quase hora do jantar. Sorvete era sorvete e não precisava de ocasião ou horário para ser consumido.
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- Escrito por: Cinthya Nunes
Acredito que já fazia mais de 8 anos que eu não me aventurava até a Bienal do Livro de São Paulo. Embora seduzida pela chance de estar cercada de uma das coisas que mais amo na vida, os preços altos dos livros me desestimularam. A minha história com esse evento, por outro lado, é curiosa.
Eu deveria ter uns 13 anos e morava em Lins quando a escola decidiu levar algumas turmas de alunos. Nem faço ideia de qual foi o critério de escolha, mas para minha desolação, não incluía a turma em que eu estava. Minha irmã Ivy, porém, com 11 anos, estava entre os sortudos.
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- Escrito por: Cinthya Nunes
Minha estação preferida do ano nem deu as caras em 2024. Fez que vinha, não veio e, de vingança mandou os irmãos verão e inf(verno) mandarem como garotos de recado. De tanto que ferraram com o mundo, as estações vêm quando e se querem. Agora aguente quem puder.
Queimadas criminosas praticadas por seres abjetos agravaram o problema. Tantas vidas ceifadas sem sentido, tanta colheita que deixa de virar alimento, tanto céu azul de menos, tanta doença no ar. Lamento profunda e infinitamente a pequenez de certas existências humanas. Em um mundo movido pelo dinheiro e pela sede de poder, a vida é um detalhe apenas.
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- Escrito por: Cinthya Nunes
—Desculpa Chefe, eu realmente não sei o que me deu!
—Mas Pedro, meu filho, assim fica complicado para mim. As reclamações não param de chegar. Às vezes eu penso que você e Paulo tem alguma questão mal resolvida. Pode se abrir comigo. Você sabe que sou bom em escutar e que conheço os segredos de todos os corações do meu rebanho.
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- Escrito por: Cinthya Nunes
Nem me lembro do nome daquela vagem de feijão verde que nascia nas cercas de uma das casas da minha primeira infância, mas ainda sou capaz, tantas décadas depois, de sentir o gosto que tinham as sementes. Eu as colhia, abria e comia os feijões, tudo praticamente ao mesmo tempo. Nunca mais planta semelhante, mas é curioso como nossas memórias afetivas escolhem o que seguirá conosco e o que se perderá nas curvas das lembranças.
Ainda na infância era comum comermos o fruto amarelo ouro, quase alaranjado, do que chamávamos naquele tempo de Melão Caetano. A planta era uma trepadeira que crescia espontaneamente por vários locais e era confundida como mato. As flores amarelas estavam sempre rodeadas pelas abelhas e os frutinhos, de casca rugosa que se abria em partes iguais, eram “recheados” de sementes vermelhas, as quais comíamos sem nem pensar.
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- Escrito por: Cinthya Nunes
Inspirada por iniciativas semelhantes, minha mãe resolveu arrecadar livros, novos e usados, para distribuí-los como meio de incentivar a leitura. Improvisou uma caixa de papelão e a pendurou no Ipê branco que fica em frente ao portão da casa onde vive com meu pai há quase quarenta anos e onde eu também vivi durante a infância e adolescência.
Mas para garantir que as pessoas soubessem do que se tratava, não se limitou aos dizeres que escreveu na caixa, dando conta de que os livros poderiam ser levados gratuitamente. Ficou lá durante vários momentos do dia, principalmente nos horários de saída das escolas que ficam muito próximas, oferecendo livros de acordo com os gostos, na medida do possível.
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- Escrito por: Cinthya Nunes
Mauro sonhava em conhecer o pai. A mãe dizia que não precisava. Ela era mãe e pai e já bastava. Não bastava, mas o menino não tinha coragem de dizer isso a ela. Admirava a mãe e a amava incondicionalmente, mas tinha dentro dele aquele misto de curiosidade e de saudade de algo que nunca teve.
Marília era uma mulher forte, batalhadora. Cozinheira em um restaurante havia quase uma década, conseguia levar para casa quase todos os dias uma refeição especial, trato feito com o patrão que não gostava de desperdiçar a comida do dia e que, por preço simbólico, descontava do salário dela as duas marmitas com sobras. Aos treze anos Mauro nunca soube o que era passar fome e a mãe se gabava de dar ao filho “comida de gente rica”.
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- Escrito por: Cinthya Nunes
Aventuras pela Itália – 4ª parte
Ando meio com receio de que as pessoas estejam cansadas desses relatos, então encerrarei por aqui a “série” e deixarei para escrever sobre outras questões que considero dignas de serem compartilhadas em outros momentos, futuramente. Hoje, entretanto, ainda quero partilhar algumas percepções.
Entre as locais que visitamos, como o Vaticano, várias igrejas, praias pedregosas, a Fonte de Trevi, a Torre de Pisa, o que mais me chamou a atenção foram as marcas do passado, da história, registradas nas ruínas que gravaram os passos da humanidade, inclusive os vergonhosos.
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- Escrito por: Cinthya Nunes
Aventuras pela Itália – 3ª parte
Ficamos um tanto frustrados quando descobrimos que alugar um único carro para seis pessoas seria mais caro e até inviável para podermos circular pelas ruas estreitas de várias pequenas cidades turísticas italianas. O jeito, então, foi alugarmos dois e nos dividirmos, ficando ao meu encargo ser a pessoa que iria de copiloto no carro da frente, de olho no GPS. Admito que isso me deixava um pouco tensa porque qualquer erro implicaria em desvio de rotas desconhecidas e, em alguns casos, diante de ruas sem saída, das quais só era possível sair de marcha ré.
Visitamos as cidades que demos conta de fazer, fosse pelo cansaço, fosse pelo calor excessivo e até mesmo por desconhecer tantas outras que somente agora, de volta a terras brasileiras, tomamos conhecimento. Sem dizer que até o computador parece estar de sacanagem, porque nunca recebemos tanta publicidade sobre coisas legais e únicas para serem feitas na Itália. Poxa, custava ter enviado há um mês? Enfim.
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- Escrito por: Cinthya Nunes
Aventuras pela Itália – 2ª parte
Conforme narrei no texto anterior, há poucas semanas voltei da minha primeira viagem à Itália e por alguns textos mais seguirei com minhas impressões sobre curiosidades e até apuros que minha família e eu passamos por lá.
Quando estávamos planejando sobre quais destinos seriam os escolhidos para serem vistos durante o período em que ficaríamos por lá, a cidade de Veneza logo surgiu como uma probabilidade. Depois de algumas controvérsias, após ler sobre e ouvir a opinião de algumas pessoas, resolvemos ir.
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- Escrito por: Cinthya Nunes
Aventuras pela Itália – 1ª parte
Só acreditei mesmo quando aterrissamos em Florença. A viagem à Itália deveria ter acontecido 7 anos atrás, mas assim a vida não quis. Tanta coisa aconteceu que até julgava improvável dar certo. Questões de saúde, financeiras, trabalho, mudanças de rota e a Itália foi sendo destino adiado, até que resolvi que iríamos, de um jeito ou de outro.
Toca fazer contas, economizar, organizar. Era para sermos quatro, mas de repente iríamos em seis. Poucos meses antes algumas coisas se complicaram novamente e eu resolvi deixar para o destino. Fosse para dar certo dessa vez, daria. Aos poucos as coisas foram se equilibrando na medida do possível e chegou o dia de partirmos. Malas feitas, corações ansiosos e lá fomos nós.
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- Escrito por: Cinthya Nunes
Que o tempo mudou geral isso ninguém duvida. O mundo endoidou em todos os sentidos, das doidices boas e das ruins. Porque há sim doidices que são muito legais e que nos mostram que estamos no meio da evolução, da história, expectadores e protagonistas das mudanças, assim como há as péssimas, as quais nem preciso detalhar, eis que são notórias.
Assim me parece o clima, que pirou geral. É quase consenso, pelo que leio, de que é culpa dos seres humanos e de tudo o que temos feito de mal ao nosso planeta. Há ainda quem diga que temos culpa, mas que não somos os únicos responsáveis por essa bagunça, já que na época dos dinossauros nós nem estávamos por aqui e olha lá o que aconteceu com os lagartões. Enfim, sei lá.
