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 papagaio

Aqueles gritinhos soavam meio humanos, mas também pareciam ser de uma ave, mais precisamente o som emitido por papagaios. Fui até a sacada de casa, já com as habituais frutas que coloco à disposição todas as manhãs para as dezenas de maritacas, minhas visitantes constantes, quando ouço a algazarra novamente. Estiquei os olhos e vi, com espanto e alegria, que no telhado da casa da frente, dois papagaios brincavam e conversavam, empoleirados em uma antena.

Encantada, fiquei observando os dois, que me pareceram ser um casal. Depois de conversarem lá na língua deles, foram embora, rasgando o céu de uma manhã nublada e gelada. Seria possível que em plena cidade de São Paulo essas aves tão caçadas, aprisionadas e traficadas vivam livremente? Após as primas menores, as maritacas, devorarem em poucos minutos todas as frutas, tratei de fazer uma busca no google, aquele que tudo sabe.

Quem me segue nesse espaço há mais tempo sabe que muitos de meus textos tratam de aves, sobretudo as livres e eu, que tinha em mente um assunto mais filosófico e saudoso para escrever, acabei mudando de linhas, doida para compartilhar o que descobri. De fato, há sim papagaios vivendo livres na cidade de São Paulo, adaptados à vida desta que é a maior cidade da américa latina.

De acordo com uma matéria datada de 20161, cerca de 1000 papagaios-verdadeiros vivem na cidade de São Paulo e arredores. Não sei se esse número encontra correspondente exato atualmente, mas achei bem interessantes as informações disponíveis. Assim, de acordo com referida fonte, tais aves, que não são nativas desta região, tem origem incerta.

Provavelmente descendem de aves domésticas que escaparam de cativeiros, ou mesmo que foram soltas indevidamente. Mas como teriam sobrevivido e se reproduzido?

A inteligência dos papagaios já foi documentada em vários experimentos ao redor do mundo e, também conforme minha rápida pesquisa, o fato de serem aves muito inteligentes, permitiu que fossem capazes de encontrar alimento e abrigo nas áreas verdes da cidade, mesmo tendo sido mantidas presas por toda uma vida. Acredito, entretanto, que muitas tenham morrido, incapazes de se virarem sozinhas. As sobreviventes, unidas, foram se reproduzindo.

Pela capacidade de imitar a voz humana, feito que apenas 10% dessas aves pode realizar, os papagaios e semelhantes, como araras e periquitos, ao longo dos séculos vêm sendo objeto de desejo humano, condenando-os a décadas de uma vida resumida, em muitos casos, a minúsculas gaiolas. O tráfico internacional de animais, prática abominável, repleta de crueldade e falta de empatia, é responsável pela morte anual de muitas dessas aves, dentre outros tantos animais, dados que qualquer um pode conseguir após uma simples busca pela internet.

Vê-los livres, voando em duplas ou em bandos, transformando para melhor o cenário criado pelos tantos e crescentes arranha-céus, é um respiro, uma esperança que gosto de cultivar. A existência de áreas verdes espalhadas pela cidade, inclusive com espécies frutíferas e de abrigo que são as preferidas dos papagaios-verdadeiros, permite que os ninhos sigam surgindo e os filhotes também.

Não sou veterinária, bióloga, nem mesmo tenho qualquer autoridade para escrever sobre o assunto e pode ser até que haja algum aspecto negativo em tudo que narrei acima, mas como expectadora e apaixonada pela fauna e pela flora, ver papagaios livres, salpicando o céu de verde, é uma experiência que quero para todos os dias, sobretudo para os que virão.

Em tempos de partidas, comemoro com o consolo das chegadas, voando com asas emprestadas.

Cinthya Nunes é jornalista, advogada, professora universitária e prefere os louros que só falam lourês – Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo./ www.escriturices.com.br