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Escrevi meu primeiro livro quando estava com 23 anos. Recém-formada, sem saber exatamente o que fazer da vida (a propósito, acho ótimo continuar não sabendo), resolvi escrever duas histórias que, havia tempos, habitavam minhas memórias. Comecei escrevendo sobre o Totó, o fiel companheiro da minha infância, cãozinho que dividiu quatorze anos de existência comigo. Logo em seguida escrevi O Príncipe Azul, uma fantasia infanto juvenil baseada em uma história que meu pai me contava para dormir. “A Batata que não queria ser assada” foi o terceiro, escrito anos depois, após uma provocação feita por minha mãe.

A experiência foi incrível, sobretudo pela troca que tive com os meus leitores mirins. Foram cartinhas recebidas por crianças que hoje já têm seus próprios filhos, todas carinhosamente guardadas. Sempre houve planos de novos livros e as histórias fervilhavam o tempo todo nas minhas ideias, mas por dezenas de motivos e até pela ausência de alguns, nunca mais, desde aquela época, voltei a publicar textos infanto-juvenis.

Ano passado, entretanto, algo se fez urgente dentro de mim. Eu tinha que voltar ao lugar em que comecei a escrever e que mais retorno afetivo me proporcionou. Observando os enxames de abelhas nativas e sem ferrão que tenho em casa, pensando sobre a importância de protegê-las, surgiu o mote para criar um personagem que fizesse parte daquele universo. E foi assim que Abel surgiu. Primeiro, dentro de mim e, meses depois, nas páginas de meu novo livro Abel, as Aventuras de um zangão viajante, pela Editora Toca.

A realidade é que grande parte das pessoas não conhece nada sobre abelhas nativas e muito menos que há abelhas sem ferrão. Quando se trata dos zangões, a ignorância é ainda maior. Os machos da colmeia, como regra, são logo expulsos para que possam encontrar uma princesa, dando início a uma nova colmeia. Vivendo em média 84 dias, os zangões morrem após a cópula com a futura rainha.

Abel, um zangão de abelha jataí, uma pequena dócil e que pode ser encontrada em todo território nacional, inclusive nos grandes centros urbanos, é uma criaturinha sonhadora e que almeja mais do que apenas cumprir sua missão biológica. Deseja conhecer o mundo e se maravilha com as diferentes coisas e seres que vai encontrando pelo caminho.

Ciente da sua responsabilidade na preservação das abelhas, Abel segue, entretanto, sem pressa, apreciando o caminho e colecionando encontros com outras abelhas, vagalumes, pássaros, borboletas, entre outros pequeninos. De cada vivência resta uma lição que ele recebe com gentileza e gratidão, criando laços, tecendo os momentos de uma curta, porém intensa vida.

Com ilustrações da talentosa ilustradora carioca Isis Sarlo, Abel ganhou cores e formas para além de mim e agora pode voar para longe, para fora das páginas e para dentro de outros sentires. Cada exemplar que entrego a um novo leitor segue repleto das minhas expectativas, do desejo de que as asas frágeis e delicadas de Abel, meu pequeno zangão sonhador, possam levá-lo de coração em coração, carregando um pouco de mim com ele.

Depois de décadas, estou de volta. Tal qual Abel, sigo com minhas inseguranças, mas tomada pelo desejo de conhecer mais deste mundo tão incrível e surpreendente. Minhas asas, invisíveis, conduzem minha mente rumo a novas histórias, a outras colmeias.

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Cinthya Nunes é jornalista, advogada e professora universitária. Interessados em adquirir um exemplar devem entrar em contato comigo através de Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo. ou conferir, logo mais, a página do livro no meu site: www.escriturices.com.br