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- Escrito por: Webmaster
Quase fim do semestre letivo e quem é professor bem sabe que essa é uma época complicada. Nestes meus vinte e cinco anos como professora universitária já posso dizer que vi e ouvi muita coisa, mas sem dúvida alguma os finais de semestre são sempre os períodos nos quais a criatividade dos alunos fica especialmente aflorada e quando até pequenos “milagres” acontecem.
Preciso ressaltar que gosto muito da docência e que, no fim das contas, acho até engraçadas as histórias que sigo quase colecionando na memória. Claro também que o professor, esse bravo e impávido guerreiro, tem seus perrengues pessoais, os quais podem se agravar diante de posturas indevidas de alunos, então é necessário pensar que em alguns momentos o aluno tem lá sua razão.
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- Escrito por: Cinthya Nunes
Estava cá eu pensando sobre o que escrever nesta semana, já com o tempo apertado e passado um pouco do prazo em que costumo enviar meus textos. Quase sempre me surge um assunto novo, assim de repente, enquanto caminho pelas ruas.
Hoje, porém, é um daqueles dias nos quais embora muita coisa esteja rodopiando entre minhas ideias, nada está exatamente implorando para vir ao papel.
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- Escrito por: Cinthya Nunes
Entre minhas orelhas há bem mais barulho do que entre meus lábios. Mas nem sempre foi assim. Impulsiva, preferia falar a ouvir. Até que a vida me impôs silêncios forçados e percebi um pouco melhor o mundo a minha volta. Foi quando me dei conta de que quase ninguém escuta o outro de verdade, ainda que ouça de forma geral. Há uma urgência em falar, porque todos querem a palavra, mesmo quando nada têm a dizer, sem nem notarem que quase ninguém está escutando.
Fico pensando que talvez seja por isso que tanta gente quer ser influencer, ter seu espaço nas redes sociais para dizer o que pensa e o que nem pensa. Há o desejo pela fama, pela notoriedade, mas me parece que, no fundo, é a pura necessidade de falar sem ser interrompido. O que não se quer e que me parece um papel em extinção é a figura do escutador, alguém que de verdade pare para entender o que se transmite, mas creio que um “escutencer” não seja “carreira” almejável.
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- Escrito por: Cinthya Nunes
Eu o tinha visto havia umas duas semanas. Não que eu tivesse especialmente notado o mendigo, mas sem dúvida reparei nos filhotes de cachorro que estavam com ele porque aqui no nosso bairro, infelizmente, há uma quantidade grande de pessoas em situação de rua, mas, por outro lado, não se vê animais abandonados.
Lembrei-me de que eu tinha alguns sachês sobrando, os quais eu não usaria e fiz uma pequena sacola com alguns itens também para o homem, porém embora o tivesse procurado por todo lado, não o encontrei mais. Pouco mais de uma semana depois, entretanto, nós o vimos no quarteirão de casa, acompanhado dos cães. Como ainda tinha os itens separados na sacola, fomos lá para entregá-los.
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- Escrito por: Cinthya Nunes
Durante toda minha vida tenho frequentado casas de repouso ou asilos de idosos, como preferirem denominar. Primeiro ia com minha mãe, depois como uma de minhas irmãs, amigos e amigas. Admito, porém, que nunca deixa de ser uma experiência que me causa sentimentos dúbios e contraditórios.
Por certo que quando se trata desse tipo de instituição é possível encontrar desde aqueles que são verdadeiros e infelizes depósitos de idosos até os que se assemelham a clubes de férias. Seja como for, assim como os abrigos para crianças, embora fosse preferível que não existissem, são necessários e, muitas vezes, a única opção possível de moradia.
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- Escrito por: Cinthya Nunes
Muito é dito sobre a vida ser composta por ciclos. E no fim, todos esperamos que os ciclos se sucedam, embora raramente estejamos prontos para eles. O que ninguém nos avisa é que os ciclos não mandam avisos e nem mesmo acontecem de forma datada, previsível. É mais uma coisa que ocorre de surpresa e nos encontra vivendo outros momentos. Quase nunca, portanto, há preparações e viver é uma sucessão de grandes e pequenos sustos, para o bem e para o mal.
Nascemos com a certeza de que iremos partir em algum momento, embora, até para podermos sobreviver, não temos exatamente a consciência disso, sendo algo que deixamos escondido em algum ponto de nossas mentes e almas, torcendo ou rezando, a depender das crenças pessoais, para que seja algo eternamente adiável. E mesmo sabendo que não é, buscamos viver protegidos por algumas ilusões.
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- Escrito por: Cinthya Nunes
Admito que tentei, mas fui incapaz de preservar neste espaço a temática ordinária dos meus escritos, sobre as pequenezas que tornam nossas vidas únicas e imensas. Estou, como creio, a imensa maioria das pessoas, arrasada diante da tragédia que assola parte do Rio Grande do Sul.
Mais de uma centena de pessoas mortas e outra centena de desaparecidos. Casas e vidas destruídas. Animais que se perderam dos donos, além de outros tantos que também pereceram sob a força das águas. Impossível manter distância emocional. Por óbvio que há uma tragédia em cada esquina do mundo acontecendo todos os dias, mas há um peso extra quando isso acontece próximo a nós, com conhecidos e amigos.
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- Escrito por: Cinthya Nunes
Nesses dias têm sido difícil pensar em assuntos leves, naqueles temas que sempre serão minha preferência, porque enquanto os escrevo, derramando letras mais sutis sobre o papel, também me preencho das delicadezas que nos permitem uma vida menos dura.
Por outro lado, penso, quem procura por uma crônica dentro de um jornal, não quer mais do mesmo, talvez buscando um respiro em meio à inevitabilidade das notícias sobre o quanto o clima está louco, os preços estão aumentando, a violência que nunca dá descanso e por aí à fora.
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Só duas pessoas compareceram ao evento. A oficina gratuita de Escrita Criativa era uma das atividades previstas em comemoração ao Dia Mundial da Criatividade e Inovação, que é celebrado no dia 21 de abril. Descobri meio por acaso e já havia me inscrito havia semanas, principalmente porque seria a poucas quadras de casa.
Fiquei constrangida ao ver que a organizadora havia feito pequenos kits e blocos de rascunho, marcadores e lápis para os participantes e, dos quinze inscritos, só duas pessoas estavam lá, entre elas eu. Duas meninas, universitárias, presentes no local para dar suporte ao evento, acabaram participando também, para dar algum volume ao curso.
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- Escrito por: Cinthya Nunes
Adoro observar meus gatos dormindo. Gatos, aliás, fazem isso como ninguém, seja quando dormem sozinhos, acoplados em espaços minúsculos e nas posições mais impensáveis ou quando dormem ao lado de outro gato. Iogues, contorcionistas, malucos, os gatos são mesmo criaturas incríveis e depois que tive a chance e a sorte de amá-los, nunca mais fui a mesma.
Passei minha infância ouvindo meu pai usar a expressão “ninho de gatos” sempre que nos chamava para ficarmos, minhas irmãs e eu, aninhadas no sofá e enroladas em cobertores para assistirmos aos filmes que passavam na televisão ou nas fitas que alugávamos nas locadoras.
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Há quase três décadas venho tentando que nasça e cresça um único maracujá que seja nos quintais das casas em que morei. A planta, uma trepadeira, da qual nasce uma de minhas frutas favoritas, sobretudo para suco, mas também para bolos e doces, o maracujazeiro produz flores muito bonitas e perfumadas.
Na minha infância eram comuns os pés de maracujá nas casas dos avós e mesmo na chácara em que moramos por alguns anos. Em determinadas épocas eram tantas as frutas que até doávamos o que não dávamos conta de consumir. Até então eu somente conhecia a versão azeda do maracujá e somente vários anos mais tarde, já morando em São Paulo é que foi apresentada a frutos doces, cujas polpas deliciosas eu devoro em algumas colheradas.
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Depois de procurar o livro em todos os sites que conheço, inclusive nos de livros usados, cheguei à conclusão de que estava esgotado. Comentando sobre o fato com o professor que me indicara a obra, recebi dele a sugestão de procurar em uma biblioteca pública. Parei uns minutos para pensar, com certo estranhamento, porque nem me lembrava mais da última vez que eu estivera em uma.
