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adeus

Há poucos dias fui surpreendida com a triste notícia do falecimento do Prof. Celso Sisto. Eu estava conferindo as notificações do WhatsApp e vi que em um dos muitos grupos dos quais faço parte, várias estavam chegando. Embora a oficina de escrita para crianças já tivesse se findado há alguns meses, criamos outro grupo, agora sem o professor, para prosseguirmos trocando ideias sobre nossas iniciativas e conquistas na área. Fiquei sem acreditar quando li: “Meninas, por favor, me digam que é mentira que o Celso faleceu!”

Durante os primeiros meses da pandemia, diante de todo aquele contexto e de algumas questões profissionais pessoais, resolvi encarar um curso de um ano e meio, online, de Formação de Escritores. E foi durante o curso que tive a oportunidade de fazer um módulo de escrita para crianças, ministrado pelo Celso. Gostei de cara. Comprei livros escritos por ele e passei a segui-lo nas redes sociais. Descobri que, multifacetado, ele misturava artesanato, sobretudo bordado, com literatura e ministrava oficinais sobre o melhor dos dois mundos.

Durante mais de um ano eu tentei me matricular em uma delas, mas sempre colidiam com meu horário de aula. Neste começo de ano, porém, mesmo em meio a alguns furacões, decidi que faria uma das oficinas. Tendo por base as obras de Road Dahl, o autor de A Fantástica Fábrica de Chocolate, entre outros grandes sucessos mundiais da literatura infanto-juvenil, as aulas eram às quartas, a partir das sete da noite.

A turma, formada por doze alunas e o professor, tinha o desafio de, a partir de uma imagem, escrever um livro para crianças. Um mês depois do curso iniciado e uma de minhas aulas do doutorado foi fixada no mesmo dia. Doida, fiz as duas ao mesmo tempo, com um fone de ouvido e uma tela para cada uma, priorizando os momentos mais importantes em cada uma.

Admito que em alguns momentos cheguei a pensar em parar a Oficina. Primeiro porque várias questões pessoais me atingiam em cheio, mas também porque eu sabia que não era capaz de dedicar totalmente, dividida em partes de atenção. Mas havia uma outra questão: o professor.

Celso era exigente. Quando não gostava de alguma ideia ou texto, nem conseguia disfarçar. Às vezes, inclusive, parecia rude. Eu estava fragilizada e por mais que tivesse esperado tanto para estar ali, tive vontade de sumir. Mas fiquei, decidida a fazer melhor, a criar um universo dentro de uma história que iria sair de mim a todo custo e que pudesse não somente agradar ao professor, mas a mim mesma.

No último dia do curso, na data do encerramento, onde cada um iria dar o seu feedback, inclusive sobre a Oficina em si, não pude conectar, eis que dentro de um avião. Deixei minhas impressões com uma amiga, agradecendo ao professor por tirar o melhor de mim, mas também dizendo que o achava um pouco bravo demais em alguns momentos.

Na viagem, enquanto passava por uma rua com muitas lojas, vi um lindo dedal de porcelana e comentei com a minha irmã que ele, Celso, fazia coleção deles. Acabei comprando um e, assim que retornei ao Brasil, enviei para ele, feliz por fazê-lo. Minha irmã, na oportunidade, disse-me que talvez eu me arrependesse se não o fizesse.

Nunca poderia imaginar que, meses depois, ele, que era ator, escritor, contador de histórias, artesão, compositor, entre outras tantas habilidades, cheio de planos de novos cursos, festas, projetos, repleto de tanta vida, partiria aos 63 anos, fulminado por um ataque cardíaco. Um fechar de cortinas, um final dramático para uma vida gigante de predicados. A morte não o torna perfeito, mas relembra que os méritos e talentos eram maiores do que as pequenezas.

Fica aqui minha singela homenagem, meu registro da brevidade a que todos estamos sujeitos, mas que ignoramos em prol da esperança. Sinto muito mesmo pela partida repentina, precoce diante dos nossos olhos. Resta para mim a lembrança da fala: “Cinthya, simplifique seu texto, sua linguagem”. Desculpa professor, hoje, uma vez mais, acho que não consegui, mas seguirei tentando, enquanto a existência me permitir, em sua homenagem.

Cinthya Nunes é jornalista, advogada, professora universitária e lamenta a morte do Prof. Celso Sisto, um mestre da escrita – Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo./www.escriturices.com.br