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pipoca salgada

Mal o cheiro de pipoca estourando invade a cozinha e ela já se aproxima, mesmo sem ser chamada. Fica por ali, esperando que eu separe a porção dela, sem sal ou outro tempero. Não seria nada demais se a criatura em questão não fosse a Gigi, uma de minhas cachorras. Assim como os humanos da casa, ela é fissurada por pipoca. Bastou que experimentasse uma que pulou, fugitiva, da panela, e nunca mais conseguimos comer pipoca sem que ela ficasse com cara de pidona, com olhar fixo para nossas vasilhas.

Depois de me certificar com o veterinário de que não teria problemas ela comer uma pequena porção uma vez ou outra, já virou rotina o ato de separarmos uma parte, antes de temperar a nossa. Em uma casa de pessoas que amam pipoca, faz todo sentido uma cachorra com a mesma predileção. Ou não faz sentido algum. O fato é gostamos muito de pipoca e milho aqui é gênero de primeira necessidade.

Uma vez por semana é o mínimo de nossa frequência. Gosto de fazer pipoca na panela mesmo, do jeito raiz. Nada de pipoca de micro-ondas. Já tentamos aquelas pipoqueiras a base de água, mas cá entre nós, o gosto não é o mesmo, sem dizer que todas as máquinas e apetrechos que usei em busca de uma pipoca sem óleo resultaram em uma coisa insonsa, murcha ou seca demais.

Optamos então por uma panela pipoqueira, na qual coloco o mínimo de óleo depois que ela está superaquecida. Adiciono o milho e mexo bastante, até que os grãos todos estejam minimamente untados. O resultado é uma pipoca no ponto certo, sem ficar gordurosa e sem deixar muitos piruás. Descobri que se adicionar uma colherinha de óleo de coco, fica com cheiro e sabor de pipoca na manteiga, mas bem mais saudável.

A escolha do milho também faz diferença. Há umas linhas de pipocas premium que estouram enormes e são mais macias, deliciosas. Infelizmente, da marca que conheço, estão bem caras, estourando literalmente o orçamento. Uma intermediária resolve bem, mas não gosto das mais simples, que resultam em uma flor pequena e quase sempre com centro bem duro. Certa vez, inclusive, em uma rede de supermercados aqui de São Paulo eu encontrei um tal de milho americano que, estourado, virava uma pipoca muito branca, com um sabor diferente. Gostei, mas agora nem encontro mais para comprar. Se encontrarem, experimentem.

Embora eu saiba que os pipocólatras como eu costumam gostar de pipoca doce, admito que não é nosso forte. Nas minhas melhores memórias da infância, no entanto, está aquela pipoca doce que vinha embalada em plástico cor de rosa, que sempre tinha na cantina da escola e que parecia isopor, mas que era devorada por uma legião de crianças sempre famintas por doces.

Durante minha vida já tive épocas de gostar muito de certa comida e acabar enjoando, ficando incapacitada de voltar a degustar. Foi assim com manteiga, depois de comer quase um pote, aos 4 anos, com colher, bem como com maria-mole, após ingerir uma dezena, entre outras coisas. Com pipoca, entretanto, não é uma paixão, algo passageiro. Está mais para amor mesmo, daquele que o tempo nem abala.

Cinema, por exemplo, ao menos para mim, é irmão siamês do balde de pipoca. Não existe um sem o outro. A propósito, após quatro anos sem pisar em uma sala de cinema, comprei ingressos antecipados para uma estreia, mas confesso que estou mais ansiosa pela pipoca do cinema do que pelo filme em si. Pena a Gigi não poder ir junto, porque aposto que ficaria na fila, esperando pela parte dela, enfeitiçada pelo aroma que nunca deixa de me arrebatar. Gratidão a quem estourou o primeiro milho por aí, no susto ou de caso pensado.

Cinthya Nunes é jornalista, advogada, professora universitária e escreveu esse texto depois de se deliciar com muita pipoca – Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo./ www.escriturices.com.br