Depois de procurar o livro em todos os sites que conheço, inclusive nos de livros usados, cheguei à conclusão de que estava esgotado. Comentando sobre o fato com o professor que me indicara a obra, recebi dele a sugestão de procurar em uma biblioteca pública. Parei uns minutos para pensar, com certo estranhamento, porque nem me lembrava mais da última vez que eu estivera em uma.
Lembrei-me quase no mesmo instante de que aqui bem perto da minha casa havia uma, ao menos eu passara lá em frente várias vezes e, exceto se tivesse sido desativada, talvez eu pudesse encontrar o livro infantil que não havia sido capaz de encontrar para comprar.
Antes de me aventurar, contudo, pesquisei pela internet e descobri que a biblioteca continuava lá e, consultando o acervo de modo digital, vi que o livro que eu procurava também estava disponível para empréstimo. Conferi a lista de documentos para fazer meu cadastro e em poucos minutos de caminhada eu cheguei até a Biblioteca Viriato Corrêa.
Instalada no bairro da Vila Mariana desde 1965, na Rua Sena Madureira, a biblioteca de acervo voltado para literatura fantástica foi inaugurada em 1952, no mesmo bairro, porém em outra rua, a Domingos de Morais. O prédio atual, de arquitetura diferenciada, tem um interior amplo, arejado e moderno. Contudo, ainda assim, entrar lá foi como me transportar para o passado, no tempo em que as bibliotecas eram meus lugares favoritos no fundo.
Lembrei-me automaticamente das apertadas bibliotecas das escolas onde estudei e até de uma bibliotecária que causava medo em qualquer um que atrasasse a devolução de alguma obra emprestada. Bronca e multa eram irmãs gêmeas que eram entregues por uma mulher de aparência amedrontadora. Mas ainda assim eu me arriscava pelas prateleiras em busca de descobrir livros novos, de preparar-me para as leituras de férias.
Foi uma surpresa encontrar um ambiente tão agradável, com funcionários educados, prestativos e perceber que um universo novo de possibilidades se abria para mim, sobretudo porque, em algum lugar de mim, eu julgava que essas bibliotecas públicas sequer existiam mais, nem que eram frequentadas por pessoas de idades e interesse variados. Nem sei de onde me veio esse equívoco, mas nunca gostei tanto de estar enganada.
Procurando saber mais sobre a história do lugar, descobri que o patrono do local e que lhe dá nome, Viriato Corrêa, um maranhense nascido em 1884, era meu colega de profissão, formando-se em Direito no Recife e que foi membro da Academia Brasileira de Letras, tendo publicado vários livros, entre eles o romance Cazuza, que é considerado um dos maiores clássicos da literatura infantil brasileira.
Virei fã, literalmente de carteirinha, da referida biblioteca, sendo cinco os livros que peguei emprestado, tendo outros tantos já na mira para assim que devolver esses aqui. Por via das dúvidas prefiro não atrasar a devolução, porque nunca se sabe se aquela bibliotecária das bibliotecas do meu passado não está por lá, à espreita, pronta para me tacar um carimbo vermelho e me lançar um pouco de pó de livros velhos, repletos de ácaros.