Lembrei-me quase no mesmo instante de que aqui bem perto da minha casa havia uma, ao menos eu passara lá em frente várias vezes e, exceto se tivesse sido desativada, talvez eu pudesse encontrar o livro infantil que não havia sido capaz de encontrar para comprar.
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Uma coisa precisa ser dita: as festas de aniversário de hoje são muito diferentes daquelas da minha infância e, por certo, das infâncias da maioria dos meus leitores habituais.
Antes que me acusem de ser nostálgica, coisa que nem nego totalmente, parto não apenas da minha opinião, mas das opiniões de muitas outras pessoas. Certo que não tenho aqui dados estatísticos e aquelas chatices todas, até porque quem é que hoje acredita completamente em pesquisas de opinião? Enfim, sigamos.
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Mais de quinze anos morando perto e só recentemente fui conhecer o Planeta Inseto, integrante do Museu do Instituto Biológico. O local fica em um canto verde, muito arborizado, na região centro-sul da cidade de São Paulo e é considerado o único jardim zoológico de insetos do Brasil e da América Latina, sendo autorizado pelo IBAMA e pela Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo.
A exposição é muito interessante, um passeio enriquecedor para todos que admiram o mundo em miniatura. É possível conferir a corrida da Baratas, por exemplo, além de conferir o interior de formigueiros, encantar-se como o mimetismo do bicho-pau e até bisbilhotar o que acontece dentro de uma colmeia.
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Nossa primeira tarefa da Oficina de escrita ministrada e idealizada pelo Prof. Celso Sisto, era produzir um texto sobre por que e como surge e ressurge a escrita em cada uma de nós. O grupo formado pelo professor e mais doze mulheres, todas amantes das letras, reúne-se semanalmente de forma virtual, eis que estamos quase todos em cidades diferentes, para estudarmos a obra de Roald Dahl. Para quem não conhece, é o autor de, dentre outros muitos livros, “A Fantástica Fábrica de Chocolate”.
Escrever sempre foi uma urgência na minha vida. Começar aos seis já era tarde demais para alguém que via nos livros mundos inalcançáveis, cujas portas foram se abrindo conforme as letras foram fazendo sentido ao se colocarem lado a lado. Antes de saber ler e escrever, no entanto, fui uma ouvinte atenta, uma observadora por natureza e uma curiosa acima de todas as coisas.
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Estavam ali, um ao lado do outro, de olhos fechados, na calçada. Próximo deles uma vasilha com restos de comida. Um era marrom e branco e outro, branco e cinza. Como os olhinhos fechados, pareciam estar dormindo, exceto pelo fato de estarem mortos, provavelmente envenenados.
Não sei a razão pela qual as pessoas odeiam tanto os pombos. Não gostar é uma coisa e até aí tudo bem. Também não gosto de um monte de gente e vida que segue, mas odiar a ponto de matar só por matar, de forma cruel, é algo que não sou capaz e nem nunca serei capaz de aceitar.
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Não vi direito quando ele se aproximou de mim dentro da loja e tomei um susto ao notar que a voz que se dirigia a mim vinha de baixo. Era um menino pequeno, de pele morena, vestido de bermuda e camiseta.
_Oi, eu não vou fazer nada de mal para você. Não precisa ter medo de mim: sou criança.
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A caminho para participar de uma reunião de trabalho, tendo feito um percurso de metrô, segui andando o restante do percurso. Como de costume, aproveitei para observar a paisagem urbana e as pessoas que, assim como eu, em uma quarta pela manhã, circulavam rumo a algum lugar ou, quem sabe, estavam à deriva.
Já na saída do metrô fui abordada por um rapaz maltrapilho, que cheirava muito mal e que me pediu dinheiro para, supostamente, comprar comida. De fato, eu não tinha dinheiro e nem comida que pudesse dar a ele naquele momento, ao que ele me mostrou uma placa de papelão na qual estava escrito o número de uma chave pix, opção prontamente oferecida por ele, diante da minha insuficiência de recursos em espécie. Antes que eu seguisse, porque não ia fazer um pix ali no meio da rua, ele sacou um celular e o balançou na minha frente, de prontidão. Muito doido tudo isso, pensei, antes de apressar o passo.
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Conhecida por todos os moradores da rua de um único quarteirão onde moro, Marie era o tipo de vizinha que agradava sem fazer esforço algum. Dona de um charme natural, fazia amizades facilmente e era sempre bem-vinda quando aparecia para suas rotineiras visitas.
Hoje, Quarta-Feira de Cinzas, dia em que escrevo, recebemos a triste notícia de que ela partiu, vitimada por um tumor que a impedia de comer e que em pouquíssimo tempo a deixou debilitada, fazendo cessar seus passeios e deixando menos alegre a vizinhança.
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Dia desses, enquanto fazia aula de inglês online com uma professora norte-americana, mencionei que o Carnaval se aproximava. Percebo que, em geral, os estrangeiros que nunca estiveram no Brasil durante tal festa popular, têm muita curiosidade sobre o que de fato acontece. Normalmente o único conhecimento que têm é derivado das imagens veiculadas na mídia internacional, bem estereotipadas, ou seja, mulheres seminuas desfilando com plumas na Sapucaí.
Assim, não é muito fácil, não com meu inglês simplório, explicar que o feriado de Carnaval não é comemorado de idêntica forma nos mais diversos estados e mesmo nos municípios do país. Tentei explicar para uma americana mais idosa que, de uma forma geral, as pessoas se fantasiam nessa época, quando se dispõem a ir aos clubes ou as ruas para dançar e quando ela me perguntou a razão da fantasia, eu dei alguma justificativa histórica, mas a pergunta permaneceu comigo por mais tempo.
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Domingo cedo resolvemos levar as cachorras para um passeio matinal. Aproveitaríamos para levar também os resíduos orgânicos acumulados durante a semana para a composteira coletiva e, no caminho ainda passaríamos no Petshop para comprar ração úmida para os gatos.
Antes de sairmos notei que o céu se fechara em nuvens e que a chuva era quase uma promessa. Aceleramos o passo, mas o ritmo acabou sendo imposto pelas cachorras que ora iam cheirando tudo, ora aceleravam como se puxadoras de bigas. Deixamos os resíduos na Praça onde ocorre a compostagem e na seguida, cortando caminho pelas árvores, entramos na loja para comprar o sachê nosso de cada dia.
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“Em São Paulo eu não vou prestar vestibular porque não quero morar lá, naquela cidade horrorosa”. Foi o que afirmei categoricamente e com convicção há mais de trinta anos enquanto pensava nas opções de lugar para começar minha vida universitária. Eu tinha verdadeira ojeriza da capital paulista, medida pelas poucas vezes que a tinha visitado na minha infância e adolescência.
Anos depois, concluído o curso de Direito, realizado em outra cidade, acabei me mudando para São Paulo, o que se deu mais por contingências da vida do que por minha escolha. Daquela vez fiquei por dois anos rezando para que cada dia passasse para que eu pudesse ir embora.
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—Mãe, isso no seu copo é cachaça?
—Que é isso menina! É groselha – respondia Madalena, enquanto segurava o copo com as duas mãos.
Parada na frente do carrinho que anunciava em letras meio apagadas o “Copão do João – a melhor batida da praia”, Madalena negava o óbvio, já com as pernas meio falhando o passo.
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_Tia, por que a Gigi (uma de minhas cachorras) não gosta de mim? – perguntou-me minha sobrinha Olívia, de 4 anos.
_Mas ela gosta, meu amor. É que ela tem medo de pessoas – respondi.
_Eu nem sou pessoa, tia.
_ Claro que é!
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O calor inclemente desanima das incursões pelo centro da cidade. Muitas vezes eu me esqueço de como o clima no interior do estado de São Paulo pode ser diferente da capital. Visitando meus familiares para as festas de fim de ano, praticamente fiquei dentro de casa a maior parte do tempo, a salvo do sol que parece fritar a pele de quem se aventura pelas ruas.
Contudo, chocou-me ver o quanto a cidade de Lins, onde meus pais moram, está com poucas árvores, ao menos na região central. Há quarteirões inteiros sem um único espécime, o que me parece incompatível com um local tão quente. Assim, quase não há refúgios naturais para as pessoas, mas também para os animais, sobretudo os pássaros.
