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- Escrito por: Cinthya Nunes
Não que eu seja terminantemente contra, mas me parece que há certo exagero nessa onda de harmonização facial que, nos casos extremos, vem transformando várias mulheres em clones loiros, esticados e com boca de pato. É claro que também não gosto de envelhecer, não fisicamente. Tenho curtido o processo de amadurecimento, pois isso tem me proporcionado mais bônus do que prejuízos, mas se eu pudesse, não hesitaria as minhas células como estavam há vinte anos. Só que não dá, simples assim.
Então, já que o caminho é só de ida, vida que segue. Sou a favor sim de intervenções plásticas, eis que em muitos casos, mais do que estéticas, são terapêuticas. E tudo fazer ajustes cá ou lá. Penso que devemos estar bem como nossos corpos e que a saúde mental se espelha na física e vice-versa. É o excesso que, creio, não é lá muito saudável.
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- Escrito por: Cinthya Nunes
Vivenciei alguns momentos assustadores nessas minhas décadas vividas. Já fui assaltada a mão armada uma vez, já presenciei e estive em meio a acidentes automobilísticos, entre outras coisas. Nenhum deles, no entanto, se equipara ao pavor que sentia, quando criança, de que um dos meus pais morresse. Era comum que eu sonhasse com isso e acordasse aos prantos, mas no alívio de saber que se tratava de um sonho.
Tenho ainda a alegria da companhia de meus pais, mas durante a vida fui perdendo outras pessoas próximas, familiares e amigos, das mais diferentes causas, inclusive recentemente. Compreendo, racionalmente, a morte como a outra faceta da vida, como a ponta de uma linha cujo comprimento e espessura desconhecemos. Recebemos, de forma inconsciente, um carretel que julgamos infinito e na confusão dos nossos dias vamos desenrolando aleatoriamente o fio da existência.
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- Escrito por: Cinthya Nunes
Quando Marina contou para os pais que estava de namoro firme, Seu Joca suspirou aliviado. Depois que os dois filhos mais velhos se casaram, ele e Dona Márcia sonhavam com o dia em que poderiam se mudar para a praia, para o apartamento de um único quarto, na orla de um tranquilo balneário. Tinham tudo planejado há anos, mas Marina nunca que arredava pé da casa dos pais.
—Mas que boa notícia! E quando vamos conhecer o sortudo? – disse o pai, tentando disfarçar a empolgação.
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Não sei vocês, mas para mim parece que outubro se eternizou. Segundo o dito popular agosto é o mês do cachorro louco e nunca entendi direito isso, até ler que no Brasil, as condições do clima nesse mês favorecem que as cachorras entrem no cio, deixando os machos meio loucos mesmo, sendo comuns as brigas para ver quem consegue acasalar. Talvez haja outras explicações, mas essa foi a que encontrei. Esclarecido o dito popular, aqui com meus botões eu acho que, diante de tantos animais castrados, o mês da loucura está para perder o seu pódio para outubro.
Curiosamente, os dois outubros anteriores foram meses especialmente complicados para mim, em termos de trabalho, e eu fiquei, de lá para cá, com a sensação de que esse mês fez algum trato com o calendário e surripiou uns dias de janeiro, porque as férias a gente nem vê passar mesmo e aí fica mais fácil enganar nossas sensações.
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Minha vontade hoje é de escrever sobre um tema do qual normalmente não gosto e ao qual não costumo dedicar minhas linhas. Contudo, em tempos sombrios de censura à liberdade de expressão, ainda que se tente justificar o injustificável, é com a voz presa na garganta e com as palavras amarradas nas pontas dos dedos que escreverei sobre o que ainda se pode falar.
Conforme já escrevi em outras ocasiões, eu crio abelhas sem ferrão. São abelhas pequeninas, nativas brasileiras, dóceis e inofensivas. Comprei as colmeias, que vêm em pequenas caixas de madeira e as coloquei no nosso pequeno quintal, entre as muitas flores que cultivo em vasos.
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E depois de dois anos, lá fui eu, pela primeira vez desde então, usar o metrô como meio de transporte. Como minha vida mudou de rumo um pouco antes da pandemia, eu já vinha diminuindo bastante minha frequência como forma de me locomover. Depois do coronavírus então, aí sim que, trabalhando quase cem por cento em home office, evitei o quanto pude, mas apenas por conta de receio de contágio.
Agora, passado o pior e a vida, de um jeito ou de outro, retomando seu curso, precisei ir até o centro de São Paulo e decidi que o metrô seria o jeito mais rápido. Em verdade sempre gostei. Posso ir de um lado a outro sem enfrentar trânsito, lendo ou escutando algo que me interesse, como relativa segurança. Mas a grande verdade é que gosto de observar as pessoas. Todo cronista é um curioso contumaz, aliás.
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Admito que não gosto muito de escrever sobre política, muito menos em tempos de eleição, mas o que tenho visto, ouvido e lido nos últimos dias praticamente me arremessou para tela do computador, sem alternativa de assunto.
Considero esse pleito presidencial algo muito singular, porque os dois candidatos são, cada qual por motivos diferentes, ou muito odiados, ou muito idolatrados. Vou me reservar ao direito de não adentrar nos méritos e deméritos sobre os presidenciáveis, eis que, a esta altura das coisas, cada eleitor já deveria estar a par deles, de um lado ou de outro.
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No ano passado a tentativa não foi bem-sucedida. Ao contrário, resultou em tragédia, sem nunca termos certeza sobre o autor dos crimes. Após certa análise do local, o pessoal da rua concluiu que um gato fora o responsável por destruir o ninho dos sabiás. Já haviam nascido dois filhotes que foram brutalmente assassinados, para desolação dos pais, que ficaram ainda uns dois dias rondando os destroços do ninho.
Aqui no nosso bairro temos, por ora, o privilégio de observar, nas áreas verdes que nos cercam, ninhos de algumas aves, como beija-flores, maritacas, João-de-barro, rolinhas, bem-te-vis e, entre outros, os sabiás laranjeiras. Assim, há quase um ano um casal do seresteiro da madrugada resolveu fazer morada em uma árvore da rua.
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Quando eu vi, um pouco antes da pandemia, que nascia uma planta na área verde de um de meus locais de trabalho, soube que era uma amoreira. Incumbida que eu estava de fiscalizar a limpeza do mato que precisava ser retirado do local, orientei ao jardineiro para não retirar aquela que era promessa de frutos deliciosos.
Pouco mais de dois anos depois e a pequena planta se transformou em uma árvore alta e frondosa. Pela minha experiência anterior com amoreiras, os primeiros frutos já deveriam ter aparecido, mas ao invés deles, só notei umas estruturas parecidas com amoras atrofiadas, que após ficarem ligeiramente brancas, secavam e caiam. Estranhei, mas pensei que poderia ser algo pontual, talvez causado por falta de adubo adequado.
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—A senhora tem certeza disso? É uma decisão muito importante e nem sabemos se é o momento mais adequado.
—Nunca estive tão decidida. Foram longos setenta anos. Estou exausta. Acredito que cumpri com o combinado. Por favor, comunique que estou voltando em muito breve. Verifique a possibilidade dos cachorros irem comigo. Eles nem são daqui mesmo. Todos sabem que os cães fazem parte de uma espécie mais evoluída.
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1ª testemunha ouvida pela polícia: Osmar, cozinheiro
Sim, eu vi quando a mulher atravessou a rua. Não sei o nome dela, não senhor. Só sei que comprava feijoada aqui todo sábado. Idade? Uhum, nova ainda. Uns cinquenta e poucos? Tava sempre bem arrumada, com essas coisas de maquiagem na cara, então num dá muito para saber. Mas era bonitona.
Não sei se ela tem família aqui no bairro também. Só posso dizer que vi o acidente. E eu vi porque tava fumando ali na frente. Era hora do meu intervalo e gosto de olhar o povo que passa. Aqui neste lugar, neste bairro de gente chique é tudo diferente de lá de onde eu moro, sabe? Lá o povo grita na rua o tempo todo. É criança e cachorro para todo lado.
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Apesar de tudo, eu seria brasileira outra vez. Claro que admiro a cultura e o desenvolvimento de outros países e gostaria de morar em um lugar mais seguro, com menos desigualdade e criminalidade. Mas ainda assim, se me fosse dada a escolha, acredito que ser brasileira, no mínimo, faria parte do top cinco. Há sentimentos que não explicamos, apenas experimentamos.
Este país, de dimensões continentais, é rico das formas mais importantes. Pena ser tão pobre de tantas outras. Para além dos recursos naturais, da beleza da fauna e flora, da comida que nasce quase sem esforço, o Brasil é um gigante, embora de pés amarrados. Assim, ao invés de caminhar livremente, de avançar pelo que se chama de progresso saudável, o país tropeça a cada curto passo, vilipendiado de muitos modos.
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Todas as semanas, há vinte e dois anos, separo um tempo para escrever o texto que segue para publicação nos jornais. Em alguns momentos tenho tantos temas se anunciando e brincando de roda em minha mente que fica até difícil escolher. Há dias nos quais o texto já surge pronto, somente esperando a hora de ir para o papel. Nesse tempo todo já tive ainda, várias vezes, o famoso branco, a ausência total de inspiração.
