A vida é mesmo surpreendente. Algumas coincidências são tão incríveis que é quase impossível reduzi-las a isso. Há quem nem acredite nelas, inclusive. Seja o que forem, deixam muito o que pensar. E foi assim que, nas últimas semanas experenciei um encontro emocionante, mesmo sem saber.
Como relatora do Tribunal de Ética da OAB fui convidada a participar da cerimônia de entrega das carteiras aos mais novos advogados, aqui em São Paulo. Para quem não sabe, trata-se de uma sessão solene, na qual os recém-aprovados na prova da OAB e inscritos na Ordem prestam compromisso de, entre outros deveres, defender a ética e honrar a advocacia. Trata-se de ato imprescindível e personalíssimo. Ou seja, tem que ir pessoalmente caso queira exercer a profissão;
Assim, cumprindo o papel que me cabia fui até a sede da OAB São Paulo e, após dizer algumas palavras aos neófitos, fui escalada, assim como outros presentes, para entregar as carteiras. Eis que escuto o mestre de cerimonias chamando por um nome que me pareceu familiar. Olhei para o jovem e nos olhos dele tive a impressão de reconhecer algo, de que ele me era familiar de algum modo, mas não fui capaz, na hora, de identificá-lo ou de me lembrar de onde eu o conhecia.
Duas horas depois, ao final do evento, voltei para casa e, de repente ocorreu-me uma possiblidade. Fui checar as redes sociais e achei, por fim. O jovem advogado era o filho caçula de uma grande amiga de infância. Desde os dez anos de idade moramos em cidades diferentes e eu nunca conheci os filhos dela pessoalmente, muito embora jamais tenhamos deixado de manter contato regularmente e até de nos encontrarmos quando possível.
Tanto ela quanto eu ficamos emocionadas pela incrível coincidência, eis que a cerimônia ocorre até duas vezes todos os meses e eu apenas fui escalada para comparecer duas vezes durante o ano todo. Além disso, outros advogados componentes da mesa também faziam as entregas, mas coube a mim entregar a carteira da Ordem para ele.
Mesmo sem saber naquele instante quem ele era, algo no olhar dele me capturou, deixando-me intrigada. Pouco mais de que um menino, alguém que me chamaria de tia caso a vida não tivesse me separado fisicamente de minha amiga de infância. Sequer sei descrever, mas posso dizer que eles têm os mesmos olhos e de alguma forma infinitas lembranças se espelharam neles.
Foram incríveis os anos em que convivemos, nos quais dividimos a mesma sala de aula, os medos tolos de crianças, os cadernos, os sonhos e planos de um futuro que jamais seriamos capazes de imaginar como seria, tanto para o bem, quanto para o mal. Muitas décadas já se passaram desde que deixamos de brincar de esconde-esconde, de correr descalças e descabeladas, livres como só as crianças podem ser, mas o que nos ligava ainda permanece, invisível e forte.
Amizades são vínculos que se formam para além das distâncias. Onde tudo separa, a amizade une e redime. E a vida, essa aventura que em nada é perfeita, mas em tudo é divina, nunca deixa de me surpreender. Um simples encontro, mas que simboliza uma união de gerações, um ajuste no laço de uma amizade que sobrevive ao tempo e as diferenças de percurso. Um viva aos reEncontros!