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professor universidade

Quase fim do semestre letivo e quem é professor bem sabe que essa é uma época complicada. Nestes meus vinte e cinco anos como professora universitária já posso dizer que vi e ouvi muita coisa, mas sem dúvida alguma os finais de semestre são sempre os períodos nos quais a criatividade dos alunos fica especialmente aflorada e quando até pequenos “milagres” acontecem.

Preciso ressaltar que gosto muito da docência e que, no fim das contas, acho até engraçadas as histórias que sigo quase colecionando na memória. Claro também que o professor, esse bravo e impávido guerreiro, tem seus perrengues pessoais, os quais podem se agravar diante de posturas indevidas de alunos, então é necessário pensar que em alguns momentos o aluno tem lá sua razão.

Dito isso e relevadas as situações reais e lamentáveis de problemas de saúde, de contextos familiares ou outros tantos possíveis problemas reais, é curioso constatar o quanto alguns alunos enfeitam e criam realidades paralelas que justifiquem suas dezenas de faltas e notas baixas.

Há vários anos, quando coordenava um curso de Direito, recebi um aluno que havia meses não aparecia nas aulas e que já estava reprovado por faltas. Apareceu com uma caixa de bombons e depois de alguns elogios a minha pessoa, devendo o leitor ter ciência de que eu era jovem à época, justificou o sumiço porque estava com dúvidas se seguia o curso de Direito ou se largava tudo para tentar a Medicina. Eu disse a ele que entendia o dilema e de fato entendia, mas que nem por isso poderia compensar as faltas, mesmo diante da então recém-chegada conclusão de que queria ser juiz.

Assustadoramente irritado, ele se levantou, dizendo que iria pedir transferência, que aquilo era um absurdo e que um dia ele seria juiz e que provavelmente nos encontraríamos em alguma audiência. Pegou de volta a caixa de bombons que eu supusera ser para mim e se foi. Nunca mais o vi, mas ele acertou ao afirmar, antes de sair, que dele eu haveria de me lembrar para sempre.

De volta ao tempo presente, aparece-me um aluno na sala virtual, dizendo que gostava demais de mim, que eu era ótima pelo tanto que ajudava aos alunos. Curiosamente era dia de prova e eu nunca o vira até aquele momento. Tentei disfarçar minha irritação diante da evidente bajulação, até que ele me disse que eu precisava entender que ele tinha sérias dificuldades para articular e concatenar as palavras. Respondi que em se tratando de um aluno do último semestre do curso isso era um pouco estranho, até porque ele teria que enfrentar a prova da OAB. A “conversa” acabou com ele dizendo que eu não tinha o direito de afirmar que ele nunca passaria na dita prova. Hein?! Depois ainda perguntam se professor só dá aula ou também trabalha.

Só a vocação salva.

Cinthya Nunes é jornalista, advogada, professora universitária e talvez um dia publique suas memórias universitárias – Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo. /www.escriturices.com.br