Hoje, depois de protelar ao máximo, entendi que não nasceu em mim nenhuma ideia em específico, porque talvez eu não esteja com ânimo literário para grandes dilações. Vivemos tempos delicados, nos quais escrever sobre temas polêmicos pode gerar inimizades, mal-entendidos, cancelamentos e até processos. Complicado demais isso em ano de eleições, entre outras coisas.
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—É por causa de gente como você que eles são como são, Amanda.
—Como assim gente como eu, Luzia? O que foi que eu fiz?
—Para variar, nada. E isso é a principal causa de tudo. Vocês não entendem o nosso lado, porque para vocês tudo sempre foi muito fácil.
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Não sei se fui sempre assim, mas não gosto de vento. Exceção honrosa faço para a brisa, principalmente se for na praia, em um dia de sol, ou em tardes abafadas, prenunciando a noite amena. A brisa refresca, alivia, acalma, acaricia. O vento é outro departamento. Bagunça tudo, desde o cabelo que me entra pela boca ou me invade os olhos, até minhas ideias.
Em algum momento de minha vida o vento e eu tivemos alguma espécie de ruptura e desde então não recuperamos nosso relacionamento, talvez algo que seja definitivo, no fim das contas. Pode até ser que haja certa dose de implicância de minha parte, mas o sujeito é desaforado. Bate portas, janelas, levanta saias distraídas e rouba chapéus desprevenidos. Sem dizer que traz frio ou poeira.
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—Vêdi, eu tenho que levar uma roupa para tomar banho. Preciso de um vestido, uma calcinha e um perfume.
—Anda logo. A gente tem que sair rápido. A empregada não pode ver.
Corri para arrumar minhas coisas. Antes de sair dei uma olhada na minha irmã de um ano e meio que dormia em um dos quartos.
Minha prima e eu, minutos antes havíamos combinado de ir até a casa dela, sem que ninguém soubesse. Nossos pais haviam nos deixado sob os cuidados da mulher que ajudava minha mãe nos serviços domésticos, para irem ao velório de um familiar.
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—Vai logo! Ela vem vindo. Tira daí.
—Eu? Nem matando. Você que deixou cair. Coloca a mão lá e pega. Puxa rápido.
—Mas tem o seu xixi lá dentro. Isso é muito nojento. Ecaaaa.
Minutos antes, as duas meninas, de doze e oito anos, brincavam com o par de brincos de pressão que retiraram escondido do porta-joias da irmã mais velha. Carla, que não tinha orelhas furadas, gostava de usar brincos exagerados, afinal eram os anos oitenta e a palavra exagero parecia ter outro significado, ao menos na moda.
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Uma pequena mala já bem gasta, algumas sacolas e um cobertor popular. Sentado no ponto de ônibus há dias, ele permanece como se esquecido de partir, esperando por algo ou alguém que nunca se faz chegar.
Era alfaiate, segundo soube. Perdeu o emprego e, sem família e recursos, acabou na rua, despejado do quartinho e das esperanças que ocupava. Desde então sobrevive pelo bairro, abrigado nas estruturas de pontos de ônibus. Se bebe ou usa drogas, não demonstra. Possui semblante altivo, embora humilde. Parece constantemente mirar o horizonte, embora eu não saiba interpretar aquele olhar direcionado ao nada.
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Um pouco de azul e amarelo e vai surgindo um verde. Um toque de branco e surgem tons pasteis. Alguma nuance de vermelho e a cor desejada nasce, pronta para cobrir o desenho sobre o papel, em um processo quase alquímico. Um vasinho com flores brancas de miolo amarelo como modelo e por quase duas horas, pela plataforma zoom, a professora e outros três colegas, cada um morando em um canto do Brasil, misturamos cores, pintamos e conversamos.
Horas antes e o dia não tinha sido dos melhores. Todos nós temos nossos dias ruins, afinal. Aqueles momentos em que questionamos escolhas, lamentamos a sorte ou a falta dela, além de ressuscitarmos velhos dilemas pessoais. Quase desmarquei a aula, porque não estava realmente no clima. Ainda bem que não o fiz.
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O chão está forrado delas. Juntas, formam um tapete de tom entre rosa e roxo, cobrindo de vida o asfalto, as pedras e os carros da pequena rua onde moro. Imenso, o ipê está florido como nunca o vi antes. Sobrepondo-se aos telhados dos sobradinhos, nessa pequena área ainda não dominada por arranha-céus, parece um ramalhete, contrastando com o azul desses dias claros.
Não sei precisar há quanto tempo está aqui, mas pelo relato de alguns moradores, suponho que tenha sido plantado cerca de quinze anos atrás. Por várias vezes foi ameaçado de morte, no entanto. Vítima da cisma de alguns e da implicância gratuita de outros, já esteve com as motosserras rugindo próximas a ele por algumas vezes. Nas últimas vezes, com ajuda de amigos, consegui impedir, embora nunca saiba até quando.
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Às vezes eu o persigo, mas na maior parte do tempo, é ele quem me domina. Minha relação com o sono é meio esquizofrênica, admito. Poucas vezes estivemos divorciados e, assim, houve mesmo um tempo em que sofri de certa insônia. Naqueles dias, era com desespero que aguardava pela chegada do meu amigo quase inseparável, vendo as horas se sucederem e madrugada ir se transformando em dia.
Quando o sono resolve se apossar de mim, por outro lado, tudo muda de figura. Certa vez, com um casal de amigos, fomos assistir a uma apresentação de música clássica. Era tarde da noite, estava muito frio e aquela sexta-feira fechava uma semana bem atribulada. Meu intento era o de prestigiar os músicos talentosos que se apresentavam, mas naquele misto de silêncio e som, fui sendo tragada para outro mundo e posso afirmar que foi tudo um sonho, literalmente.
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A corretora estava na porta da casa de dois andares, encravada no meio de um bairro antigo da cidade. Era baixinha e estava toda vestida de preto, uniforme das corretoras de residências mágicas. Exigência do sindicato, para passar credibilidade aos futuros compradores ou inquilinos. A sociedade mágica estava cada dia mais exigente.
A família interessada naquela residência era composta de um casal e uma criança de uns cem anos de idade. Eram meio duendes e pela primeira vez naquele século, depois de passarem pela rigorosa análise documental, tinham conquistado o direito de morar na cidade grande, em meio aos humanos comuns.
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Eu escutava os murmúrios que aos poucos iam fazendo sentido. Eram orações. A procissão passava na rua de casa e da janela do quarto onde eu dormia com minhas irmãs, espiávamos as pessoas que, de madrugada, seguiam por vários quarteirões rogando ao Criador.
Os tapetes de Corpus Christi enfeitaram as ruas e de algumas cidades nas quais passei minha infância e minhas lembranças daquela época são mais afetivas do que religiosas. Sei que até hoje é uma tradição que se manteve em cidades pelo interior do Brasil, inclusive. Trazida ao Brasil no período da colonização, a prática portuguesa remete à acolhida de Jesus em Jerusalém.
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Mal eram onze da manhã e toda a família já conseguia ver que tia Nicoleta estava bêbada. Todo domingo era a mesma coisa, fazia mais de vinte anos. Ela começava a cantarolar as músicas italianas do tempo das vitrolas. Eu até já conhecia algumas de cor, de tanto ouvir. Com o rosto afogueado, a tia ficava com a voz mole, escorregadia. Parecia até que as palavras queriam fugir, cansadas daquela mesmice, mas ela não deixava.
Zia Nicoleta, poveretta, era uma mulher triste. Tudo culpa do Nonno Nino, que a proibira de se casar com o Manuel, o português dono da padaria do bairro. Nunca mais Helena quis se casar ou namorar ninguém. Era mulher de um só amor, dizia. Vivia das lembranças do primeiro beijo e da tristeza da despedida, depois do Manuel ir embora num repente, sem avisar ninguém.
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Não sou daquelas pessoas que resolvem ou agravam seus problemas através da comida. Minha relação com ela sempre foi tranquila. Aliás, caso algo esteja mal, seja dentro ou fora de mim, perco o apetite por completo. Por outro lado, entendo o conceito do que se chama modernamente de comfort food, ou em bom português, comida reconfortante.
Há alguns anos, enquanto assistia a um programa de tv, ouvi essa expressão e fui me informar sobre o assunto. Trata-se daquela comida que traz uma sensação de alívio, de conforto, que remete às coisas simples da vida, da infância. Em resumo, aquela comidinha de mãe, de vó, das tias e de todas as pessoas que, através da comida, compõem nosso universo passado de boas recordações.
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Depois das três ou quatro doses da vacina e da quase total abolição do uso de máscaras, a maior parte das pessoas retomou a vida normal, seja lá o que isso significa agora. Reuniões com amigos e festividades com aglomerações foram retomadas e, em alguns momentos, é até possível esquecer a existência do flagelo chamado COVID.
Certo que diante de um cenário de crise política, alta de preços e desemprego, não há exatamente a alternativa, para grande maioria dos brasileiros, de se ficar em casa, trancado, à espera de que seja cem por cento seguro novamente. Até mesmo porque, parece-me, nunca foi e nem nunca será.
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Odeio frio. Em verdade nem sei se é ódio. Apenas sinto que o frio é, em muitos sentidos, incompatível com a vida. Com a minha vida, por certo. Exageros à parte, admito que até há glamour em locais turísticos, onde o frio significa, para os que lá estão a passeio, um menu de comidas reconfortantes, boas bebidas, roupas elegantes e passeios temáticos. Disso também gosto, é claro.