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- Escrito por: Cinthya Nunes
E outro ano chega ao final. Mais do que a simples mudança de um número, é um ciclo que se encerra para que outro se inicie. Não me refiro a mudanças drásticas, aos pensamentos mágicos de que tudo muda com a mera alteração de um dígito no registro da história humana. O fato é que a vida é feita de ciclos. Há o dia de nascer, o tempo de crescer e, em proporções diferentes, o tempo de deixar de existir.
Difícil não me perder em reminiscências nessa época do ano. Vivemos a ilusão de que temos o poder de colocar pontos finais e de inaugurar outros parágrafos, arriscarmos novas histórias. E o paradoxal é que por mais que tudo seja contínuo, também não é. A vida nos conduz e, no desejo de conduzi-la, há distanciamentos e despedidas inevitáveis.
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- Escrito por: Cinthya Nunes
E chegou mais um Natal. Independente da religião professada, eu acredito que a maior parte das famílias brasileiras tenha alguma tradição, algum costume para referida data.
Mesmo quando têm o hábito de não fazer nada de diferente nesse dia, não deixa de ser uma espécie de tradição. Assim, certas pessoas e respectivos grupos familiares possuem tradições mais marcantes, quase seculares, enquanto outras seguem variando conforme a vida se apresenta.
A essa altura já coleciono muitos Natais e embora não me lembre com exatidão de todos eles, guardo lembranças especiais de muitos. Os primeiros Natais dos quais me recordo envolviam bolinhas coloridas e passear pela cidade miniatura do Mário, na cidade de Lins, onde cresci. Encontrar os presentes dispostos embaixo da árvore era sempre um bom motivo para irmos dormir, pois o Papai Noel somente chegava nas casas onde havia o silêncio das crianças obedientes.
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- Escrito por: Cinthya Nunes
Leitor, não se engane. Todo personagem de livro, de série, de qualquer texto, tem inspiração em algo ou em alguém da vida real. Cada vez que nasce um protagonista, um coadjuvante, suas muitas partes já nasceram ou até já morreram no mundo real. E nem daria para ser diferente, porque a gama de possibilidades, a quantidade de tipos reais incríveis me parece ser quase infinita.
Gosto muito de observar as coisas, os lugares e as pessoas. Tento não ser indiscreta e nem parecer especialmente interessada porque para além de evitar possíveis situações embaraçosas, é bom lembrar que esse mundo anda bem esquisito e tudo pode ser interpretado de maneira enviesada. Portanto, do modo como vejo, a observação de pessoas para fins literários e para outros processos criativos é tarefa emocionante, mas permeada por riscos. Para quem se interessar, recomendo cautela.
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- Escrito por: Cinthya Nunes
Quando ele despencou de cima do ar-condicionado, há alguns anos, ao menos uma das vidas ficou pelo caminho, tomando o rumo que os refis de vidas felinas tomam. Arteiro, meu pretinho básico sempre se pareceu com um molequinho, daqueles que surpreendem com feitos imaginários.
Aqui em casa ele já se camuflou de tal forma que a pessoa que deixei tomando conta quando me ausentei por uma semana afirmou categoricamente, muito constrangida, que ele havia sumido, fugido ou evaporado. Depois de enlouquecer procurando o Bento, meu gatinho de seis anos, por quase três dias, ela o encontrou dormindo no sofá da sala, como se nunca tivesse deixado de estar ali.
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A vida é mesmo surpreendente. Algumas coincidências são tão incríveis que é quase impossível reduzi-las a isso. Há quem nem acredite nelas, inclusive. Seja o que forem, deixam muito o que pensar. E foi assim que, nas últimas semanas experenciei um encontro emocionante, mesmo sem saber.
Como relatora do Tribunal de Ética da OAB fui convidada a participar da cerimônia de entrega das carteiras aos mais novos advogados, aqui em São Paulo. Para quem não sabe, trata-se de uma sessão solene, na qual os recém-aprovados na prova da OAB e inscritos na Ordem prestam compromisso de, entre outros deveres, defender a ética e honrar a advocacia. Trata-se de ato imprescindível e personalíssimo. Ou seja, tem que ir pessoalmente caso queira exercer a profissão;
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Se não estou muito cansada, sempre que faço uso de aplicativos de transporte urbano, aproveito para conversar com os motoristas. Eventualmente há alguns que optam por colocar uma música alta, deixando claro que não querem papo furado com passageiro. É preciso, assim, ficar atenta às sutilezas.
Quando, por outro lado, o motorista ou a motorista, porque há mulheres também, ainda que sejam minoria, tem postura que não me agrada, finjo falar ao telefone. Só não finjo dormir, porque, nesses casos, melhor manter os olhos bem abertos. Na semana que passou, precisando voltar para casa após um compromisso no centro de São Paulo, não quis arriscar ir até o metrô e chamei um carro de aplicativo.
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Hoje nem são mais tão populares como eram na minha infância e isso talvez se deva ao preço ou à concorrência com outras mídias, tais como vídeos e jogos de computadores.
Refiro-me aos gibis, revistas em quadrinhos que foram os responsáveis pelo amor que muitas gerações desenvolveram pela leitura.
Não me lembro direito qual foi o primeiro gibi que li, mas acredito que tenha sido algum exemplar do Tio Patinhas, do Pato Donald ou mesmo do Mickey, pois meu avô paterno, embora tivesse pouco estudo, era fã e sempre tinha alguns exemplares em mãos. Na casa dos meus avós maternos também era possível encontrá-los, mas eram de personagens mais antigos, como o Recruta Zero, Fantasma, Gasparzinho, gibis de terror e de faroeste.
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Há alguns dias, aqui em São Paulo, no meio da tarde o céu escureceu. Começou a ventar muito forte e logo raios e trovões dominaram tudo. Trabalhando em casa, corri para fechar janelas e portas, um tanto assustada com a intensidade da chuva. Nem sabia, na hora, que se tratava (segundo li) de um mini ciclone.
A coisa toda não durou meia hora, mas os estragos se projetaram por vários dias e por muitas vidas. Com a força dos ventos quase mil árvores caíram e, em uma cidade onde o cinza luta com o verde, sempre é triste saber de tantas perdas, porque com as árvores também se foram ninhos, sombra e flores.
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Muito curioso o que o tempo vai fazendo conosco. Nem me refiro à questão física e estética, porque isso é assunto para outras reflexões. Quem já tiver vivido algumas décadas provavelmente entenderá melhor, porque é algo que vai acontecendo aos poucos, sem que nos demos conta. Em uma hora qualquer percebemos que não somos mais os mesmos.
E que bom isso, penso eu. Que tragédia seria passar por uma vida como uma linha estática, sem as subidas e descidas do nosso pulsar, no frigir das coisas.
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Quem ama cuida e se preocupa, sempre conhece o ser amado, seja ele gente ou bicho. Só de olhar para algum dos meus animais de estimação eu sei se há algo errado. Registro que sempre estou atenta a qualquer sinal, porque quando um animal adoece, a enfermidade costuma evoluir muito rápido e requer medidas imediatas.
Neste ano, de forma inesperada, tive que fazer uma viagem até a Alemanha. Sem que houvesse qualquer planejamento, lá fui eu viver uma das mais ricas experiências da minha vida. Em algum momento, provavelmente, narrarei sobre minha curta estada em terras germânicas, mas o fato é que tão logo voltei para casa, cansada e ainda perdida pelo fuso de cinco horas de diferença, notei que o Bento, meu gatinho preto, não estava normal.
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E tem histórias que, de tão inusitadas, mais parecem inventadas. Os escritores são devoradores de casos, ladrões de vivências alheias, com dois ouvidos a serviço de certa e inofensiva bisbilhotice. Ré confessa, cronista crônica, não desperdiço uma boa história, ainda mais uma que envolve animais, tema de predileção.
Foi assim que conheci a história do Galo Popó, um garnizé que se considera cachorro e dos bravos. Durante a pandemia, em um dia qualquer, ele apareceu, surgido sabe-se lá de onde, na porta de uma casa, em um condomínio residencial da cidade de Taquaritinga-SP. Sem ideia do que fazer com a ave, uma espécie de pinscher de penas, a dona da casa logo o ofereceu para o menino da casa da frente.
