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ninho de gatos

Adoro observar meus gatos dormindo. Gatos, aliás, fazem isso como ninguém, seja quando dormem sozinhos, acoplados em espaços minúsculos e nas posições mais impensáveis ou quando dormem ao lado de outro gato. Iogues, contorcionistas, malucos, os gatos são mesmo criaturas incríveis e depois que tive a chance e a sorte de amá-los, nunca mais fui a mesma.

Passei minha infância ouvindo meu pai usar a expressão “ninho de gatos” sempre que nos chamava para ficarmos, minhas irmãs e eu, aninhadas no sofá e enroladas em cobertores para assistirmos aos filmes que passavam na televisão ou nas fitas que alugávamos nas locadoras.

Na época eu entendia o conceito geral de um ninho de gatos, mas imaginava que era por estarmos todos juntos, os cinco. Muito tempo se passou até que eu compreendesse de fato por que era tão bom estarmos daquela forma, o que só aconteceu depois de contemplar meus gatos juntos, aconchegados uns nos outros.

Em algum lugar do passado, impresso nas minhas melhores memórias, ainda consigo correr para o Ninho de Gatos, aquele onde sou criança novamente, agraciada e protegida pela ausência das preocupações de quem sempre foi amada e cuidada pelos pais. O paradoxo da vida é que chegamos perto de entendê-la minimamente quando já se foi a maior parte dela e até nisso os gatos levam vantagem, pois têm sete vidas para dar conta disso tudo.

Escrevo enquanto observo meus gatos e minhas cachorras dormindo em meio ao silêncio de uma quase madrugada. Os gatos procuraram os melhores locais, os mais quentes e confortáveis (ao modo estranho deles, é verdade). Se dividiram entre os colos disponíveis e as caminhas suspensas, seguros e majestosos. Já as cachorras dormem aos meus pés, no chão frio, porque preferem a proximidade ao sofá ou às próprias almofadas.

Hoje, uma inesperada noite fria, não restam dúvidas de que os gatos aproveitam bem mais a vida em condições idênticas as dos cachorros. Escolheram sua posição hierárquica e nem se incomodam por ostentá-la, porque o mundo (ao menos o nosso mundo doméstico) se divide entre os que servem e os que são servidos.

Volto minhas lembranças ao tempo do Ninho de Gatos e uma saudade imensa me ataca de dentro para fora. Hoje não somos mais os cinco, mas sim doze. Só acho que seria um pouco estranho e difícil acomodar a todos dentro do mesmo espírito e cobertor. Exceto, é claro, se fôssemos gatos, que definitivamente não têm certos pudores, embora, verdade seja dita, vez ou outra haja divergências dignas de vale-tudo, com direito a tufos de pelos arrancados na base da dentada. Ninguém é perfeito, afinal de contas.

Aqui em casa mantivemos a tradição e fazemos um micro ninho de gatos, no qual admitimos entre as mantas que vivem no sofá, pessoas, gatos e cachorros, ainda mais quando o frio dá as caras, trazendo com ele recordações que me aquecem. E lamento se a ideia provocar sentimentos desagradáveis a alguns leitores. Tudo que posso desejar é que você, leitor, tenha, em algum momento de sua vida, um Ninho de Gatos para chamar de seu, esteja nele quem você quiser que esteja, desde que seja amor.

Cinthya Nunes é jornalista, advogada, professora universitária e a louca dos gatos (e dos cachorros) - Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo./ www.escriturices.com.br