O frio raiz, aquele que vem me dizer olá assim que o alarme do celular toca, dando notícias de que tenho que me aprontar para mais um dia de trabalho, já não me seduz e nem me convence das suas boas intenções. Ainda mais um frio meio fora de época como este que a maior parte do Brasil tem vivenciado neste mês de maio. Ao leitor do futuro, àquele que porventura encontre esse texto perdido em algum canto do multiverso ou esquecido na forração de uma gaveta, esclareço que estamos no ano de 2022.
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Eu a encontrei no chão, no meio da calçada, quase esmagada. Era um galhinho de uma planta bem roxa, bastante usada para ornamentar canteiros. Isso foi antes da pandemia começar, nos meses que a antecederam e nos quais sequer sonhávamos com o coronavírus. Eu tinha acabado de sair de dois empregos que me garantiam, além de satisfação pessoal, certa tranquilidade financeira. Minhas ideias e sentimentos estavam se desprendendo de mim, fragmentados.
Embora fosse inverno e estivesse bem frio, fazia sol e havia céu azul. Sem saber direito o que fazer na ausência da pressa que até então me acompanhava, eu estava a caminho da natação, quando a notei. Desconheço a razão, mas me apiedei daquela planta que, metade já esmagada e ressentida pela falta de água, ainda oferecia ao mundo uma pequenina e delicada flor rosa. Mentalmente “fizemos” um combinado: se ela estivesse ali quando voltasse, eu a levaria para casa.
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Há cinco anos eu ganhei uma gatinha. Era minúscula. Pesava pouco mais de trezentos gramas. Segundo a amiga que a resgatou, bem como aos demais de uma ninhada de cinco, era mestiça de maine coon, uma espécie de gatos gigantes. Seria a terceira felina da casa. Eu esperava um gato gigante e trouxe para casa uma criaturinha que nem parecia de verdade. Demos a ela o nome de Mini.
Apesar de todos nossos esforços e dos veterinários da família, Mini viveu apenas mais algumas semanas. Tal como os outros três irmãos, era doente. Chorei demais por aquela vidinha tão frágil que não consegui salvar. Minha gigante em miniatura fora resgatada em condições muito insalubres, de total abandono. Eu esperava ter sido capaz de salvá-la, mas não fui.
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A massa escura que eu não distinguia direito era mesmo um morceguinho morto. Estava com as asas enroladas em volta do corpo, tal qual uma bolinha. Uma das cachorras olhava para ele, aparentemente sem entender do que se tratava. Impedimos, em tempo, que fizesse uma verificação com os dentes e língua.
Algumas horas antes eu havia colocado o néctar dos beija-flores e das cambacicas que, de noite, é consumido pelos muitos morceguinhos que aparecem no nosso quintal. Sempre me pergunto de onde eles vêm, pois surgem um pouco depois das 20h e, fazendo acrobacias áreas, dão rasantes pelas cabeças de quem se encontrar na pequena e verde área externa que possuímos.
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Há alguns anos venho fazendo compostagem com os resíduos orgânicos de minha cozinha. Em três caixas sobrepostas, minhas minhocas tratam de dar fim a cascas de ovos, cascas de frutas, pão seco e outras coisas, transformando tudo em humus e chorume que depois uso em meus vasos, como adubo.
Quando eu conheci o projeto que é desenvolvido em uma praça próxima de minha casa (Praça Pablo Garcia Cantero) aqui na cidade de São Paulo, descobri que há outras formas de se fazer compostagem, sem o uso dos simpáticos nematelmintos. O processo de compostagem termofílica é biológico e transforma resíduos cuja destinação seriam aterros sanitários, em compostos orgânicos ricos em nutrientes.
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Há tempos sou assombrada por ele. Não o conheço pela face, eis que tenho evitado, por décadas, encará-lo frente a frente. Acredito que ele tenha se chegado a mim bem cedo, perto dos nove anos de idade. Foi quando arrisquei meus primeiros poemas.
Descobri que sabia fazer rimas e juntá-las no que me ensinaram chamar poesia. Embora eu me orgulhasse delas, o Monstro já se fazia presente.
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–Mãeeee, eu quero aquele ovo grandão! Esse é feio. Nem é grande e nem é do Batman.
–Filho, esse aqui é gostoso também! É de chocolate igual ao do Batman, mas é da vaquinha feliz.
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Eu o conheceria em poucas horas. Meu coração estava aos pulos. A noite passada fora um misto de sonhos, pesadelos, de sentimentos que não posso explicar. Tudo o que eu tinha até aquele momento eram fotos. Muitas, por sinal. Ele era lindo, isso era inegável, mas eu não estava segura de como me sentiria ao vê-lo, ao tocá-lo, se chegássemos a tanto.
Acordei muitas horas antes do relógio me lembrar que aquele não era um dia qualquer. Mudei tantas vezes de roupa. Prendi e soltei meus cabelos. Escolhi perfume, óculos, sapato.
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—Pode deixar comigo. Já assisti a três vídeos no YouTube e chegou o kit de tesouras que eu encomendei. Mas pensando bem, e se ficar horrível?
—Daí eu raspo careca, ué?!
Com a garantia de que haveria uma solução em caso de fracasso, durante a pandemia me tornei cabeleireira amadora. Para alívio de todos, não criei nenhum sósia do Kojak ou, para que os mais jovens entendam, do Meu Malvado Favorito.
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— Quer dizer que agora não precisa mais usar máscara? Liberou geral?
—Não é bem isso. Não precisa mais em ambientes abertos e, nos locais fechados, só no transporte público e locais de atendimento à saúde, tipo hospital, essas coisas.
—Até que é bom isso né? Ou não é? Eu nem sei direito se fico feliz ou chateado.
—Ué, chateado por quê? Não é bom respirar livremente outra vez, sem aquele treco sufocante? Eu pelo menos estou comemorando.
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Não queria mesmo escrever sobre esse assunto. Aliás, queria fingir que a guerra entre Rússia e Ucrânia nem existisse. Tentei, confesso, o quanto pude. Evitei ao máximo ler os jornais ou acompanhar os noticiários a respeito.
Sempre tiver pavor de guerras. As aulas de história, cheia de estatísticas e número de mortos, deixavam-me arrasada.
Não entendo a maior parte dos argumentos que justificam uma guerra. Por mais que se queira explicar, no fim das contas tudo é uma questão de dinheiro, poder, dominação. Duvido é das motivações dos senhores da guerra, daqueles que se colocam confortáveis e protegidos atrás de supostas ideologias, pelas quais tantos jovens sucumbem, privados de uma vida que poderia ser muito maior.
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Comecei escrevendo poesia, mas minha prosa logo encontrou o rumo que desejava: escrever para crianças e jovens. Aventurei-me nesse caminho antes de me tornar cronista e publiquei alguns livros infantis que me deram o melhor dos retornos possíveis: leitores. Não há qualquer sentido, segundo creio, em ser um escritor que ninguém lê. Todo aquele que escreve tem, mesmo que não confessado, o desejo de que suas palavras sejam colhidas por outras pessoas, que possam fazer eco dentro de outras mentes.
Realmente perdi as contas de quantas cartinhas recebi de crianças que, juntamente com suas professoras, trabalharam meus textos nas salas de aula. Certamente foram quase duas centenas. Sei que não é um número expressivo para um escritor de sucesso, mas para mim sempre foram um presente, algo que ia muito além do que eu esperava.
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—Mas em tudo há poesia – disse-me ele, sem desgrudar os olhos do céu – a poesia mora até mesmo nas palavras e, às vezes, existe apesar delas.
Terminou assim o módulo de poesia do meu curso de escrita criativa, com frases de um professor que me trouxe de volta o apreço por um gênero do qual me afastei há vários anos.
Comecei a me expressar, na escrita, pela poesia. Gostava de formar versinhos, de brincar com rimas, de ler poesia de gente grande, repleta de imagens que me seduziam em significados que eu não era capaz de compreender.
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Polêmicas à parte sobre o autor, sempre fui encantada pela personagem Emília, do Sítio do Pica-pau Amarelo. Achava incrível uma boneca que falava, era inteligente, marrenta e cheia de imaginação e tudo sem ter um coração! Até noiva de um Marquês ela foi. Tudo bem que o tal nobre era um porquinho, mas para alguém feita de pano, estava de bom tamanho.
Meu fascínio pela Emília se devia principalmente ao baú que ela possuía. Quantas vezes peguei uma caixa de sapatos, na falta de algo melhor e fingi que era o meu baú de lembranças e coisas incríveis. Viajei para lugares impensados usando o pó de pirlimpimpim fabricado pelos meus devaneios. Guardava dentro do meu “baú” uma série de coisinhas inúteis, mas que eu fazia repletos de significados só meus.
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- Escrito por: Cinthya Nunes
O duro foi permanecer sentada e olhando para o computador enquanto o morcego dava rasantes na minha cabeça. Tentei manter a dignidade e não gritar muito diante da plateia formada pelos meus cerca de cinquenta alunos da faculdade de Direito. Fiz o que pude, mas inevitável um gritinho ou outro, sempre que o filhote de drácula se aproximava.
