Com sintomas pouco conhecidos, o Brasil está entre os países com maior número de casos no mundo
Popularmente conhecida como Lepra, a Hanseníase é uma doença crônica, causada pela bactéria Mycobacterium lepral e que embora possa atingir qualquer pessoa, vitima sobretudo a população mais vulnerável. Admito que meus conhecimentos sobre a doença eram muito elementares e que desconhecia por completo a sua realidade em números.
Precisei elaborar um trabalho sobre o assunto e, como sempre, lidava com prazos que, por minha conta, estavam muito curtos. Pedi socorro para minha irmã Tricya, porque família sempre se coloca em roubadas, confessando que em três dias precisaria finalizar a pauta. Eu já havia levantado alguns dados, mas ainda faltavam opiniões de especialistas, além de depoimento de algum paciente.
Conforme os dados obtidos no sistema DATASUS, que só no Estado de São Paulo, nos últimos três anos contabilizou-se 4.889 casos com diagnósticos confirmados de hanseníase. Traduzindo em termos mais simples, a doença afeta muito mais do que a pele, como, creio, muitos de nós imaginem. Olhos e órgão internos, por exemplo, também podem ser seriamente afetados, bem como é possível que resultem incapacidades físicas, com perdas funcionais.
Entre tantas informações que obtive, a maior parte delas graças ao auxílio imprescindível de profissionais que, a pedido da minha irmã, dispuseram-se a colaborar gentilmente com minha pesquisa jornalística, a que mais me causou espanto foi a de que o Brasil ocupa o segundo lugar entre os três países com mais casos de hanseníase no mundo, precedido pela Índia e seguido pela Indonésia. Ainda de acordo com o infectologista Edson Carvalho de Melo, em 2021, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), foram reportados 140.594 novos casos da doença no mundo, um aumento de mais de 10% em relação ao ano de 2020.
Nem imaginava ainda que em Bauru há um centro de referência para o tratamento da doença, para Ministério da Saúde, para a OMS e OPAS (Organização Pan-Americana de Saúde), o Instituto Lauro de Souza Lima. Conforme esclareceu o diretor técnico, o Dr. José Carlos Bombini, todo tratamento da doença é realizado e tratado pelo SUS.
Entre tantas informações técnicas importantes que os dois profissionais acima mencionados me municiaram, pela quais sou muito grata, apenas uma não me surpreendeu e pela qual eu já esperava: a de que o preconceito é um dos companheiros mais indesejados dos pacientes.
A doença é estigmatizante e o adjetivo leproso é utilizado em contextos bem cruéis. Um dos pacientes entrevistados, que não quis ser identificado, relatou que as pessoas acreditam que apenas de encostar nele poderão ficar doentes, mesmo agora, com a doença sob tratamento. Tal qual a imensa maioria de nós, o paciente, um homem de 39 anos, desconhecia os sintomas e quando buscou ajuda médica, a doença já avançara. Ficou com o movimento de umas das mãos comprometido, além de muitas cicatrizes pelo corpo.
A desinformação e a falta de cuidados simples como o hábito de lavar as mãos fazem com que essa doença encontre a maior incidência de casos entre as populações mais vulneráveis. Prevenção e educação sempre serão os melhores caminhos, ainda que, neste Brasil de tantas desigualdades, ainda sejamos acometidos por doenças que parecem pertencer a outra era.
Tratando-se de uma doença que também deixa marcas invisíveis, a empatia e a solidariedade merecem igualmente prescrição.