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estacoes

Que o tempo mudou geral isso ninguém duvida. O mundo endoidou em todos os sentidos, das doidices boas e das ruins. Porque há sim doidices que são muito legais e que nos mostram que estamos no meio da evolução, da história, expectadores e protagonistas das mudanças, assim como há as péssimas, as quais nem preciso detalhar, eis que são notórias.

Assim me parece o clima, que pirou geral. É quase consenso, pelo que leio, de que é culpa dos seres humanos e de tudo o que temos feito de mal ao nosso planeta. Há ainda quem diga que temos culpa, mas que não somos os únicos responsáveis por essa bagunça, já que na época dos dinossauros nós nem estávamos por aqui e olha lá o que aconteceu com os lagartões. Enfim, sei lá.

Só sei que sinto falta de quando tínhamos as quatro estações. Uma chegava e a outra ia embora. Apreciávamos o calor, embalados a sorvete e roupas leves durante os verões.

Observávamos o céu muito azul que era temperado pelo vento fresco nos outonos. Vinha o frio e com ele as cobertas, as sopas, a preguiça de sair de casa e o chuveiro que nunca esquentava. Tudo para que depois agradecemos à primavera pelas flores e por nos trazer de volta um princípio de calor novamente.

É claro ainda que tudo dependia do lugar em que vivêssemos, da cidade, do estado, do país. Mas a coisa era ao menos mais certa. A gente quase sempre sabia o que esperar.

Agora, porém, é tudo aleatório. As estações estão marcadas no calendário, mas se misturaram de tal forma que nem sabemos ao certo quem é que chegou ou foi embora. Neste momento, por exemplo, estamos no inverno e só ontem, aqui em São Paulo, é que chegou algum frio. Mesmo assim, nada comparado aos invernos de antes.

Imagino que até as plantas estejam confusas, sem saberem se é para florescer ou para deixar cair as folhas. Ou será a hora dos frutos? Exceto se a gente é que é mal-informado e as plantas já recebem esses avisos antecipadamente. Vai saber. O que eu sei, além de que nada sei, é que não gosto assim não. Saudosista pelas quatro estações? Admito e aceito. Acho que Vivaldi concordaria comigo.

Eu não sei você, caro leitor, mas minhas roupas vivem sempre misturadas. Há tempos não as divido mais entre as de frio e as de calor, eis que nunca sabemos quando uma delas será requisitada. Mas neste ano, em especial, sequer mexi nos casacos, cachecóis e todo o pelotão de inverno. Os cobertores mesmo só são usados por conta do ar-condicionado.

Na rua é ainda mais estranho. Muita gente caminhando em fins de tarde vestidos como se fosse janeiro e as férias de julho estão mais para cervejinha do que fondue com os amigos. E nem estou aqui dizendo que prefiro o inverno, pois isso nem seria verdadeiro. Sou apaixonada pela primavera e pelo outono, mas entendo que cada estação tem seu charme e sua função.

Sei também que para quem vive em condições precárias, gente e bicho, as temperaturas extremas podem ser cruéis. Então, nem tanto ao céu e nem tanto ao inverno, mas sugiro ao organizador das estações que, se puder nos perdoar pelos maus tratos, que deixe as estações darem ao menos uma palhinha, uma pequena amostra por ano, nem que seja para não nos esquecermos de que um dia elas estiverem entre nós.

Cinthya Nunes é jornalista, advogada, professora universitária e sugere o envio desta a São Pedro – Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo./www.escriturices.com.br