Foi tudo culpa da Chica, minha gatinha frajola que, além de gulosa, é exímia caçadora. Só que ela não captura para comer e, para sorte das presas, nem para matar. Apenas, creio, tem certeza ou esperança de que irei apreciar a oferenda e, gentilmente me traz esses presentes. Chica Maria Eustáquia Borges, para citar o nome completo da bichana, é uma criatura curiosa, a propósito. Irmã mais velha dos outros quatro gatos que adotei, vivia pelas ruas quando filhote, até ser encontrada por uma aluna e vir parar aqui em casa. Não pode me ver ou me ouvir falando diante das telas do computador ou do telefone, que aparece do nada e se esfrega em minhas mãos como se não me visse há décadas.
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- Escrito por: Cinthya Nunes
Foi água para todo lado. Parecia enchente, mas era “só” um dos meus aquários que explodira. Tá, ok, ele não explodiu propriamente, mas o vidro rachou de repente e a água, todos os oitenta litros, começou a sair tal a comporta de uma represa rompida. O susto foi grande, admito. Quando escutei o barulho, achei fosse uma torneira esquecida aberta, ou algo assim. Demorei um pouco para processar o ocorrido e para reagir, pois tinha dois peixes para salvar do contrário de um afogamento.
Nada entendo de astrologia, mas tenho há muito a sensação de que ser do signo de Peixes, de algum modo, atrai água. Consultei o oráculo Google e descobri, através do horário do meu nascimento, que sou Peixes com Ascendente em Peixes. E o que isso significa? Não faço a menor ideia, exceto que provoca um aguaceiro que corre pelo meu verso e pelo meu avesso. A par disso, gosto muito de água, mas a questão é outra. Sou uma espécie de ímã involuntário para esse elemento.
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- Escrito por: Cinthya Nunes
“Desculpe, mas somente seres humanos podem realizar essa operação” - foi a mensagem que apareceu na tela assim que tentei me inscrever em um curso online. Era preciso clicar, inicialmente, em um campo para provar que eu não era um robô. Como me atrapalhei porque estava fazendo duas coisas ao mesmo tempo, acabei por pular essa etapa, ao que fui logo advertida pelo sistema.
Eu suponho que isso se dê para evitar o envio de mensagens automáticas indevidas ou mesmo a instalação fraudulenta de programas maliciosos. Assim, ao tomarmos essa pequena precaução, em tese, o sistema nos reconheceria como seres humanos, pressupondo, portanto, que estamos realizando a operação de forma consciente.
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- Escrito por: Cinthya Nunes
Gostem ou não, algumas coisas estão mudando para melhor, mesmo que a passos muito lentos. Há algumas décadas as pessoas falavam abertamente, sem qualquer risco de reprimenda, que iriam jogar filhotes de gatos dentro de um rio ou que levariam animais para longe, para que não soubessem mais como voltar. Toda forma de abandono e de crueldade parecia justificável para alguns e, o pior, na quase totalidade dos casos, não havia o menor risco de punição.
Lamento que ainda hoje haja uma parcela de pessoas indiferentes a essas práticas abomináveis e, pior, que submetem os animais a maus-tratos.
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- Escrito por: Cinthya Nunes
Carnaval de rua cancelado aqui em Sampa. As centenas de blocos que já estavam autorizados vão ter que recolher a serpentina que nem foi lançada. Pago para ver. Tenho certeza de que blocos de rebeldes haverão de sambar, sub-repticiamente, por ruelas dos bairros paulistanos. Festa de máscaras, literalmente. Ao menos deveria ser.
Mas o desfile no Sambódromo está garantido por ora. Lá, por certo, afirmam as autoridades, será possível rigorosa fiscalização. Ademais, será ao ar livre e o vírus, empático, não vai contaminar ninguém. Se for Lua minguante então, sem chance. Assim como na praia, onde o vírus morre pelo sol e pelo sal. As chances de dar errado são mínimas. Para o vírus, acredito.
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Nada novo, de novo
A gente bem que gosta de pensar que um novo ano possa ser melhor do que o anterior. Por razões místicas ou religiosas, muitos de nós apostam as fichas no ciclo que se reinicia tão logo nosso planeta termine seu giro em torno do Sol. De minha parte fico sempre na torcida por melhores notícias, por esperanças que se renovem, mas já passei da idade de acreditar que só a troca de números no calendário seja suficiente para transformar as coisas.
Como faço todos os anos, fui para o interior aqui do estado de São Paulo para passar uns dias com meus pais, irmãs e sobrinhas. Andando a pé pela cidade, notei, com tristeza, que tal qual acontece aqui na capital, há muito lixo pelas ruas, nitidamente descartado de forma negligente e impune pelas pessoas. Não há serviço de coleta que dê conta, seja lá ou cá.
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Últimos dias de 2021 e era inevitável pensar no ano que se aproximava. Para Mariana era sempre a mesma coisa. Ela sabia que nada mudaria só porque o calendário trocaria um número dali uns dias, mas ainda assim fazia planos. No dia 1º começaria o regime definitivo: zero carboidratos, muitas frutas vermelhas e suco de gabiroba. Tia Ângela tinha garantido que era tiro e queda. Se bem que o melhor seria começar no dia 03, uma segunda-feira.
Acho que nem faz muito sentido um regime começar no domingo, pensou Mariana. O churrasco na casa da tia Lila também não era propriamente um incentivo. Ela levaria pavê de uva e seria um desperdício não comer algo de que gostava tanto. Talvez ela tomasse algumas cervejas também. Cerveja contava como carboidrato? Precisava conferir esse ponto com a Tia Ângela urgentemente.
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Mais um Natal chegando e a família Nogueira, tal como nos últimos oito anos, faria o sorteio de quem desempenharia o papel de Papai Noel. Após o nascimento das gêmeas Sofia e Isa, os avós, Seu Bilu, como era mais conhecido, e Dona Joana, transformaram em tradição a visita especial do “bom velhinho” nas noites de 24 de dezembro.
Havia um sorteio envolvendo tios e primos, todos ansiosos para conferir quem teria a melhor performance. A coisa toda envolvia uma série de preparativos, pois a entrada deveria ser triunfal. As meninas, agora com 8 anos de idade, já estavam difíceis de serem enganadas. No ano anterior, o tio Agenor é que fora o contemplado e resolveu que seria um Papai Noel moderno, mas quando arriscou a primeira fala foi desmascarado pela Bisa Marieta, que aos 94 anos não sabia mais nem onde estava.
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Venho escrevendo crônicas há mais de vinte anos, semanalmente. Normalmente, quando comento tal fato com alguém, perguntam-me como faço para ter assuntos novos para tantos textos, como se fosse algo que demandasse algum esforço extra ou alguma qualidade especial. Sinto decepcionar quem pensa assim. Em verdade, trata-se apenas de uma coisa: observação. Explico-me.
Nunca vou a lugar nenhum sem observar tudo ao meu redor. O segredo, talvez, seja prestar atenção nas coisas certas, naquilo que, de ordinário, não se costuma notar. Acredito ser esse o grande trunfo do cronista: possuir olhar que se direciona para lugares, pessoas ou situações inusitadas. E assim, como a vida não se repete, como há coisas novas o tempo todo, há sempre assunto que possa ocupar de modo razoavelmente interessante, as linhas de um espaço em branco.
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Natal chegando e penso que vale a pena repassar algumas regras básicas de etiqueta e convívio. Nesse período do ano é comum trocarmos presentes com aqueles que nos são queridos, mesmo que sejam pequenos mimos. Em tempos de crise, de vacas não tão gordas, acredito que o gesto de presentear alguém mereça ao menos a consideração alheia.
Gosto muito de receber presentes e nunca deixei de valorizar todos aqueles que recebi. Por sorte sou uma pessoa que gosta de quase todo tipo de coisa. Sou uma pessoa fácil de presentear. Plantas, doces, pães, livros, papel para pintura, tintas, cosméticos, linhas, roupas, bolsas, sapatos, cursos, perfumes, bijuterias, jogos, uma poesia e até mesmo simples caixas estão entre as coisas que enchem meu coração e meus olhos.
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A menina tinha nome de gente grande: Sebastiana. Era, no entanto, bem pequena, com pouco mais de sete anos. O apelido, porém, era de gente miúda: Nena. Órfã de pai, foi deixada pela mãe aos cuidados da madrinha, mulher de posses, para que tivesse chance de uma vida melhor.
Nos anos vinte não era propriamente um escândalo que uma criança de pouca idade fosse tratada como serviçal, sobretudo em se tratando de alguém de família sem recursos. Assim, Nena, cuja mãe esperava que seria tratada como filha, como hóspede, foi incumbida de muitas e pesadas tarefas domésticas, sequer frequentando a escola. Embora seja compreensível e esperável que se lamente esse fato, essa não é uma história sobre a tristeza.
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No Brasil, há alguns meses, temos experimentado a sensação de que as coisas, aos poucos, voltam aos seus lugares. Com mais da metade da população vacinada, renasce a esperança de dias melhores, de alguma normalidade. Embora nada traga de volta os dias e as vidas perdidas, é preciso prosseguir, é necessário encontrar algum ponto de apoio para ser possível sobreviver. A história da humanidade é inegavelmente resultado da capacidade de adaptação, mesmo diante das maiores tragédias.
