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crianças

_Tia, por que a Gigi (uma de minhas cachorras) não gosta de mim? – perguntou-me minha sobrinha Olívia, de 4 anos.

_Mas ela gosta, meu amor. É que ela tem medo de pessoas – respondi.

_Eu nem sou pessoa, tia.

_ Claro que é!

_ Ah, mas sou uma pessoa bem pequenininha, deste tamanho aqui ó – mostrou-me ela, segurando a mãozinha do lado da cabeça, indicando sua pouca altura.

...

Tenho quatro sobrinhos e a Olívia é a caçula. Como tia tento fazer parte das vidas de todos eles, buscando ingressar nas particularidades de cada idade, de cada fase, eis que há graça e beleza em todos os momentos da vida, mesmo na adolescência.

Brincadeiras à parte, preciso admitir que acho apaixonante a idade entre 3 e 6 anos, quando começam a conversar sobre tudo e quando surgem as frases e expressões engraçadas. Palavras erradas de formas inusitadas e que muitas vezes se transformam em expressões familiares, quase códigos secretos que subsistem durante toda uma geração.

Assim como se deu com a Isa que, aos seis anos informava que usaria seu “dijama dilás” e nos transformou para sempre em usuários de dijamas para dormir, além de renomear uma das cores.

Quando a Sofia me perguntou se eu já havia visto peixes água e sal e galinhas boiolas, foi difícil não rir alto e impossível pensar nos peixes que vivem nas regiões mais profundas do mar sem mentalmente visualizar umas bolachas aquáticas, entre outras imagens hilárias.

_Tia, o elevador está no “Sugsolo” – disse-me o Otávio, aos 3 anos, inaugurando um novo andar em todos os prédios do imaginário de nossa família.

E assim, de pérola em pérola, vou colecionando passagens hilárias, não apenas das nossas crianças, mas de todas as outras que um dia passaram pela minha vida. Durante muitos anos, por exemplo, ria alto ao escutar uma de minhas irmãs afirmar que gostava de salada com azeite de “olívia” ou com o priminho que não dormia à noite sozinho por ter medo de “samama”.

Depois de crescidos, os assuntos são outros e ainda há muito a ouvir, mas em outro nível, com outra atenção. A espontaneidade e a inocência da tenra infância, no entanto, deixam os seres humanos para irem habitar em outra criança, para provocarem novos sorrisos.

Tudo, creio, faz parte de um ciclo, de uma roda perfeita, mesmo quando não é. Somos crianças somente uma única vez, mas podemos rejuvenescer um pouco sempre que nos deixamos resgatar, ainda que momentaneamente, pela melhor face da humanidade.

Cinthya Nunes é jornalista, advogada e professora universitária – Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo./www.escriturices.com.br