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margaridas

A árvore mais parece um ramalhete rosa choque em contraste com o azul do céu. Eu não me canso de admirar o imenso ipê rosa que reina absoluto sobre a rua onde moro. As flores, abundantes, enfeitam o ar em vida e, na morte, colorem o chão, amenizando a feiúra do asfalto.

É inverno, ainda que o frio, neste ano, não esteja muito seguro de si. Vacilante, mal deu as caras. A natureza não segue calendários humanos; somente respira no mesmo ritmo do planeta, no desejo de sobreviver apesar da humanidade. Não há ainda muitas flores, à exceção dos ipês que estão por quase todos os lugares.

Tenho fascínio por flores e gosto de retratá-las em fotos, em pinturas e em palavras. Não sei em que ponto a vida das pessoas e das flores se misturou emocionalmente, mas elas nos acompanham na chegada e na saída desta jornada. Pelo meio, se temos sorte, também ganhamos flores de quem nos quer bem, de que nos deseja.

Conheço pessoas que são como flores, sempre enfeitando a vida alheia, além da própria. Gente que é flor, que espalha beleza, cor e alegria por onde passa, que tem perfume na alma.

Há amigos que são sempre luz em nossas escuridões, que dão conforto aos nossos corações e curvas aos nossos sorrisos. Aquelas pessoas que a gente fica sempre feliz em encontrar, que tornam família um conceito mais abrangente. É gente flor, que muda a paisagem mesmo quando tudo é cinza.

Há dias comprei flores brancas na feira livre perto de casa. Um pequeno ramalhete de margaridas, flores que, na minha infância, nasciam livres no jardim. Dentro de um vaso de vidro, na água, mantiveram-se vivas e intactas por mais de uma semana. E eu, que nem gosto de flores cortadas, rompidas com o verde, olhei para elas todos os dias, em memória de uma perda recente.

Pelas ruas, em meio ao que antes eu chamava de mato, hoje identifico dentes-de-leão, pequenas, amarelas e tão importantes para a microfauna composta de insetos variados. Há flores por todos os lados, em verdade. Basta saber procurar por elas. Assim também as pessoas são, embora nem sempre as saibamos reconhecer em meio ao que nos parece erva daninha. Há quem prefira as flores de plástico, porque relacionamentos de verdade correm risco e exigem atenção.

Cultivo flores porque quero as abelhas, porque acredito que para florescer é preciso também preparar canteiros, acreditar na força da vida que vence os desafios, as dores, por vezes em forma de pétalas, outras vezes através de ombros amigos.

Cinthya Nunes é jornalista, advogada, professora universitária e vê flores por todos os lados– Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo./www.escriturices.com.br