Contudo, esse delicado equilíbrio está em risco outra vez. No mundo todo começam as notícias sobre uma 4ª onda do vírus e ainda não há exata dimensão sobre a eficácia da vacina diante das novas investidas do atual inimigo número um dos seres humanos. Alguns países já fecham fronteiras e colocam seus cidadãos dentro de sete chaves. Enquanto aqui, no Brasil, vivemos um aparente momento de respiro, o ar puro e seguro começa a ficar escasso ao nosso redor.
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Dando sequência aos textos sobre ditados populares, escrevo hoje, por sugestão de um leitor da cidade de Bauru, sobre a expressão popular “Comigo não, violão”. No corpo do e-mail veio também um arquivo com uma música antiga, cantada por Francisco Alves, que leva o mesmo nome. A música me é vagamente familiar e talvez eu a tenha escutado quando criança, mas mesmo sem conhecer o sentido exato ou a origem da expressão, já a utilizei muitas vezes no contexto de muitas frases.
Nesse caso, creio, o significado é claro, ao menos para aqueles que já passaram dos quarenta. De acordo com dicionário informal, é frase utilizada como recusa para alguma atividade ou algo impossível. Quase como o atual (ou nem tanto?) “tô fora”. Muito provavelmente, no entanto, os mais jovens sejam incapazes de identificar o sentido dessa frase. Enquanto alguns ditos populares parecem eternizados pelo contínuo uso, outros vão desaparecendo quando perdem o contexto inicial ou, na melhor das hipóteses, perdem o sentido original.
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–Você me desculpe! Eu nem costumo usar o banheiro fora de casa, a não ser para um xixi rápido. Fico morrendo de vergonha, porque sei que a coisa está feia, mas acho que foi mesmo o acarajé que comi ontem à noite.
–Ah, sem problemas. Entendo perfeitamente. Eu mesmo só corri aqui porque achei que a essa hora os banheiros desse andar ficavam vazios, porque não vi ninguém por aqui perto. Saí apressado de casa e nem tive tempo de gastar minha meia hora regulamentar no banheiro.
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Em texto anterior escrevi sobre a origem da expressão popular “Vá plantar batatas”. Muitos ditos populares têm origens e significados bem interessantes e até engraçados. Como recebi, porém, dias depois, uma mensagem de um leitor que gostaria de saber mais sobre a frase “Vá Lamber Sabão”, resolvi ir à pesquisa pelos caminhos da internet.
Lembrei-me, ao buscar links e sites, que uma vez, quando criança, mordi um pedaço de sabão. Na verdade, de sabonete. Em formato de coração, era tão bonito, macio e cheiroso que não resisti: arrisquei uma mordidinha para descobrir que gosto tinha. A decepção foi imediata, pois o treco tinha gosto de nada e de tudo. Lavei correndo e fiquei com a boca cheia de espuma, quase raivosa.
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Gosto de ditados populares. Quase sempre são divertidos e/ou pertinentes a muitas situações reais e cotidianas. Na tradição oral, creio que vários deles acabaram sendo modificados com o passar do tempo, enquanto outros ainda são reproduzidos de forma errada, mas que, pelo uso, acabaram como versões consolidadas.
O que a maior parte das pessoas desconhece, inclusive eu, é a origem dos ditos populares. Apenas vamos reproduzindo-os, sem ideia do contexto no qual surgiram. Dia desses, enquanto comprava legumes na feira livre perto de casa, escutei uma conversa entre dois feirantes. “Ah, vai plantar batatas!”, disse um respondendo certa provocação feita pelo outro.
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Alguns talvez considerem como alienação, outros, no entanto, podem entender meu ponto de vista, mas tenho evitado, desde o início da pandemia, assistir aos noticiários de televisão e, de forma geral, as notícias mais alarmantes. Não quero com isso afirmar que esteja alheia aos acontecimentos ou que não me importe com o que se passa. Em verdade é exatamente o contrário. Atualizo-me todos os dias, de modo rápido, mas não me sinto capaz de mais do que isso.
Em 2020 era o terror pelo desconhecido, o medo e a tristeza das perdas. Quisera isso tivesse ficado no passado, entretanto. Nesse ano, além de tudo isso, permanecem as outras mazelas do mundo, acrescidas de mais e mais fatos horríveis. Claro que houve e há boas coisas também, pois sem elas seria impossível prosseguir, mas por vezes sinto que a maldade e a vilania ganham cada vez mais espaço, sufocando o bem que tenta sobreviver.
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A quantidade de lixo pelas ruas das cidades, sobretudo em uma cidade grande como São Paulo. Pelas ruas se encontra todo tipo de descarte. Parece-me que grande parte das pessoas simplesmente não se importa. Jogam lixo pela rua como se as coisas fossem ser absorvidas pelo concreto ou pudessem desaparecer como mágica.
Sempre que posso, ao menos na rua onde vivo, recolho uma infinidade de coisas que as pessoas descartam. Tampinhas, copos, garrafas, papel, anúncios de propaganda e restos de comida. Sei de algumas pessoas no bairro que fazem o mesmo. O restante fica para a Prefeitura recolher, mas é como enxugar gelo, já que todos os dias há mais e mais.
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A existência dos animais, humanos e não humanos, é marcada pela imprevisão, pela ausência de controle. Ilude-se quem acreditar no contrário. Nossos planos são meros rascunhos feitos a lápis, os quais o destino rasura e apaga quando bem lhe apraz. Não quero e não vou adentrar na discussão sobre o Divino, sobre se há ou não alguma razão para o que nos acontece, para as trilhas que somos, muitas vezes, obrigados a trilhar. Vou me restringir, assim, à experiência dos nossos dias.
Em família temos já uma tradição, depois de várias situações imprevistas, de não fazermos muitos planos. Muitas foram as vezes nas quais um dia ou dois antes de nos reunirmos, antes de alguma viagem marcada, que tivemos que reajustar nossas velas. Ou era uma das crianças doentes, ou meus pais, ou nós mesmos. Outras vezes, nossos animais de estimação precisavam de nossa atenção imediata.
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Uma de minhas frutas preferidas, nativa do Brasil, o maracujá é chamado de passion fruit em inglês. Tem esse nome porque suas flores são conhecidas como “Flor da Paixão”, a Paixão de Cristo. Assim, ele é o fruto da paixão. Em tupi, maracujá quer dizer alimento dentro da cuia. Seu nome científico é passiflora edulis. Aqui em casa é sinônimo de calmante e de comida de lagarta.
Nem sei precisar de quando vem essa fixação, mas sou apaixonada pela flor do maracujá. Na chácara da minha infância colhíamos maracujás quase o ano inteiro. Depois disso, tentei por várias vezes, sem sucesso cultivá-los. As sementes germinavam, as plantas nasciam e cresciam, mas as folhas logo eram atacadas por implacáveis lagartas que em poucos dias deixavam só os talos.
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Eu já dormia, cansada depois de um intenso dia de trabalho. Meu marido ouviu o que parecia uma briga de gatos, já passado das duas da manhã. Como o barulho vinha de fora e nossos felinos não têm acesso à rua, ele não deu muita importância. Em nosso quarteirão há muitas casas com gatos, mas quase todos são impedidos de sair por telas colocadas nos muros e janelas. Um ou outro, no entanto, burla as barreiras e faz excursões noturnas, quando a rua está silenciosa e calma.
Muitos moradores colocam comida para os vários pássaros que voam livres pelos arredores. Apesar do descaso de alguns, o bairro é razoavelmente arborizado, com praças e parques próximos. A existência de árvores como pitangueiras, amoreiras, ameixeiras e outras frutíferas colabora para que muitas espécies de aves tenham ninhos nas redondezas.
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E por fim chegou a minha vez de tomar a segunda dose da vacina contra a COVID-19. Fiquei muito mais ansiosa e tensa na primeira dose. Em verdade até me emocionei na época. Uma sensação de quem sobreviveu para ter aquela chance, aquele respiro em meio ao turbilhão de pessoas doentes e morrendo.
A vacina que tomei não me deu efeitos colaterais, ao menos não os visíveis. Somente uma leve dor no braço. Não mudei em nada minha vida, contudo, depois da primeira dose. Continuei saindo pouco de casa e apenas o tanto quanto necessário, com as cautelas necessárias.
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Anos atrás minha gata Chica Maria trouxe, por duas vezes, para dentro de casa, um morceguinho. Segurado pela boca, mas de modo sutil, o animalzinho se livrou dela duas vezes, fazendo rasantes pela casa. Depois de algum pânico, conseguimos devolver o mamífero alado à natureza e nunca deixei de pensar que talvez ele estivesse envolvido sentimentalmente com a gata e que eu, sem querer, estava impedindo a consumação daquele amor.
O fato é que não voltei a ver outro morcego por aqui até semana passada. Temos uma pequena área aberta no quintal e lá coloco néctar para os beija-flores. Tenho o cuidado de colocar mistura própria para eles, que dura apenas um dia, não fermentando para colocar essas e outras aves em risco. Muitos são, entretanto, os consumidores da iguaria. As primeiras a aparecer são as abelhas, seguidas das pequeninas cambacicas e, por óbvio, os maravilhosos beija-flores.
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Quando nos mudamos para cá, há treze anos, para nossa casinha em um bairro residencial de São Paulo, logo notei o pequeno ipê na calçada em frente. Conversando com o antigo morador soube se tratar do amarelo. Disse a ele que essa era uma de minhas árvores favoritas, mas já fui advertida para não esperar por muitas flores.