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Sempre gostei de feiras livres. Gosto de andar entre as pessoas, observar as frutas, verduras e legumes frescos, de constatar a variedade de alimentos que podemos consumir de forma saudável. Isso sem dizer que muitas vezes nestes meus vinte e dois anos como cronista encontrei inspiração para novos textos em meio à movimentação das pessoas.
Hoje, inclusive, foi o caso, embora não pelas melhores razões. Gosto de comprar pastel no dia da feira, substituindo o almoço. É uma pequena regalia e exceção calórica a qual me permito em nome de viver uma vida gastronômica transgressora para quem odeia frituras em geral. Assim, aproveito o passeio com as cachorras, já passo na barraca do pastel e encomendo o meu preferido, para ser retirado mais tarde. A família de japoneses e funcionários já me conhece pelo nome e sequer preciso fazer mais do que passar, confirmar o horário e pagar.
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Com sintomas pouco conhecidos, o Brasil está entre os países com maior número de casos no mundo
Popularmente conhecida como Lepra, a Hanseníase é uma doença crônica, causada pela bactéria Mycobacterium lepral e que embora possa atingir qualquer pessoa, vitima sobretudo a população mais vulnerável. Admito que meus conhecimentos sobre a doença eram muito elementares e que desconhecia por completo a sua realidade em números.
Precisei elaborar um trabalho sobre o assunto e, como sempre, lidava com prazos que, por minha conta, estavam muito curtos. Pedi socorro para minha irmã Tricya, porque família sempre se coloca em roubadas, confessando que em três dias precisaria finalizar a pauta. Eu já havia levantado alguns dados, mas ainda faltavam opiniões de especialistas, além de depoimento de algum paciente.
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—Eu tô com esse machucado aqui, ó!
Olhei e não vi nada na perna da minha sobrinha Olívia, de quatro anos, mas ainda assim resolvi perguntar, para dar andamento na conversa:
— Meu Deus! Parece sério. Está doendo? Como você se machucou?
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Acredito que só fui entender o significado da expressão que dá nome a esta crônica bem recentemente. Era comum ouvi-la, quando eu era criança, sempre que alguém, jocosamente, dizia que o filho não dava atenção aos pais, como se fosse filho de chocadeira. Como não tinha a real compreensão do que isso envolvida, eu ria também, até porque, por óbvio, nenhum ser humano nasceria de uma chocadeira.
Hoje essa ideia me causa profunda tristeza. O Criador, seja ele quem for, programou quase todos os nascimentos de modo a que os recém-chegados, gente ou bicho, sejam ajudados, cuidados e/ou amados por aqueles que os trazem a este nosso mundo. Embora haja aqueles que mal nascem e já estão à própria sorte, grande parte das espécies, penso eu, tem ao menos uma mãe.
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Exibido em 1993, o filme Um Dia de Fúria, estrelado pelo excelente Michael Douglas, mostra um dia na vida de um homem perturbado emocionalmente que segue eliminando todos que se colocam no caminho dele. Curioso como alguns filmes e livros marcam nossa memória. Eu, que sou péssima para memorizar títulos, inclusive de livros, por alguma razão nunca me esqueci desse.
Resguardadas as proporções e, claro, a licença poética de um filme que exagera nos fatos (ou não?), creio que a produção tenha como um dos propósitos o de demarcar as fronteiras insólitas entre a sanidade e a insanidade nossa de cada dia. Não raro, inclusive, há notícias sobre pessoas que, rompendo uma aparente e habitual normalidade, explodem em rompantes de violência e vingança. Outras pessoas implodem e fazem a mesma coisa.
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Andando pelas ruas do meu bairro, sigo admirando os muitos ipês que todos os anos dão espetáculos de cores. Bem na rua de casa há um enorme, rosa, que inclusive já foi personagem central de vários textos meus. Na rua de cima, mas no mesmo quarteirão, há dois brancos que costumavam forrar a rua, vestindo-a de noiva, mas que depois de sofrerem uma poda mais radical, embora tenham florescido, ressentiram-se.
Sempre que saio para os curtos e diários passeios com as cachorras nesta época do ano, vou conferindo quais as árvores que mais floresceram. As mais jovens, plantadas há pouco tempo, ainda ensaiam as primeiras floradas, com promessas de futuros bem coloridos. Outros, mais velhos e imponentes, espalham suas flores e sementes de forma abundante, generosa. A árvore de frente a nossa casa, um velho e mirrado ipê amarelo, esforça-se todos os anos para dar algum colorido aos galhos retorcidos e finos, sem muito sucesso.
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Dia desses participei de uma conversa entre professores de Direito, na Universidade em que leciono, para tratarmos de aspectos jurídicos da Inteligência Artificial. Como gosto de tecnologia, já vinha estudando algumas interfaces, mas nada ainda aprofundado. Dei minha pequena contribuição, mas o que ouvi dos meus colegas, confesso, tirou-me ao menos uma noite de sono.
Descobri que a chamada inteligência artificial pode ser do tipo generativa, quando através de conexões assemelhadas àquelas que nosso cérebro faz, vai aprendendo e evoluindo.
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Certa vez uma mulher encontrou a Mentira presa em uma pequena gaiola dourada e mágica. A Verdade, sua meia-irmã, a havia deixado lá, cansada de tanto ser enganada.
A mentira, ardilosa que ela só, tratou de contar uma lorota, implorando para ser libertada. Sabia ser sedutora e usar as palavras certas. Às vezes as pessoas ouvem apenas o que querem.
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Nascido em uma família muito humilde, o menino aprendeu desde muito cedo que de um dia para outro tudo pode mudar. Num instante se tem dinheiro, status social e, no outro, é preciso vender o pão para comprar a farinha que dará lugar ao pão do dia seguinte.
Filho de pais com pouquíssima instrução formal, o menino se transformou no rapaz que usava à quase exaustão o sabonete que desejava fosse perfume. Flertou com a Igreja até o pai lhe explicou o que era celibato. Bom dançarino, contador de histórias, conquistou muitos amigos e logo foi parar no teatro amador, cuja carreira promissora foi trocada pela decisão de constituir uma família.
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Quem escreve nunca sabe ao certo como e se irá tocar as emoções de outras pessoas. O desejo da grande maioria dos escritores, penso eu, é que seus textos sejam lidos. Mesmo que o ato de escrever, em si, seja solitário e tenha por destinatário inicial o próprio escritor, não há escrita que faça sentido na ausência de leitores.
Admito que não me lembro mais de todos os textos que escrevi durante esses mais de vinte e três anos como cronista, mas guardo no melhor lugar de mim as mensagens que recebi ao longo do mesmo período, enviadas por pessoas que os leram.
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A árvore mais parece um ramalhete rosa choque em contraste com o azul do céu. Eu não me canso de admirar o imenso ipê rosa que reina absoluto sobre a rua onde moro. As flores, abundantes, enfeitam o ar em vida e, na morte, colorem o chão, amenizando a feiúra do asfalto.
É inverno, ainda que o frio, neste ano, não esteja muito seguro de si. Vacilante, mal deu as caras. A natureza não segue calendários humanos; somente respira no mesmo ritmo do planeta, no desejo de sobreviver apesar da humanidade. Não há ainda muitas flores, à exceção dos ipês que estão por quase todos os lugares.
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Padarias são lugares afetivos para mim. Assim como fazendas. Na minha infância, esses dois lugares significam família. Passei a infância dividida entre correr descalça pela terra, procurando ninhos e ovos e observar o feitio do pão. De um jeito ou de outro, tudo terminava com bolos de fubá com goiabada ou sonhos com café coado no coador de pano. Sinto saudades, daquelas irremediáveis.
Assim, enquanto não há viagens no tempo, exceto aquelas que fazemos através dos nossos sentimentos, já que não tenho uma fazenda por perto, resgato essas memórias com aquilo que tenho a mão. Não é à toa que vivo cercada de todo tipo de plantas que consigo fazer crescer em vasos e que quase sempre há um pão quente, recém-saído do forno daqui de casa.
