A caminho para participar de uma reunião de trabalho, tendo feito um percurso de metrô, segui andando o restante do percurso. Como de costume, aproveitei para observar a paisagem urbana e as pessoas que, assim como eu, em uma quarta pela manhã, circulavam rumo a algum lugar ou, quem sabe, estavam à deriva.
Já na saída do metrô fui abordada por um rapaz maltrapilho, que cheirava muito mal e que me pediu dinheiro para, supostamente, comprar comida. De fato, eu não tinha dinheiro e nem comida que pudesse dar a ele naquele momento, ao que ele me mostrou uma placa de papelão na qual estava escrito o número de uma chave pix, opção prontamente oferecida por ele, diante da minha insuficiência de recursos em espécie. Antes que eu seguisse, porque não ia fazer um pix ali no meio da rua, ele sacou um celular e o balançou na minha frente, de prontidão. Muito doido tudo isso, pensei, antes de apressar o passo.
Segui caminhando enquanto o sol aos poucos ia se tornando mais quente e, paulatinamente, acordando aqueles que ainda insistiam em dormir na cidade que nunca para. Um pouco mais adiante notei os ambulantes que iam montando suas barracas repletas de artigos de qualidade duvidosa, mas de aparência interessante. Bolsas, camisetas, vestidos e brinquedos de procedência duvidosa, mas capazes de atrair uma freguesia peculiar e, aparentemente, fiel. Mulheres e homens paravam para examinar as mercadorias, enquanto algumas lojas da mesma calçada permaneciam completamente vazias.
Como eu havia saído cedo, diminuí o passo para continuar meu pequeno experimento diário de observação da vida alheia, afinal, como já escrevi várias vezes, sempre é útil para novos textos. No quarteirão seguinte havia grande hospital público e o entra e sai de ambulâncias e de pessoas com olhares tristes e cansados acrescentou pontos às reflexões que eu já vinha acumulando naquela manhã. Nunca gostei de hospitais e os evito tanto quanto posso, mas me detive por mais alguns minutos, observando o quanto a vida é frágil e o quanto as emoções podem se recusar a serem prisioneiras de corpos adoecidos.
Em frente ao local havia barracas com bolos caseiros e garrafas de café vendidos por ambulantes aos pedestres e, desconfio, sobretudo às pessoas que estavam nos hospitais e que não devem ter acesso à comida servida lá. Embora, creio, comida de hospital não é páreo para qualquer comida gostosa, segundo me consta. Alguns dos bolos estavam bem acondicionados e tinham uma aparência boa, além de preço justo e abelhas e moscas pareciam concordar com isso, insistentes que estavam em se aproximar.
Passando em frente a uma loja de doces, no quarteirão seguinte, resolvi entrar para comprar algo que me impedisse de dormir durante a reunião que me aguardava. Aproveitei para admirar a imensa variedade de chocolates recheados com sabores inusitados, como chocolate recheado com bolacha ou com chocolate mesmo, o que nem vi muita vantagem, mas depois de alguns minutos fiquei incomodada com o segurança que me seguia pelos corredores sorrateiramente (ele deveria achar que estava invisível). Concluí que ou ele deveria estar entediado, ou me achando uma pessoa incrível ou, lamentavelmente, eu estava com cara de meliante. Gastaria minha primariedade com o furto de um chocolate, ainda mais recheado com chocolate? Saí da loja sem levar nada, já pensando em repaginar o visual, sei lá.
Antes de chegar ao meu destino ainda me defrontei com o que me pareceu uma janela aberta para o passado, com uma planta com estranhos frutos e até mesmo encontrei uma figura bíblica, mas isso já é assunto para outro texto derivado das minhas andanças.