Contando um pouco sobre a árvore, relatou-nos que embora pequena, a árvore já tinha mais de quarenta anos. Mirradinha, não se sabia o motivo, nunca dava muitas flores, ao contrário de tantos outros ipês amarelos da vizinhança. Determinados a mudar essa situação, por vários anos vertemos aos pés dela todo tipo de adubos, mas, a despeito de nossos esforços, as flores continuaram raras.
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Ela chegou em casa há poucas semanas, enfim. Tentamos arrumar um local para acomodá-la de forma adequada, como merece. Com mais de cem anos, embora ainda esteja conservada, é delicada na essência, frágil pelo tempo que carrega. Aqui não dispomos de muito espaço, mas após algumas mudanças e adaptações, foi possível recebê-la.
Olho para ela todos os dias, sobretudo pelas manhãs e fico tentando imaginar as memórias que carrega, as muitas histórias que protagonizou e os tantos fatos que por certo presenciou. Nada pode, entretanto, contar-me. Calada, altiva, permanece guardiã sigilosa de retalhos de vidas alheias.
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Não tenho lembranças de outro mês de agosto em que tenha feito tanto frio. Em tempos de pandemia tudo parece mesmo fora de lugar. Os dias ventosos e secos foram substituídos por semanas bem geladas, em mais uma das inversões dos últimos anos. Os Ipês, talvez por revolta, talvez por agradecimento, floresceram mais cedo, forrando as ruas e calçadas com flores amarelas, rosas e brancas, em uma antecipação de setembro.
Sempre ouvi dizer que agosto é o mês do cachorro louco e nunca soube exatamente o que isso significava. Parecia-me que era uma forma de dizer que em agosto as coisas tendiam a dar errado, a se complicarem, como se fosse um mês mais difícil do que os demais. Quando era criança pensava que nesse período os cães eram tomados de alguma fúria em especial.
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Com a intenção de propiciar alimentação de melhor qualidade nutricional para minhas cachorras, após a orientação de um veterinário especializado, substituí a ração pela comida natural. O processo não foi tão simples como eu um dia supus, mas menos complicado do que poderia ser. Trabalhoso, entretanto.
No ano passado, por conta própria, tentei substituir o sachê industrializado que elas comiam por carne de frango. Troquei de um dia para o outro, sem qualquer adaptação e o resultado foi uma horrível diarreia que durou uns três dias. Naquela época concluí, erroneamente, que elas não se adaptavam à comida natural.
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Quase ninguém mais revela as fotos que tira. Praticamente nem é mais preciso ou útil fazer isso. Câmeras fotográficas viraram equipamentos reservados a profissionais. Os amadores preferem as duplas ou triplas câmeras dos aparelhos de telefone mais modernos. Tem gente, desconfio, que sequer usa telefone para falar com alguém. Hoje em dia, sonho de consumo é ter um celular com memória suficiente para as muitas milhares de fotos que se vai acumulando.
Houve uma época em que surgiu um porta-retratos dinâmico, no qual as fotos digitais ficavam mudando a cada grupo de segundos. Não vi em muitas casas, contudo. Acho que a moda não pegou. Nem sei direito a razão. Eu achei legal, embora na época do lançamento fosse meio caro para uma coisa que só fazia isso. Em tempos de multimídias, todos querem mais funcionalidades.
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Esse inverno tem sido especialmente gelado. Nem me lembro de outro mês de julho tão marcado por temperaturas baixas, clima seco e de ventos gelados nos últimos anos. Não sendo uma admiradora do frio, admito que é mais fácil suportá-lo trabalhando em sistema de home office.
Embora não seja a expressão da elegância ficar em casa de pijamas, meias e touca, bem melhor trabalhar assim do que ser obrigada a acordar cedinho e sair por aí parecendo uma bola com pés e cabeça. Nesses tempos pandêmicos, se for necessário aparecer em alguma câmera, basta dar uma penteada nos cabelos e fazer uso de um pouco de batom.
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A imagem choca. São dezenas de barracas armadas lado a lado. Cobertores populares estão por todos os lados, vezes dobrados cuidadosamente, vezes embolados e jogados pelas calçadas.
O cheiro em geral é forte, um misto de sujeira, bebida e cigarro. Embora haja mulheres, a maioria das barracas está ocupada por homens e muitos são os cachorros, vira-latas quase sempre de porte médio, que os acompanham fielmente.
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Que o tempo parece estar passando mais rápido, isso não tenho dúvidas, ainda que não possa explicar o fenômeno em termos científicos. Piscamos e lá se foi mais um dia, mais uma semana, meses, anos. O curioso é que as pessoas parecem estar cada vez mais em busca de celeridade. Tudo deve ser rápido, instantâneo.
Fácil percebermos isso em muitas coisas. O tempo é curto e há muito a se fazer ou é preciso mais tempo livre para não fazer nada? De fato não sei. Parece-me apenas que sobretudo os mais jovens perderam a capacidade de concentração, de fidelizar-se a algo por mais do que alguns minutos.
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“Temos sorrido em público do que não sorriríamos quando ficássemos sozinhos” – Clarice Lispector
Todos agora usam máscaras. Ou melhor, quase todos. Alguns se recusam e pronto. Nada os convence da necessidade, da proteção conferida por ela. Fora a questão da saúde, as máscaras permitem uma estranha liberdade. Ninguém mais é obrigado a dar sorrisos forçados. Dá até para mostrar a língua, por exemplo, algo antes impensável em lugares públicos.
O Seu Zé da Feira, homem de aparência bruta, mas de percepções delicadas, distribui piadas a todos que se achegam de sua barraca de batatas. Com voz alegre, tem o sorriso intuído. Gosta de fazer gracinhas e por certo como estratégia de vendas, chama todas as mulheres de moça, agradando as menininhas e as nem tão meninas.
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Após diversos adiamentos chegou enfim a data tão esperada. O primeiro ônibus espacial de turismo com destino à Lua partiria em poucas horas. Sem dúvida um marco histórico e com ampla cobertura internacional. Havia semanas não se falava sobre outro assunto e, sendo uma das viajantes, eu estava ansiosa, sem dormir há várias noites.
No total seríamos em cinquenta passageiros, além de cinco tripulantes. Por conta da Lei internacional de Igualdades aprovada no ano de 2.040, depois do efetivo controle da pandemia mundial causada pela Covid-26, deveria haver um número igual de passageiros por continente e a reserva de 10% dos lugares a pessoas sem recursos financeiros, sorteados entre a população de países menos desenvolvidos.
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No texto passado contei sobre o resgate que fiz de dois filhotes de sabiá laranjeira. Embora eu realmente me compadecesse dos pais que estavam pelas redondezas, estava certa de que sem conseguirem voltar ao ninho, morreriam de frio ou caçados pelos gatos que perambulam pela nossa rua durante a noite.
Contudo, depois de colocá-los em uma gaiola para evitar que fossem capturados pelos meus próprios gatos e cachorras, busquei alimentá-los com uma mistura especial através de uma seringa. Nada muito fácil, mas possível. Longe, contudo, de ser o melhor cenário para duas aves filhotes. Eu sabia que se ficassem comigo por muito tempo acabariam se tornando dependentes e talvez sequer fossem capazes de voltar à liberdade, de sobreviverem sozinhos.
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Normalmente escrevo minhas crônicas semanais às quintas-feiras, pois às sextas eu preciso enviar meu texto para os jornais nos quais publico. Assim, nas noites de quarta já estou pensando sobre o que escrever, para ir amadurecendo as ideias. Nessa quinta, entretanto, eu ainda não sabia sobre o que escrever quando o dia amanheceu, mas a vida deu um jeito nisso.
No meio da tarde resolvi sair para dar uma volta com as minhas cachorras. Um passeio curto para o bem delas e meu. Logo na saída, antes de virar a primeira esquina, notei uma avezinha no parapeito de uma janela. Vi que se tratava de um filhote de Sabiá Laranjeira, ave muito comum na região onde vivo. Muitos deles, inclusive, alimentam-se das frutas que coloco na sacada e que são disputadas com as maritacas, azulões, pombinhas e a galera da Edileuza (pomba que apresentei ou texto).
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Nessa semana completei quase um mês sem consumir qualquer tipo de carne. Embora eu já viesse reduzindo progressivamente o consumo há alguns anos, ainda comia peixes e frango. Para ser honesta nem sinto falta, apenas ainda não consegui criar um cardápio variado, nutritivo e saboroso como eu gostaria. Ovos mexidos, cozidos, fritos e omeletes tem sido os grandes protagonistas das minhas refeições.
Às sextas, dia em que vou até a feira livre que ocorre há menos de cem metros de minha casa, tenho comprado ao menos uma dúzia de ovos. Prefiro os caipiras, seja pelo sabor, seja pela esperança que tenho de que venham de galinhas criadas livres. São ovos de tamanhos irregulares e menores do que os de granja, mas também com cascas mais firmes e brilhantes.
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Desde o começo da pandemia tenho lido tantas reflexões sobre as muitas mudanças que ela trouxe à vida das pessoas. Eu mesma, em outros momentos, já arrisquei algumas linhas sobre o tema, algumas mais leves, mais otimistas, outras nem tanto, eis que tomadas pela emoção das irreparáveis perdas.
