E chegou mais um Natal. Independente da religião professada, eu acredito que a maior parte das famílias brasileiras tenha alguma tradição, algum costume para referida data.
Mesmo quando têm o hábito de não fazer nada de diferente nesse dia, não deixa de ser uma espécie de tradição. Assim, certas pessoas e respectivos grupos familiares possuem tradições mais marcantes, quase seculares, enquanto outras seguem variando conforme a vida se apresenta.
A essa altura já coleciono muitos Natais e embora não me lembre com exatidão de todos eles, guardo lembranças especiais de muitos. Os primeiros Natais dos quais me recordo envolviam bolinhas coloridas e passear pela cidade miniatura do Mário, na cidade de Lins, onde cresci. Encontrar os presentes dispostos embaixo da árvore era sempre um bom motivo para irmos dormir, pois o Papai Noel somente chegava nas casas onde havia o silêncio das crianças obedientes.
Houve também muitos Natais passados nas casas dos avós, nas quais o auge nunca se relacionava a presentes ou ao bom velhinho, mas sim à comida e o quanto ela nos unia ao redor da mesa. Nem importava exatamente o que seria servido, mas o fato de, em família, começarmos a preparar, sempre em quantidades generosas, refeições simples, mas que banqueteavam nossos corações.
O tempo que fez nascer novos nichos familiares, levou com ele também os avós e quem ficou foi se reinventando, criando outras e novas memórias natalinas. Encontros inusitados e únicos foram experenciadas e é com saudade que me lembro do Natal na casa dos meus sogros ou de outros junto da família de minha amada madrinha Edna. Emoções únicas e impossíveis de serem recriadas.
E assim cada Natal gestou um momento singular. Em um ano, por exemplo, entrei em um ônibus e fui passar com uma de minhas irmãs, só nós duas, na cidade de Botucatu. Ela morava sozinha e estaria de plantão. Pela primeira vez na vida ela se aventurara na cozinha, fazendo nossa ceia e depois de comermos e tomarmos vinho, dormimos cedo, juntas e felizes, porque o espírito do Natal se achega onde se lhe dão espaço.
Outros Natais foram só nossos, ele e eu, minha cara metade. Na companhia de nossos animais de estimação tivemos ceias de paz e gratidão, mesmo quando nem tudo estava como havíamos sonhado ou desejado. Em outros momentos, meus pais, irmãs e/ou amigos se juntaram a nós em Natais que hoje diferiram muito daqueles da minha infância.
Difícil não pensar nas ausências e no sentido de nosso existir.
E então é Natal novamente e outros encontros se tornam possíveis. Um respiro para lembrarmos do que realmente vale, do que fica, ficou e ficará depois que mesmo nós não estivermos mais aqui. Partilhar momentos é expandi-los, perpetuá-los para além de nós, da nossa frágil e fugaz jornada. Neste Natal eu lhe desejo memórias, momentos para lembrar e ser lembrado, no nascimento que se faz Estrela Dalva todos os dias em que nos é dado acordar. Que sejamos luz a iluminar o nosso e o caminhar alheio. Sejamos boas companhias, nem que seja para nós mesmos, porque o Natal é presente para alma, é esperança que se veste de brinquedo, de ceia, de abraços, lambeijos e de sorrisos.