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gibis

Hoje nem são mais tão populares como eram na minha infância e isso talvez se deva ao preço ou à concorrência com outras mídias, tais como vídeos e jogos de computadores.

Refiro-me aos gibis, revistas em quadrinhos que foram os responsáveis pelo amor que muitas gerações desenvolveram pela leitura.

Não me lembro direito qual foi o primeiro gibi que li, mas acredito que tenha sido algum exemplar do Tio Patinhas, do Pato Donald ou mesmo do Mickey, pois meu avô paterno, embora tivesse pouco estudo, era fã e sempre tinha alguns exemplares em mãos. Na casa dos meus avós maternos também era possível encontrá-los, mas eram de personagens mais antigos, como o Recruta Zero, Fantasma, Gasparzinho, gibis de terror e de faroeste.

O que sei é que depois que aprendi a ler os gibis eram minhas primeiras e inseparáveis companhias das letras. Comprava a Turma da Mônica, a Luluzinha, mas lia também aqueles que ia ganhando ou surrupiando dos familiares. Assim, durante muitos anos, em um tempo pré-internet, as bancas de jornais eram um dos meus três lugares favoritos do mundo. Todo e qualquer dinheiro que eu ganhasse de presente era automaticamente convertido em gibis, os quais eu lia vorazmente.

Em verdade até hoje gosto de gibis, mas não me tornei aquele tipo de adulto que tem fixação neles, que coleciona números históricos ou que possui conhecimentos até mesmo sobre os modernos quadrinhos que hoje se pode encontrar nas bancas e livrarias. A propósito, pelo pouco que tenho visto, o atual universo dos quadrinhos e dos gibis, em geral, constitui um campo desconhecido para mim.

Meus sobrinhos, ao contrário de qualquer expectativa que eu possa ter criado, nunca desenvolveram qualquer gosto pela leitura de gibis e, um dia, desejosa de liberar espaço nos armários e sem futuros leitores em perspectiva, minha mãe reuniu várias caixas de exemplares antigos que fomos acumulando e fui incumbida da tarefa de achar quem os quisesse comprar.

E foi assim que em uma tarde qualquer, enquanto eu caminhava pelo bairro, notei pela primeira vez uma pequena loja, quase encravada entre outros grandes estabelecimentos comerciais. Entrei no que me pareceu uma espécie de paraíso dos gibis, um portal no tempo para os admiradores fiéis. Conversando com um dos responsáveis, descobri que a loja funciona naquele local há mais de doze anos, vendendo livros e principalmente revistas em quadrinhos usados.

Durante o tempo em que fiquei lá muitas pessoas entravam e saiam, quase sempre perguntando sobre encomendas ou por exemplares raros. Notei que os quadrinhos de hoje e de um ontem recente são muito diferentes daqueles de décadas atrás. No mundo dos super-heróis, por exemplo, há uma infinidade de personagens, de sagas, de séries das quais nunca sequer ouvi falar.

Fiquei com a impressão de que os quadrinhos atuais, inclusive, são mais direcionados aos adultos do que às crianças. Grande parte das edições é de luxo, capa dura e, por óbvio, com valores muito superiores aos que as crianças têm facilmente disponíveis. Ao menos a maior parte delas. Parece-me que os quadrinhos já foram mais democráticos, mais simples e acessíveis. Ou então, quem sabe, possa ser simples saudosismo, nostalgia.

Acabei levando as caixas de gibis para lá e os vendi pelo valor que foi possível, acreditando, admito, na palavra do comprador. Enquanto íamos conferindo cada um dos exemplares, descartando aqueles sem capa, faltando alguma folha ou em péssimo estado de conservação, vi meu nome, grafado de forma infantil, em alguns deles e fiquei imaginando o que minha versão criança pensaria sobre ter seus tesouros vendidos.

Ainda não cheguei a esse grau de desprendimento com meus livros, mas tudo na vida mesmo é cíclico. É preciso abrir espaços para que a água de outros rios flua através de nós. No caso dos gibis que vendi, espero que possam ser lidos por outras pessoas, que continuem a marcar vidas como fez com tantas gerações antes de mim. De toda forma, ando pensando em voltar lá e arriscar conhecer novos mundos.

Cinthya Nunes é jornalista, advogada, professora universitária e um dia foi a doidinha dos gibis – Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo./ www.escriturices.com.br