Ainda que o vírus tenha alterado, ao meu sentir, para sempre, a vida de todos nós, no mundo inteiro, em tantos sensíveis aspectos, acredito que as mudanças tenham impactos diferentes para cada um, conforme tenham sido especialmente afetados. Há lutos a serem vividos e a sobreviver, empregos a se reconquistar, sonhos a acharem par. Cada qual tem um caminho novo a percorrer, de um jeito ou de outro.
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Em meu texto passado contei sobre a triste descoberta acerca de uma doença terrível, autoimune, que praticamente condenara uma de minhas cachorrinhas, a Gigi. Superado um luto inicial, comecei a procurar outras informações, tentando conectar pessoas cujos animais apresentassem o mesmo problema. Fui atrás de terapia quântica, homeopatia, reiki e ajuda espiritual. Tudo para que, ao menos ela pudesse ter os próximos poucos anos estimados, com qualidade de vida.
Na rede social Instagram localizei perfis de duas tutoras e seus cachorrinhos. Mandei mensagem e ambas me responderam rapidamente. De acordo com uma delas, a cachorrinha se encontra em tratamento, mas sem o quimioterápico que foi sugerido pela profissional que atendeu minha Gigi. Já a outra me enviou mensagem dizendo que o cachorrinho havia recebido diagnóstico errado e me pedia para contatá-la.
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Até alguns dias atrás eu não fazia a menor ideia do que significava a sigla MEG, muito menos de que a doença por ela nominada iria fazer parte do meu cotidiano. Embora seja bem clichê, a vida reserva surpresas e nem todas são boas. Em tempos de notícias dolorosas, acrescentei uma que jamais me passara pela cabeça.
Em novembro do ano passado nossa cachorrinha Gigi, então com um ano de vida, apresentou crises epiléticas e precisou ser hospitalizada por um dia. O episódio me assustou e consumiu, custando-me muitas horas e muitos recursos financeiros. Fizemos exames que não apontaram nada em específico e as crises cessaram, seguindo a vida sem maiores alterações nessa área.
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Penso que algumas coisas, certas obsessões nascem conosco. Assim, desde bebês manifestamos preferência por determinado alimento, por exemplo, enquanto parecemos abominar outros.
Talvez seja possível explicar isso através da ciência, da psicologia ou mesmo da religião. Pode ser, inclusive, que nunca tenhamos certezas nesse ponto. Fato é que, de minha parte, reconheço que trouxe comigo, sabe-se lá de onde, paixões bem definidas.
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Curiosamente, mas não de forma deliberada, meu texto anterior tratou da situação das inúmeras árvores exterminadas quase diariamente para dar lugar ao cinza dos prédios que vem transformando a paisagem do bairro onde moro. Por infelicidade, nessa semana passamos, na rua de casa, por episódio semelhante.
Quando nos mudamos para cá a rua, que tem apenas um quarteirão, era bem arborizada. Até frutíferas havia. Um lindo pé de abacateiro em uma das esquinas, fornecia frutos a qualquer um que se dispusesse a pegá-los. Na outra esquina, um pé de laranja florescia e frutificava, enchendo de perfume e cores o lugar.
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Há tempos assumi que vários de meus posicionamentos não agradam e, nessa altura da minha vida, aprendi a não me importar com isso. Claro que busco respeitar as opiniões alheias e mantenho a urbanidade diante do que me incomoda. Contudo, em relação a algumas causas não abro todas as exceções.
Acredito que as pessoas nascem, em regra, como algumas paixões, com certos vínculos e aptidões que podem ou não desenvolver ao decorrer da vida. O amor pelas plantas e pelos animais me acompanha desde sempre. Talvez venha de outras vidas, para quem acredita, ou, de acordo com outras teorias, esteja impresso em meu DNA, na longa corrente hereditária dos meus antepassados.
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Durante os mais de vinte anos que venho escrevendo crônicas, não foram muitos os momentos nos quais não achei assunto, não encontrei palavras para ocupar o espaço em branco. Ainda assim, naqueles momentos, sempre foi mais por algum cansaço pontual ou simples falta de inspiração. Diferente do que me ocorre hoje, por infelicidade.
Desde o início dessa tragédia mundial em que ainda estamos, tentei não concentrar meus textos apenas em sentimentos ruins, ressaltando também, na medida do possível, o que nos restava de bom, o que poderia ficar depois que tudo acabasse. Acredito que o fiz não apenas na tentativa de dar algum alento aos que leem o que escrevo, mas também para apaziguar meu próprio coração.
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Eu o notei pela primeira vez enquanto caminhava com minhas cachorras por uma das ruas do bairro, num dos poucos momentos nos quais coloco os pés e a mente para fora de casa. Nas últimas semanas mudei um pouco o itinerário dos curtos passeios diários, escolhendo uma ruazinha estreita, arborizada e que quase sempre está deserta.
Normalmente espero que o sol esteja mais baixo e o chão menos quente para dar uma voltinha com minhas duas cachorrinhas, Gigi e Juju. Nesse rápido momento de falsa liberdade, mesmo que de máscara, e que serve para manter nossa sanidade mental, enquanto elas se colocam a cheirar tudo o que encontram pelo caminho, ponho-me a observar os jardins e as casas.
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Em junho de 2019 minha vida deu uma reviravolta profissional. Após 20 anos de docência, fiquei fora das salas de aula e, embora uma pausa fosse necessária para aliviar o cansaço acumulado, eu me senti como um peixe fora d’água. Resolvi tirar um tempo para mim, para poder recuperar as energias e redirecionar meus esforços. Inicialmente seriam seis meses, a metade de um ano sabático.
Quem poderia, no entanto, imaginar o que 2020 reservava para o mundo? Foi um ano que pegou a todos de surpresa e muitos planos e metas tiveram que ser cancelados ou suspensos. De março em diante tudo ficou em stand by e em meio ao medo do desconhecido, do vírus que apresentava suas piores faces à humanidade, decidi permanecer afastada de muitas coisas, inclusive da docência.
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De início acreditávamos que seria passageiro. Teríamos que ficar por um ou dois meses recolhidos em casa, evitando contato com os amigos, tudo para que o vírus, cujo nome ainda poucos sabiam, não se alastrasse pelo território nacional. Respiramos fundo e, passado o choque inicial, fomos ajustando nossa rotina, na certeza de que as coisas se ajeitariam.
Os meses, no entanto, foram se passando e mais do que mudar a rotina, tivemos que alterar nosso modo de viver, de estudar, de nos relacionarmos com os outros. Durante um bom tempo a maior parte das pessoas respeitou as limitações e, seja para se autopreservar ou para salvaguardar seus familiares, a cautela, inicialmente, falou mais alto.
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Estou certa de que ninguém aguenta mais ler ou ouvir notícias ruins e tristes. De várias formas, de modos diferentes, estamos todos doentes, mental ou fisicamente. Adoecemos como sociedade e como indivíduos. A pandemia causada pelo coronavírus não é a única culpada dessa calamidade que vivenciamos, mas piorou muitas coisas e revelou outras tantas.
Ao menos aqui no Brasil, estamos prestes a completar um ano desde que nossas vidas mudaram, desde que convivemos com a ameaça constante da doença e das ausências precoces.
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- Escrito por: Cinthya Nunes
Se alguém me dissesse há seis anos que um dia eu teria 5 gatos e que minha cama seria acessível a eles, eu provavelmente chamaria essa pessoa de louca. Em outros textos já escrevi sobre como a Chica Maria, meu primeiro amor felino entrou em minha vida. Até então eu nunca tinha sequer considerado ter um gato como animal de estimação.
A vida toda convive com gatos, mas era uma relação diferente. Eu os via como animais arredios, que nem sempre gostavam de carinhos e que se apegavam ao lugar e não às pessoas. Quando a Chica chegou, minúscula e subnutrida, depois de ser resgatada das ruas por onde vagava atrás de comida, precisei rever todos esses equivocados conceitos.
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- Escrito por: Cinthya Nunes
Embora em um passado distante eu tenha aproveitado os feriados de Carnaval de uma forma mais ativa, dançando e me divertindo com amigos, há muitos anos somente aproveitei os dias livres para descansar, assistir meus programas preferidos, ler meus livros e principalmente para estar em família.
Feriados, de um modo geral, principalmente para quem trabalha, estuda, costumavam sempre ser bem vistos e aguardados. Pausas necessárias para relaxar um pouco, encontrar amigos, descansar, viajar. Mesmo para aqueles que não gostam do Carnaval e da folia de Momo, o feriado prolongado podia ser vivido de modo proveitoso. Mas isso, grosso modo, ficou no passado.
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- Escrito por: Cinthya Nunes
Gosto de colocar para germinar as sementes das frutas que consumo, mesmo que a rigor não tenha onde plantar, em caráter definitivo, posteriormente. Tenho verdadeiro encantamento em observar como a vida se deixa adormecer dentro de sementes de tamanhos variados. Vejo-as como pequenas joias que podem se transformar em árvores, produzir flores e novos frutos, abrigar ninhos, ganhar o céu.
