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replantio

O calor inclemente desanima das incursões pelo centro da cidade. Muitas vezes eu me esqueço de como o clima no interior do estado de São Paulo pode ser diferente da capital. Visitando meus familiares para as festas de fim de ano, praticamente fiquei dentro de casa a maior parte do tempo, a salvo do sol que parece fritar a pele de quem se aventura pelas ruas.

Contudo, chocou-me ver o quanto a cidade de Lins, onde meus pais moram, está com poucas árvores, ao menos na região central. Há quarteirões inteiros sem um único espécime, o que me parece incompatível com um local tão quente. Assim, quase não há refúgios naturais para as pessoas, mas também para os animais, sobretudo os pássaros.

É notório que a cidade está muito melhor do que esteve após gestões anteriores, com praças restauradas e ruas recuperadas, mas gostaria de registrar aqui um pedido especial aos gestores, para que se atentem ao verde que já não existe mais em muitas ruas da cidade. Vi, ao contrário, tocos de árvores cortadas, sem que se fizesse o destocamento e muito menos o replantio.

Tenho certeza de que vale o investimento de uma atenção especial, para um plano de ação com replantio de árvores nativas. Dentro de poucos anos todos se beneficiarão, meio ambiente e população. Aliás, cenário parecido no centro da cidade de Araras, onde também estive. Lá, notei, em alguns bairros, muitas árvores jovens, o que denota replantio, mas na região central, repete-se a cena de tocos de árvores e ausência de replantio na mesma proporção.

Registro que não se trata de crítica especialmente dirigida a nenhum governante, mas de um pedido feito por uma amante das árvores e de tudo que elas podem trazer de bom às pessoas e aos animais. Mencionei as cidades acima porque nelas meu coração já fez e ainda faz morada e a elas sou grata pelas oportunidades, amigos e familiares, mas sei que o cenário é comum na imensa maioria das cidades brasileiras, infelizmente.

É fato também que, a julgar pelas mudanças climáticas, o calor não irá retroceder. Plantar árvores não é a solução definitiva, mas é parte dela. E é preciso começar o quanto antes, pois o resultado será sentido apenas daqui há alguns anos. Cada árvore que cai leva um tanto da nossa qualidade de vida e cada árvore que deixa de ser replantada ceifa a existência saudável dos nossos descendentes.

Aqui em São Paulo, por sorte, vivo em bairro razoavelmente arborizado, no qual os pássaros encontram amparo, sombra e alimentos. Ainda assim, vivemos sob a ameaça constante das construtoras que, de forma predatória, derrubam árvores dos quintais das casas que vão demolindo. No centro da cidade, infelizmente, bem como em tantos outros bairros, o cenário é desolador. O corte clandestino, outro ponto, é um perigo constante e um mercado que remunera verdadeiras quadrilhas de criminosos.

Além de tudo isso é preciso lembrar que as árvores, seres vivos que são, um dia também encerram suas jornadas neste mundo. Envelhecem, são acometidas por pragas, por tempestades e raios. Não é simples a gestão estratégica das árvores urbanas, mas em um mundo no qual as matas e florestas perdem cada dia mais espaço para o cinza, nunca foi tão imprescindível cuidarmos do verde das cidades.

Entendo que há questões orçamentárias envolvidas e que nada é simples quando se trata da máquina pública, bem como que meu apelo de pouco ou de nada adianta, mas penso que é preciso tentar enquanto é tempo, porque neste caso, ao contrário do dito popular, o plantio é obrigatório e a colheita, uma esperança.

Cinthya Nunes é jornalista, advogada, professora universitária e gosta de semear árvores e ideias – Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo./ www.escriturices.com.br