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 pais

Nascido em uma família muito humilde, o menino aprendeu desde muito cedo que de um dia para outro tudo pode mudar. Num instante se tem dinheiro, status social e, no outro, é preciso vender o pão para comprar a farinha que dará lugar ao pão do dia seguinte.

Filho de pais com pouquíssima instrução formal, o menino se transformou no rapaz que usava à quase exaustão o sabonete que desejava fosse perfume. Flertou com a Igreja até o pai lhe explicou o que era celibato. Bom dançarino, contador de histórias, conquistou muitos amigos e logo foi parar no teatro amador, cuja carreira promissora foi trocada pela decisão de constituir uma família.

Apaixonou-se pelo magistério e durante a faculdade também caiu de amores pela menina linda, de longos cabelos pretos e olhos amendoados, que, subindo uma rua, viu segurando uma sombrinha. Juntos, decidiram seguir pela vida de mãos dadas e de laço em laço nasceram as três filhas.

No misto de qualidades e de defeitos, as primeiras se avolumaram no decorrer da vida. Ensinou a milhares de crianças, jovens e adultos que a terra é redonda, mas também é cheia de esquinas, verdadeiros pontos de encontro daqueles que tem afinidades. Em meio às adversidades, quando o chão que julgava conhecido, seguro e amigo lhe faltou, a dignidade de quem sempre agiu honestamente fez com que se mantivesse em pé, íntegro.

Fé, minha filha, sempre me disse meu pai, é para as horas difíceis. E é assim que hoje ainda tenho o privilégio de desfrutar da companhia dele que, além de me chamar, ao lado de minha mãe, para este mundo, ainda é meu grande amigo, meu exemplo, meu porto seguro, de onde parti e para onde volto sempre que meu coração pensa naufragar.

Neste fim de semana em que se comemora o Dia dos Pais, o meu, o Luizinho, completa oitenta voltas ao redor do Sol e na pessoa dele, pai sempre presente, amoroso, provedor, homenageio todos aqueles que fazem jus ao título de pai. Pai é mais do que uma palavra, é uma escolha e uma postura. Pais não são perfeitos, mas é perfeita a natureza que nos permite a experiência da paternidade, exercida ou recebida.

E quando me refiro à paternidade, registro aqui que o faço em sentido amplo, pois quem cria é pai, é mãe, é família. Entendo cada vez mais que o conceito de família é elástico, é múltiplo e seu único e indispensável condicionante deve ser o amor. Sobre o amor, aprendi e aprendo ainda com o meu pai que dizer EU TE AMO é um ato de coragem, de força, de desprendimento.

Aliás, não se pode temer o amor verdadeiro, aquele que, se temos sorte, recebemos sem ressalvas, incondicional, ainda que imperfeito. O tempo é implacável com a humanidade, mas embora a vida seja curta, ela pode ser imensa. Meu pai é uma pessoa que ama a vida e faz questão de dizer e viver dessa forma. Quanto mais me aproximo do outono da minha vida, mais compreendo a grandeza dessa lição, a de que viver é uma dádiva, é uma benção.

Sei que a eternidade não é deste mundo, mas quero crer que seja no Divino. Hoje ainda é dia de festa e eu espero que esses oitenta se transformem em mais de noventa. Talvez haja algo do lado de lá. Talvez não. Quem é que sabe com certeza? Aqui, deste lado, o Céu ainda é o chão em que eu piso, porque sei que se eu cair, meu pai estará ao meu lado para dizer que me ama e que tudo vai dar certo. Pai, eu já disse hoje o quanto eu te amo?

Cinthya Nunes é jornalista, advogada, professora universitária e é filha de um pai incrível – Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo. /www.escriturices.com.br