Já distribuí para vários amigos, abacateiros, mangueiras, pitangueiras, limoeiros, mamoeiros, entre outras espécies. Todos resultantes de frutos que comemos e cujas sementes foram escolhidas e reservadas. Depois de alguns dias secando, faço o processo de germinação. Algumas sementes são colocadas no algodão umedecido, enquanto outras vão para pequenos recipientes com terra, até que surjam raízes e as primeiras folhas. A seguir, planto em vasos e delas vou cuidando até que estejam em condições de serem replantados em vasos maiores ou, se tiverem sorte, na terra.
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- Escrito por: Cinthya Nunes
Há alguns meses, talvez logo no início da pandemia, passei a colocar frutas e sementes para pássaros, na sacada de casa, dispostos em um comedouro que improvisei, usando uma caixa de madeira dessas usadas nas feiras livres.
A ideia de atrair pássaros para o meu quintal já era antiga, mas somente quando acabei ficando mais tempo dentro de casa, ainda que involuntariamente, é que isso se tornou realidade. Já havia colocado dois daqueles bebedouros de beija-flor em uma pequena árvore que temos em um vaso e foi sucesso imediato, mas uma alimentador para pássaros maiores era um desafio, considerando os meus cinco gatos.
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- Escrito por: Cinthya Nunes
Todos os dias aumenta a consciência de minha ignorância. Diante de tantas coisas a aprender, de frente e de costas para tantos mistérios desse mundo, aumenta a certeza de que tudo o que sei nem de longe se aproxima de uma milésima parte do que há para saber. Nesse sentido e em tantos outros, lamento a pequena duração da existência humana. Por outro lado, diante do mal do qual a humanidade é capaz, sinto, paradoxalmente, que alguns vivem demais.
Sempre irei me recordar, enquanto for dona de meus pensamentos, de uma, entre tantas frases do meu pai, que diz que morrer ignorante é um de seus maiores temores. Quando eu era criança, entretanto, não compreendia isso, mas é porque as crianças quase sempre flertam com a eternidade e com o pensamento mágico de que o mundo é simples, pequeno e decifrável.
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- Escrito por: Cinthya Nunes
Depois que minha vida deu uma reviravolta há alguns meses, deixei de ser uma pessoa com mil compromissos de trabalho para me tornar outra com uma agenda bem mais flexível. Quem me conhece sabe que gosto de sair da minha zona de conforto e de experimentar coisas novas. Assim, com tempo e curiosidade, aventurei-me em mais um curso, agora de Ilustração de Livro infantil.
Pra começo de conversar eu descobri logo na primeira aula que eu não sabia de verdade sobre o que era o curso! Aprendi que livro ilustrado não é a mesma coisa que livro com ilustrações. Eu tinha vivido na escuridão da ignorância até aquele momento e saber a diferença foi uma revelação que mudou toda a forma como eu vejo livros infantis. Em resumo, de forma muito simples, posso dizer que um livro com ilustração é aquele em que no meio do texto há desenhos, ilustrações isoladas, enquanto um livro ilustrado é aquele no qual o ilustrador é tão autor quanto o escritor, pois os desenhos também contam, em seu ritmo, a estória.
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- Escrito por: Cinthya Nunes
Há alguns meses, convidada por uma amiga, eu me inscrevi em um workshop de focaccia. Nos últimos anos tenho feito alguns cursos de pães, a maior parte com fermentação natural e em um deles cheguei a fazer uma focaccia, uma espécie de pizza com massa grossa, que usualmente tem recheio de tomate cereja com alecrim e sal grosso ou de calabresa.
Nunca tinha tentado fazer uma sozinha, em casa, mas até por isso resolvi fazer o curso, que começou às 9 e acabou às 16h. O professor era o Alex, da Padoca do Alex (@padocadoalex, no instagram), do Rio de Janeiro. Carioca bem-humorado e muito paciente para ensinar as quatorze mulheres e os três homens presentes, o Alex é uma simpatia. Embora eu tenha ficado meio cansada após tantas horas em pé, valeu muito a pena.
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Houve um tempo em que eu gostava de brincar o Carnaval. Algo entre minha adolescência e juventude. Esperava ansiosa pelos dias nos quais passaria dançando nos clubes ao som de marchinhas e sambas clássicos. Depois de cinco dias de olhares furtivos, de alguns beijos roubados, de risadas e confissão de amores juvenis, restava a certeza de que às vezes a vida nos permite a fantasia.
Por outro lado, nunca me encantei com o Carnaval apoteótico, de luxo e luxúria, das passarelas das pequenas ou imensas sapucaís. Não aceitei Momo como meu sumo imperador e sequer assisto aos desfiles pela televisão. Não venho aqui, no entanto, fazer uma crítica aos que curtem a festa. Embora eu discorde de várias atitudes tomadas nesses dias e em função deles, acredito que a cada um apetece o que lhe é bom ou conveniente.
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- Escrito por: Cinthya Nunes
Como já contei aqui nesse espaço, há alguns meses eu trouxe para nossas vidas a Juju, uma cachorrinha branca que tem a aparência de um maltês de salto alto. Embora tenha cara de maltês, não tem propriamente o tamanho de um. Claramente é uma mistura entre raças, mas seja lá o que for, deu uma excelente combinação de genes, sobretudo no comportamento.
Juju é uma cachorrinha extremamente dócil com outros cães, gatos e pessoas. Gosta de carinho, é brincalhona e adora passear. Tem a estranha mania de andar pela casa nos puxando pelos calcanhares ou mordicando nossos chinelos (em nossos pés) e faz isso quase sempre que quer alguma coisa. Educada, normalmente faz xixi e cocô nos lugares certos e considerando que ainda tem 10 meses, nem faço conta das vezes nas quais ela erra. Afinal de contas, quem nunca, rs?
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- Escrito por: Cinthya Nunes
Todos os anos, ao término dos meses de férias, eu me sinto tentada a escrever sobre o tema. Talvez seja um hábito derivado dos tempos de escola, já que, naquela época, era comum que a professora nos incumbisse da tarefa de descrever como passáramos nossas férias...
Já nem me recordo quantos textos eu reinventei sobre o tema nos últimos tempos. Sem querer me repetir, mas é que, vivo pensando na diferença do que eu considerava férias “antigamente” (rs) e o que são minhas férias hoje. Não me queixo, deixo claro, mas é inevitável a comparação.
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- Escrito por: Cinthya Nunes
Há cerca de uns quinze dias foi oficialmente aberta a temporada de extermínio de avós. Na verdade, a coisa é um pouco mais ampla, mas os avôs e avós são os mais vitimados. Antes que o leitor pense se tratar de algum vírus específico que afete idosos eu devo advertir que não. Definitivamente, trata-se de outro fenômeno...
Exerço o magistério jurídico superior desde 1999, e embora a revelação desse fato possa permitir que se façam cálculos etários, nem daria para mentir, sobretudo tendo “infinitos” ex-alunos como testemunhas oculares do que espero, não tenha sido um crime (rs...). A relevância dessa data é no sentido de ilustrar o quanto de tempo tenho vivido a temporada de pobres velhinhos falecidos inexplicavelmente.
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- Escrito por: Cinthya Nunes
Na falta de título melhor para esse texto, foi essa a frase que me veio à mente. Lembrei-me de que um de meus últimos textos apelava para que São Pedro nos enviasse um pouco de abençoada chuva, para o bem das plantas, dos bichos e dos seres humanos. Por precaução, inclusive, antecipei-me no sentido de que ninguém me viesse culpar caso a água despencasse meio louca lá do céu, pois, pelo que tenho visto, ultimamente é tudo ou nada.
Pois bem, andei de fato procurando um índio para executar a dança da chuva, mas juro que não achei e que a chuva que abalou a cidade de São Paulo no final dessa semana em nada me é devida. Até faria bem pensar que disponho de algum canal direto com o dono do tempo, mas isso, no máximo, seria um “gato”... Por outro lado, a essa altura, eu estaria sendo massacrada por muitas pessoas, inclusive por mim mesma.
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- Escrito por: Cinthya Nunes
No começo da pandemia vivemos o desespero do desaparecimento de muitos produtos essenciais como álcool em gel, desinfetantes potentes como água sanitária, máscaras e luvas. Além disso, ainda tivemos o inexplicado sumiço de papel higiênico. Após algumas semanas o abastecimento desses itens se normalizou, bem como os seus preços. O que não sabíamos que seria artigo em falta constante era a educação.
Não que a gente tivesse uma expectativa muito alta quanto ao comportamento dos brasileiros, mas a esperança é sempre companheira dos momentos difíceis. Até consigo entender que muitas pessoas, em pânico, tenham saído correndo para comprar tudo o que lhes parecia indispensável, com medo do desconhecido e das privações. A histeria do inexplicável acaba até justificando certos comportamentos, quando não extremos.
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- Escrito por: Cinthya Nunes
Depois de várias semanas postergando, um belo dia resolvi tentar. Na verdade eu acabei apertando o botão de conectar meio sem querer e antes que eu pudesse desligar de pânico, ele já estava na tela do meu computador falando comigo.
__Hi. How are you?
Era tarde demais, o professor de inglês estava a postos, pronto para falar comigo, em inglês, obviamente, conectado por um aplicativo de aprendizado on-line, sentado em sua cadeira em algum lugar do mundo. Eu tinha duas alternativas, apertar o botão de desligar e fingir que aquilo nunca aconteceu ou seguir respondendo a ele.