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Gosto muito de tirar fotos, hábito que herdei dos meus pais. Desde sempre tivemos máquinas fotográficas em casa, naquele tempo jurássico antes dos celulares e suas câmeras potentes. Naqueles tempos uma boa foto só era conseguida por um golpe de sorte ou porque algum profissional a produzira. Quantas vezes, ao revelarmos as fotos, processo que talvez os mais jovens sequer saibam do que se trata, poucas eram dignas de serem colocadas nos álbuns.
De lá para cá, ainda que as câmeras fotográficas continuem existindo, a maior parte dos fotógrafos amadores faz uso é das câmeras de seus telefones celulares. Hoje é possível testar inúmeras vezes os melhores ângulos, bem como descartar com um clique e sem custos, as dezenas de imagens que não saem como se deseja.
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Perdi uma amiga recentemente. Quase minha vizinha. Passado o susto inicial, embora a tristeza seja uma constante, a família precisou tomar as providências para desocupar o imóvel onde ela morava sozinha, pois era alugado.
Esse especialmente é um dos momentos que considero mais tristes do final de uma existência: o inventário das pequenas coisas. Como advogada sou acostumada com os trâmites legais relativos aos bens de maior valor que as pessoas deixam. Providências legais que precisam ser tomadas, eis que não se leva nada físico deste mundo. Não é a isso que me refiro.
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Aqueles gritinhos soavam meio humanos, mas também pareciam ser de uma ave, mais precisamente o som emitido por papagaios. Fui até a sacada de casa, já com as habituais frutas que coloco à disposição todas as manhãs para as dezenas de maritacas, minhas visitantes constantes, quando ouço a algazarra novamente. Estiquei os olhos e vi, com espanto e alegria, que no telhado da casa da frente, dois papagaios brincavam e conversavam, empoleirados em uma antena.
Encantada, fiquei observando os dois, que me pareceram ser um casal. Depois de conversarem lá na língua deles, foram embora, rasgando o céu de uma manhã nublada e gelada. Seria possível que em plena cidade de São Paulo essas aves tão caçadas, aprisionadas e traficadas vivam livremente? Após as primas menores, as maritacas, devorarem em poucos minutos todas as frutas, tratei de fazer uma busca no google, aquele que tudo sabe.
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Há poucos dias conversávamos sobre a vida, sobre receios do futuro, sobre planos. Trocávamos tintas, cursos online, piadas, reflexões, desabafos e todo tipo de conversa no nosso grupo de três amigas. Uma amizade que surgiu ao acaso, formada pelo fato de sermos vizinhas, moradoras de uma rua de um único quarteirão, na zona sul de São Paulo.
Tivemos nossas diferenças, é claro. Até porque onde há pessoas há divergências. Mas no mais das vezes éramos risadas e cumplicidade, tal qual um grupo de apoio recíproco, cada uma com seus problemas, suas trajetórias de vida, mas sempre sobrando um ombro para suportar o peso alheio.
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Para o escritor holandês Arthur Schendel “a única amizade que vale é a que nasceu sem razão”. Não sei se concordo por completo, mas é incrível como algumas amizades realmente surgem onde menos supomos e como acham caminhos para chegar até nós. Em minha vida tive a alegria de alguns encontros desses, inesperados, de amizades não prováveis ou pensadas, mas que assumiram lugares importantes, indispensáveis.
Hoje mesmo, mudei o tema deste texto por conta de uma amizade dessas. Desde o início da semana eu tinha um assunto em mente, nascido de uma conversa com alunos, em sala de aula. Aliás, perdi as contas de quantos amigos a vida me presentou através do magistério. Nem tenho como nomeá-los aqui, porque nesse espaço não cabe o meu coração e muito menos as histórias que com eles vivi e sigo vivendo.
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—Pode passar na nossa frente. Fica à vontade.
O caixa não era preferencial, mas foi natural cedermos a vez ao homem idoso, de constituição um pouco frágil, que levava nas mãos um vaso de orquídeas amarelas embrulhado em papel de presente.
Por duas vezes ele recusou a gentileza, com um sorriso e um gesto para que retomássemos nosso lugar, mas na terceira, após insistirmos, ele gentilmente aceitou.
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Ela estava miando alto, lá na cozinha, daquele jeito que ela mia quando traz alguma coisa para dentro de casa. A Nina, uma de minhas gatas, frajola marombada que, segundo consta, é mestiça de uma raça de gato gigante, o Maine Coon. A aparência geral e o comportamento correspondem, mas como foi resgatada ainda muito filhote, supostamente de uma criadora ilegal, não temos exatamente como saber. Para nós é uma gigante nanica e ponto final.
Além de tudo é meu grude, aliás, junto com a outra gata frajola, a Chica, e a cachorra preta e branca, a Gigi. Para uma família de Corintianos não fanáticos isso é até engraçado. Para que vocês, leitores, tenham uma ideia do que estou falando, neste exato momento em que escrevo, Gigi e Nina estão no meu colo, uma de cada lado. Gigi porque é uma cachorra que acha que é gente e a Nina, uma gata que acha que é cachorra.
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Eu devia ter cerca de seis ou sete anos quando uma de minhas tias-avós, a Morena, como era conhecida, ensinou-me alguns pontos de bordado livre. Com agulha, linha e um pequeno bastidor, bordei em amarelo as minhas primeiras linhas. Dois anos depois eu me encontrei no tricô e no crochê, hobbys que venho cultivando desde então, deixando o bordado de lado.Quando me mudei para São Paulo, vinda do interior do estado, vendo os lindos trabalhos que a secretaria do escritório em que eu trabalhava bordava em ponto cruz, comprei linhas, tecidos, agulhas e me aventurei novamente, encantada com as formas que iam surgindo através da teia de linhas cruzadas com rigor.
Alguns anos mais tarde, aqui mesmo, na capital paulista, participei de workshops de bordado livre e, para minha surpresa, as salas estavam sempre cheias de alunas jovens, todas empolgadas com suas caixinhas de meadas, tesourinhas especiais e ideias de temas variados. Percebi, já naquela época, coisa de uns doze anos atrás, que tudo na vida é cíclico, inclusive o gosto pelas diversas expressões artísticas.
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Mal o cheiro de pipoca estourando invade a cozinha e ela já se aproxima, mesmo sem ser chamada. Fica por ali, esperando que eu separe a porção dela, sem sal ou outro tempero. Não seria nada demais se a criatura em questão não fosse a Gigi, uma de minhas cachorras. Assim como os humanos da casa, ela é fissurada por pipoca. Bastou que experimentasse uma que pulou, fugitiva, da panela, e nunca mais conseguimos comer pipoca sem que ela ficasse com cara de pidona, com olhar fixo para nossas vasilhas.
Depois de me certificar com o veterinário de que não teria problemas ela comer uma pequena porção uma vez ou outra, já virou rotina o ato de separarmos uma parte, antes de temperar a nossa. Em uma casa de pessoas que amam pipoca, faz todo sentido uma cachorra com a mesma predileção. Ou não faz sentido algum. O fato é gostamos muito de pipoca e milho aqui é gênero de primeira necessidade.
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E às vezes tudo era silêncio. Não aquele tipo de silêncio que é o avesso do barulho, mas o que representa o vazio, a ausência de palavras e de sentimentos. Naqueles momentos ela se deixava estar, parada na mesma velha cadeira de balanço, com os olhos fixos na fotografia amarelada, na imagem presa na moldura já desgastada.
Desde que o filho único partira, meses atrás, ela também se fora, embora tenha ficado. Eram somente os dois havia tempos. Na rotina das horas que agora pareciam curtas demais, ela preparava o café e o pão com manteiga como ele gostava. Planejava os almoços da semana, dando-se ao luxo de algo melhor para os domingos.
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Nem sei ao certo quantos textos já escrevi sobre o sabiá laranjeira, essa ave cantora e símbolo do Brasil. Inspirou compositores e poetas que o eternizaram e o tornaram famoso. E continua sendo fonte de inspiração. Eu mesma, todos os anos dedico ao menos uma crônica para a majestade alada.
Não é uma ave que ostente beleza ímpar, entretanto, vestido de penas marrons e alaranjadas, cor de ferrugem. Parece feito de barro, com olhos meio arregalados, atentos. Notável pelo canto longo, melancólico, aflautado, canta como quem chora de alegria ou ri de tristeza. Seu canto alcança incríveis 70 decibéis e pode ser ouvido em até um quilômetro de distância.
