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Gosto muito de tirar fotos, hábito que herdei dos meus pais. Desde sempre tivemos máquinas fotográficas em casa, naquele tempo jurássico antes dos celulares e suas câmeras potentes. Naqueles tempos uma boa foto só era conseguida por um golpe de sorte ou porque algum profissional a produzira. Quantas vezes, ao revelarmos as fotos, processo que talvez os mais jovens sequer saibam do que se trata, poucas eram dignas de serem colocadas nos álbuns.

De lá para cá, ainda que as câmeras fotográficas continuem existindo, a maior parte dos fotógrafos amadores faz uso é das câmeras de seus telefones celulares. Hoje é possível testar inúmeras vezes os melhores ângulos, bem como descartar com um clique e sem custos, as dezenas de imagens que não saem como se deseja.

Embora eu tenha tentado aprender um pouco mais sobre fotografia, nunca fui além de umas noções bem iniciais, o que não me impediu de fotografar tudo que posso. Meu celular acumula perto de doze mil fotos e lá é possível encontrar principalmente imagens dos meus animais, de flores, de lugares que visitei, além de meus familiares e referências para pinturas e desenhos.

Ao contrário de muitas pessoas, não costumava ter muitas fotos minhas, os famosos selfs. Nunca me considerei especialmente fotogênica e tenho preferido fotografar o alheio. Há alguns meses, no entanto, matriculei-me em uma oficina de autorretrato criativo, promovida pela Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo e ministrado pela artista Luciana Crepaldi. Nos três dias de curso, depois de entrarmos em contato com autorretratos de vários artistas ao redor do mundo, aprendi que podemos e devemos ser mais generosos com a imagem que temos de nós mesmos.

E foi assim que nosso grupo, composto por homens e mulheres de idades, aparências, lugares e formações diferentes, foi desafiado a produzir fotos criativas, sendo nossos próprios manequins. Encarei a tarefa meio sem muitas esperanças, apesar de curiosa com os resultados e, sem qualquer produção ou maquiagem, fiz as minhas melhores e mais criativas fotos, apenas com o meu celular.

Os resultados das fotos dos alunos foram apresentados no último dia e tenho certeza de que qualquer desavisado afirmaria serem fotos profissionais. Algumas pessoas literalmente se despiram, entrega a que não me aventurei, encarando as lentes sem pudores ou temores. Poucas vezes vi fotos tão bonitas, tão reais, tão dignas.

Mais do que aprender um pouco sobre fotografia, sobre cultura, aprendi que a beleza, como expressão da arte, é algo que transcende e que quando aprendemos a nos enxergar para além dos filtros e das caras e bocas, passamos a nos amar mais, a nos tratarmos com o mesmo carinho que dedicamos aos demais.

Em tempos de imagens ilusórias, de inteligência artificial, nunca se fez tão necessária uma dose moderada de amor-próprio, daquele amor pelo que somos, pelo que nos tornamos e pelo quanto é possível aceitarmos nossas imperfeições, nossos detalhamentos, nossas singularidades. Amar a nós mesmos como amamos ao próximo também é uma lição de generosidade.

Cinthya Nunes é jornalista, advogada, professora universitária e gosta de registrar todos os detalhes incríveis que há no mundo – Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo./www.escriturices.com.br