images/imagens/top_2-1-1024x333.jpg

Lavc53.13.0

Depois de semanas de muita seca, em um ano sem estações marcadas, sem outono, inverno ou primavera, o verão já ameaça chegar antes da hora, com chuvas e vendavais, causando estragos. A falta de manutenção de árvores, de poda adequada, monitoramento de pragas, plantio de espécies próprias para os centros urbanos e mesmo o vandalismo humano, tudo contribui para que, diante de chuvas mais intensas, centenas de árvores venham abaixo.

Lamentavelmente as cenas se repetem em todo país. O descaso com o meio ambiente chega a ser criminoso, além de muito triste. Enquanto isso, quando escrevo, outubro de 2024, a Prefeitura de São Paulo segue com um projeto, havia anos engavetado, para construção de um túnel na zona sul da cidade e que, para além de implicar no corte de centenas de árvores, já provocou a concretagem da nascente de um rio e do corte de árvores centenárias ou quase centenárias.

Complicado até escrever sobre isso, ainda mais no meu caso, eis que me esquivo de discussões políticas públicas. Tenho, por óbvio, minhas convicções, mas até por respeito às convicções dos leitores, optei por não fazer deste espaço, palanque para embates de ideologias políticas. Sei, entretanto, que serei julgada por isso, mas, sinceramente, CADA UM PENSE O QUE QUISER. Depois de um tempo na vida, a gente se permite escrever as coisas em caixa alta.

Assim, questões partidárias à parte, estou indignada com referido projeto que, a meu ver, não considerou, verdadeiramente, o impacto ambiental e nem mesmo social. Percebo que quando de se trata do corte de árvores, muita gente não se importa e eu me pergunto se isso se deve à ignorância ou à falta de empatia. De fato, nem consigo entender. No caso do indefectível túnel, no entanto, a população do entorno se revoltou.

Em ano de eleições municipais, entretanto, é claro que há pessoas que se aproveitam de toda e qualquer oportunidade para autopromoção, mas, no presente caso, toda e qualquer ajuda em prol do meio ambiente foi e é bem-vinda. Admito que sinto reacender em mim a centelha da esperança de que a união das pessoas por boas causas seja possível. Por outro lado, não tenho as mesmas esperanças quanto ao resultado.

Foram feitas tentativas de diálogos com as autoridades para discussão sobre a obra, mas nada muito frutífero. Assim, as pessoas saíram às ruas, fizeram protestos, se mobilizaram e ainda estão lutando, inclusive judicialmente, para que as árvores sejam salvas, entre outras questões importantes, de cunho social envolvidas, sejam tratadas da forma adequada.

Conversar com outras tantas pessoas que também pensam nas árvores como seres vivos, como moradia de pequenos animais e insetos, como fonte de vida para as pessoas, é reconfortante. Tenho lutado em conjunto, não por um ou por outro candidato, mas pelo meio ambiente, pelo verde que, dia após dia, de forma direta ou velada, vai abandonando os bairros, as cidades, o país. Ainda não é tarde demais, mas logo poderá ser.

Assim, quando as chuvas chegam, mesmo durante as estações amalucadas, arrancando outras tantas árvores, vitimando pessoas, animais, casas, deixando tantos sem energia por dias, como tem acontecido aqui, não se pode culpar o clima, tão somente. Não podemos nos iludir. De uma forma ou de outra, todos haveremos de pagar pelas tantas violações ao meio ambiente, seja por parte do poder público, seja pelos particulares. Sim meu “amigo”, a árvore que você corta por não querer folhas na sua calçada ou para que seu terreno possa ser comprado por uma construtora, também importa.

Resta a tênue esperança, mesmo diante de tantas violações, de que algumas vitórias venham, construindo um caminho pelo qual futuras gerações se animem a trilhar em prol de um mundo melhor e menos cinza, no qual o dinheiro não seja o único pêndulo da balança.

Cinthya Nunes é jornalista, advogada, professora universitária e lamenta cada árvore que vai ao chão – Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo./www.escriturices.com.br