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Antigamente era coisa importante a gente saber qual o talher adequado para se comer determinado alimento ou em que copo tomar cada tipo de bebida. Neste quesito sempre fui uma negação e, creio, a essa altura da vida, devo continuar ignorando tudo isso lindamente. Talvez em certos meios sociais esse conhecimento tenha relevo, mas sendo franca, não me importa muito.
Por outro lado, viver em sociedade requer a adoção de algumas convenções, de regras mínimas para uma convivência civilizada. Do jeito que as coisas são, pode ser que um dia até mesmo pequenas gentilezas como pedir licença e agradecimentos fiquem fora de moda, mas, por ora, ainda demonstram educação e habilidade social.
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A menina, descalça, com os pés encardidos, brinca de pular a sujeira que há na sarjeta. Na calçada, as divisórias do concreto se travestem de amarelinha, mas o céu não se avista nem com os olhos da inocência que lhe resta. Em volta há outras crianças, todas igualmente imundas e maltrapilhas.
Cachorros sem raça definida, de grande porte, amarelos, pretos e rajados dividem a comida que se avista pelo chão ou em vasilhas abertas, expostas às moscas. São animais cujo tamanho sela o destino e a fome. São vigília, afago, companhia e solidão. Um gato ou outro igualmente se vê em meio ao caos, seguros por coleiras que os protegem da falsa liberdade.
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Ele apareceu do nada. Ao menos que eu saiba. Em pleno feriado de Páscoa e ele estava ali na frente de casa, mais especificamente na janela da sala. Enorme, cor de caramelo, o caramujo parecia um personagem de livro infantil, daqueles ilustrados. Particularmente, acho bonitos, parecidos com seres de outros mundos.
Olhei para todos os lados, no desejo de saber se ele estaria sozinho ou acompanhado de outros da mesma espécie, mas em princípio era uma criatura solitária, do tipo que carrega a casa nas costas. Tirei fotos para registrar o inusitado dele ter aparecido aqui, nesta rua sem terra ou jardins, repletas de casinhas antigas. Como gosto de dar nomes a quase tudo e na impossibilidade de conferir meu acerto, eu o chamei de Tenório. Algum motivo para isso? Na verdade, nenhum. Apenas ele tinha uma carinha boa de Tenório e assim ficou.
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Para a tradição Cristã, dentro dos meus parcos conhecimentos sobre o assunto, Páscoa é tempo de renascimento, de reinício. De origem hebraica, a palavra Páscoa (Pessach) significa passagem. Em termos festivos, no Brasil, é tempo das pessoas se reunirem em família ou entre amigos, aproveitando o descanso do feriado para confraternizações e alimentos especialmente preparados para a data, conforme as tradições religiosas, familiares e culturais de cada grupo.
A vida em sociedade é formada por uma teia muito complexa, ainda não desvendada por completo. Aliás, suspeito, nem minimamente. Fato é que por mais que eu leia e estude sobre o assunto, não consigo entender o que leva as pessoas a cometer barbaridades, a praticar crueldades contra animais, contra outros seres humanos, especialmente contra crianças.
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—Que cores você vê quando olha para cima, para o céu?
—Azul? Cinza? Sei lá.
—Quase isso! Parece cinza, mas é um cinza ótico, formado por várias outras cores que, juntas, formam esse tom. Mas olha direito que você ainda é capaz de encontrar essas outras cores lá no meio.
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Quando ela chegasse traria biscoito com mel, certeza. Não falhava nunca e ela sabia qual era o mais gostoso. Aqueles com buraquinho no meio eram os melhores, mas o mel escorria por ali. Mamãe sabe dos meus gostos e trará os quadradinhos, perfeitos no sabor também. Ela estava demorando um pouco para vir dessa vez. Preferia não chorar na frente dela, mas às vezes não conseguia ser sempre um bom menino.
Assim que Helena entrou no quarto, a passos lentos e cansados, carregando a velha bolsa com biscoitos, o sorriso de João se abriu, sem dentes. Era até engraçado vê-lo esticar os braços na direção dela, incapaz de sair da cadeira de rodas, pedindo colo, mas aquela imagem só despertava nela uma tristeza imensa.
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Tomei um susto enorme ao vê-la ali no chão, inerte, enorme. A ratazana jazia ao lado de uma das composteiras da praça. Marrom e cinza, parecia morta havia poucas horas, talvez na noite anterior. Minha primeira reação foi de asco, porque somos criados sob o conceito de que os ratos urbanos são sujos e transmitem doenças. Classificados como pragas, devem ser exterminados.
Não estou afirmando que devemos colocar os ratos para dentro de nossas casas, tampouco que não haja questões de saúde publica envolvidas, mas não consigo deixar de pensar que é paradoxal que os ratinhos de desenhos sejam tão adorados no universo infantil, haja vista o símbolo do maior e mais famoso parque de diversões do mundo, mas que sejam presenças reais tão abomináveis.
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- Escrito por: Cinthya Nunes
Coleciono manias. Todas inofensivas, entretanto. Ao menos, creio, a quase totalidade delas. Entre outras coisas, gosto de guardar as sementes das frutas que como. Separo, deixo secar por algum tempo e depois espalho por aí. A maior parte, vou enfiando nos vasos que lotam meu pouco espaço aberto.
Aprendi com meus avós a identificar muitas plantas pelo cheiro de suas folhas ligeiramente maceradas. As mais comuns eu conheço pelo formato do tronco e das folhas, como mangueiras, ameixeiras, pitangueiras, amoreiras, limoeiros, laranjeiras etc. Vez ou outra, no entanto, fico com dúvidas sobre a natureza do que nasce nos vasos, porque os pássaros também semeiam por essas bandas, como o trigo sarraceno que apareceu sabe-se-lá-de-onde.
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Sempre me prometi que não seria daquelas mulheres que escondem a idade, mas a cada virada de década fui tomada por diferentes sentimentos. Quando trintei, ao me tornar balzaquiana, vivi os pequenos conflitos de deixar a tenra juventude, de dizer adeus aos dourados e promissores vinte. Ao fazer quarenta anos, fiquei inconformada por estar na chamada meia idade, uma espécie de limbo onde ficam todos que não são mais considerados jovens, mas ainda não são velhos. Como disse um comediante, uma semi-velha.
Embora eu viva sob o mantra de que habitarei esse mundo por muito tempo, nunca realizei que um dia faria cinquenta anos. Era como aqueles momentos que pensamos jamais se concretizarem para além do futuro, num tempo de porvir eterno. Até ontem eram os meus pais, meus professores e amigos mais velhos que eram cinquentões, mas a roda girou e, cinco piscadelas depois, chegou a minha vez.
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- Escrito por: Cinthya Nunes
Considero-me uma tia realizada. Minhas irmãs me proporcionam a alegria de conviver com quatro sobrinhos maravilhosos, protagonistas de momentos hilários e emocionantes da minha vida. Coleciono fotos de todos os sorrisos e caretas que posso captar nos momentos em que estamos juntos. Graças a eles e a uma quase (?) obsessão que tenho pelos meus pets, já são mais de doze mil fotos no meu celular.
De idades que variam de dezesseis a três anos, experimento com eles emoções que sequer sei transpor para o papel. É claro que ninguém é perfeito e todos temos nossos defeitos, mas seleciono guardar deles apenas as boas lembranças, os abraços mais carinhosos, os risos mais frouxos e as conversas mais malucas. Muitas vezes, no meio deles, sinto-me entre iguais.
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- Escrito por: Cinthya Nunes
E depois da Covid-19, da guerra na Ucrânia, das eleições brasileiras, da crise econômica e de mais tantas outras coisas, agora, se não bastasse, parece que os extraterrestres resolveram dar as caras. Pois é, não está sendo fácil, como já dizia a cantora Kátia, lá entre os anos 80 e 90. E ao que indica, se não piorar, pode ficar bem curioso, para dizer o mínimo.
Sempre acreditei em vida fora do nosso planeta, a propósito. Tantas estrelas por aí e só aqui teria sido o local mais votado para colonização/infestação? Acho bem pouco provável. Se for isso, por outro lado, além de ser um desperdício, ainda é lamentável. Sem dizer que considerar o ser humano a última bolacha do pacote me parece nada humilde de nossa parte.
