Mais de quinze anos morando perto e só recentemente fui conhecer o Planeta Inseto, integrante do Museu do Instituto Biológico. O local fica em um canto verde, muito arborizado, na região centro-sul da cidade de São Paulo e é considerado o único jardim zoológico de insetos do Brasil e da América Latina, sendo autorizado pelo IBAMA e pela Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo.
A exposição é muito interessante, um passeio enriquecedor para todos que admiram o mundo em miniatura. É possível conferir a corrida da Baratas, por exemplo, além de conferir o interior de formigueiros, encantar-se como o mimetismo do bicho-pau e até bisbilhotar o que acontece dentro de uma colmeia.
Em uma das salas do Museu eu “reencontrei” umas criaturinhas que fizeram parte da minha infância e logo fui observá-las mais de perto. As lagartas do bicho-da-seda, branquinhas, tão macias e frias como eu me lembrava, estavam em uma bandeja forrada de folhas de amora, seu alimento natural.
Ganhei uma caixa delas quando era criança, dadas a mim por um expositor de uma feira anual, na cidade de Lins. Depois de ir durante vários dias observá-las e segurá-las nas mãos, encantada que eu estava, o senhor que as expunha resolveu me presentar com elas, dando-me também instruções de como cuidar delas, já que na época não havia internet para fazer isso.
Alimentei-as, deixei que fizessem seus casulos e de lá saíssem felizes para escolherem um parceiro e colocar seus ovos. Quando eu soube que para se tirar a seda era necessário cozinhá-las vivas, decidi, sem grande dificuldade, que o fio de seda de nada me valia em comparação à experiência de acompanhar o ciclo de vida delas.
Lá no Museu, no entanto, soube que o bicho-da-seda, inseto que foi trazido da China para o Brasil durante o reinado de D. Pedro I, inicialmente para o Estado do Rio de Janeiro, muito provavelmente nem exista mais no meio ambiente de forma livre, pois foi domesticado pelo homem.
Prisioneiras desde o nascimento, comem em confinamento enquanto são lagartas e depois são direcionadas para os locais onde construirão os casulos, dentro dos quais somente as novas matrizes sairão, eis que as outras serão torradas ainda vivas para depois dos casulos desfeitos em fio único, se transformarem em ração para peixes.
Segundo minhas pesquisas rápidas, as mariposas do bicho-da-seda não conseguem mais voar em decorrência do processo de domesticação imposto pela produção da seda.
Embora os dados que encontrei na internet variem um pouco, para cada quilo de seda bruta é necessário em torno de 500 a 800 casulos, o que além de tornar a seda um produto caro, ainda é no mínimo um processo questionável eticamente.
Lembrei-me dos meus que, mesmo sem voar, foram livres para acasalar com o parceiro que quiseram e morreram quando a natureza quis, sem que houvesse qualquer intervenção de minha parte. Restou-me, do passeio, a convicção já antiga em mim de que escravidão é abominável e deveria ser banida para sempre, pouco importando quem é o algoz ou quem são os cativos.