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- Escrito por: Cinthya Nunes
Aprender sempre. Esse é um lema que adotei para minha vida. Apesar de alguns pesares, o mundo é um lugar incrível e a vida é uma experiência imperdível. Certo porém que algumas pessoas, por razões que as religiões buscam explicar, enquanto outros julgam se tratar de pura sorte (ou falta dela), experimentam vidas com muito mais sofrimento do que os demais.
Em termos bem leigos, a história é relato do aprendizado contínuo. Todos os dias há coisas novas a saber, tecnologias que surgem, métodos antigos a serem redescobertos. Simplesmente isso tudo me encanta e apenas lamento o tempo passar tão rápido enquanto ainda há tanto a descobrir.
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- Escrito por: Cinthya Nunes
Nem fazia ideia de que existia um elemento com esse nome, mas descobri que um casal pode completar Bodas de Antimônio. Procurei naquele que socorre todos os ignorantes, o Google, e a definição de antimônio em nada me esclareceu. Conforme disponível na página Brasil Escola: “O antimônio, símbolo Sb e número atômico 51, é um elemento químico pertencente ao Grupo 15 (grupo do nitrogênio) da Tabela Periódica.”
Não sei vocês, mas eu não conseguiria identificar se visse um antimônio por aí só com esses dados. Li também que já foi considerado um semimetal, mas agora é classificado como metal. Taí outra coisa que eu não sabia: que existia semimetal! Ou a tabela periódica da minha época era diferente ou eu que já não me lembro mais de quase nada. Talvez as duas hipóteses.
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Delícia que era pegar a lista de materiais para descobrir quais seriam as novidades daquele ano escolar. No começo era a emoção de uma lancheira ou um estojo novo. Uma tesourinha sem pontas era fundamental. Além disso, escolhíamos o papel com o qual encaparíamos os cadernos brochuras das primeiras séries do ensino fundamental que, inclusive, na minha época sequer se chamava assim.
Não importava em que estado estivessem os usados no ano anterior, eu sempre ansiava por uma nova caixa de lápis de cor, daquelas com vinte e quatro ou trinta e seis cores, da Faber Castel. Tinham também os livros didáticos, os quais eu sempre achava bonitos, mesmo que fossem de matemática, disciplina para a qual, sem qualquer dúvida, eu jamais tive pendor. Gostava era das capas, da promessa de conhecimento e, acima de tudo, do cheiro.
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- Escrito por: Cinthya Nunes
Não faz muito tempo que eu aprendi a conjugar o verbo procrastinar. Acho que passei a maior parte da vida procrastinando, mas sem nomear corretamente minha atitude. De alguns hábitos, no entanto, a gente não se livra ou ao menos, não impunemente.
Desconheço o momento em que comecei a deixar as coisas para última hora, vivendo perigosamente, porque eu me lembro de que nos primeiros anos escolares, preferia fazer as tarefas logo após as aulas, tudo para ficar com o restante do tempo livre. Em algum momento, entretanto, mudei alguma chave interna e passei a inverter a ordem das coisas.
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- Escrito por: Cinthya Nunes
Alguns textos atrás eu contei aqui sobre a saga das lagartas. Encontradas no meu pequeno limoeiro, colocadas em um vidro e alimentadas às custas de muita cara de pau que tive que vestir para conseguir, aqui e ali, folhas tenras de laranjeiras e limoeiros menos frágeis do que o meu.
No começo eram quatorze, mas um dia empurraram a tampa do pote, que era repleto de largos furos para entrada de ar e quando me dei conta estavam passeando pelos azulejos da minha cozinha. Treze foram colocadas de volta e da outra nunca mais tive notícia ou vi vestígios.
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Argélio fez planos durante todo o ano. Comprou um calendário próprio para registrar os projetos futuros, porque um novo período requer planejamento e ele definidamente era um homem que apreciava metas traçadas e objetivos a cumprir. O caos não lhe pertencia e nem o seduzia.
Classificava os propósitos de acordo com as prioridades. Havia cores para destacar as urgências, as necessidades, as utilidades e até mesmo as esperanças. Era importante, ainda, conforme suas crenças, que os meses tivessem equilíbrio, com doses adequadas de desafios e de comodidades. A vida era bem mais fácil assim, em categorias.
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Talvez a religião que você professe, leitor, não envolva a tradição do Natal ou talvez você simplesmente tenha suas outras razões para não comemorar tal data. Em verdade, pouco importa para o que vim lhe dizer. Sim, porque ainda que você esteja lendo e eu, do lado de cá, escrevendo, é um monólogo que travo com a tela em branco, mas que dirijo a quem quer que por aqui esteja.
É claro que a simples mudança de um dígito no calendário não tem o poder de mudar nossos destinos ou de resolver as nossas pendências. Eventualmente, para a numerologia ou outras áreas pode ser determinante. Não sei. Mas acredito que somos criaturas cíclicas. Vamos abrindo e fechando ciclos enquanto podemos. E se não fazemos isso de modo consciente, a cada dia me convenço de que deveríamos fazê-lo.
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Sempre soube que dentro de mim habita uma cientista maluca. O tempo passa e essa minha outra persona não se retira e tampouco perde a curiosidade sobre todas as coisas. Embora eu goste muito do Direito, uma das minhas opções de profissão era a biologia. Criei lagartas de bicho da seda, além de besouros de várias espécies. Gostava de cavar a terra úmida para de lá retirar minhocas e todo tipo de microfauna que eu encontrasse.
Ainda sou fascinada pelo mundo em miniatura, que se move longe do alcance dos olhos e, não raras vezes, de nossas percepções e empatia. Tenho minhocário, abelhas, hotel para abelhas solitárias e, recentemente criei joaninhas. Gosto de insetos, de um modo geral, à exceção de baratas, moscas e pernilongos, o que, penso, é compreensível.
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- Escrito por: Cinthya Nunes
E no começo deste mês elas apareceram, em bando. De repente, na entrada da churrasqueira aqui de casa, surgiu um enxame de abelhas. Sei identificar pouquíssimas abelhas, mas ainda assim pelos nomes populares. Descobri, estudando um pouco o tema, que são muitas as espécies de abelhas nativas sem ferrão, com subcategorias inclusive. De todo modo aquelas abelhinhas me remetiam à velhas conhecidas da infância, as tais abelhas que enroscam no cabelo.
Vieram em um sábado qualquer, sem avisar e tomaram conta do lugar. Eram muitas mesmo e, preocupada como sou com as abelhas, não queria que se aninhassem ali, porque por certo morreriam se precisássemos usar a grelha. Saí em busca de todos meus contatos de conhecedores do assunto, os meliponicultores, para saber como proceder.
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- Escrito por: Cinthya Nunes
Assim que o grito de gol se fez presente na sala improvisada, o cachorrinho se assustou e fez xixi. Depois de tranquilizarmos o pobrezinho, todos passaram a torcer com mais parcimônia. Na verdade, nem houve muito o que fazer nesse sentido, já que o jogo todo teve apenas um único gol.
Dada como sou a viagens mentais pelo tempo, logo me lembrei de outras Copas do Mundo. Minhas primeiras lembranças remetem à adolescência. Vestidos com camisas amarelas, assistíamos aos jogos reunidos com amigos, em rodízio de casas. Pintávamos as unhas também com as cores da bandeira brasileira e, além de assistirmos aos chutes alheios, arriscávamos olhares furtivos para os meninos, com o coração batendo um bolão.
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- Escrito por: Cinthya Nunes
Creio que já devo ter escrito quase uma dezena de textos sobre meus gatos e, lamento informar, muito provavelmente este não será o último. É que a coisa toda que envolve os gatos é um mistério. Em um dia você não tem gato nenhum e no outro já tem cinco. O fato é que somente quem vive com gatos sabe a que me refiro. Desconfio que os gatos sejam hipnotistas e que dominam nossa mente inferior com simples balançar de seus bigodes.
Eu caí nesse golpe felino meio que por acaso. Ou talvez não. Sei lá. Há sete anos eu ofereci lar temporário para um filhote encontrado vagando em um bairro de São Paulo, mas foi um caso de amor (ou dominação?) e a Chica inaugurou a dinastia dos gatos da minha vida.