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 pierro colombina

Dia desses, enquanto fazia aula de inglês online com uma professora norte-americana, mencionei que o Carnaval se aproximava. Percebo que, em geral, os estrangeiros que nunca estiveram no Brasil durante tal festa popular, têm muita curiosidade sobre o que de fato acontece. Normalmente o único conhecimento que têm é derivado das imagens veiculadas na mídia internacional, bem estereotipadas, ou seja, mulheres seminuas desfilando com plumas na Sapucaí.

Assim, não é muito fácil, não com meu inglês simplório, explicar que o feriado de Carnaval não é comemorado de idêntica forma nos mais diversos estados e mesmo nos municípios do país. Tentei explicar para uma americana mais idosa que, de uma forma geral, as pessoas se fantasiam nessa época, quando se dispõem a ir aos clubes ou as ruas para dançar e quando ela me perguntou a razão da fantasia, eu dei alguma justificativa histórica, mas a pergunta permaneceu comigo por mais tempo.

De fato, sem buscar razões ancestrais, históricas e culturais, fiquei matutando os muitos motivos pelos quais as pessoas se fantasiam no Carnaval e gosto de pensar que é para se sentirem alguém diferente, para poderem, por algumas horas ou dias, existir em uma persona diferente, habitando um lugar diverso, no qual podem ser o que querem ou se esquecerem momentaneamente do que não se pode fugir.

Dizem que vamos ficando nostálgicos conforme envelhecemos, mas é preciso envelhecer para compreender isso. Do contrário são apenas palavras. Tento escapar do desejo insano de habitar um tempo que não me pertence mais, porque o ontem é um lugar sem retorno possível, mas nos meus fevereiros, nesse mês que escolhi para vir ao mundo, costumo me lembrar com saudade de alguns carnavais passados.

Quando éramos crianças o Carnaval significava um feriado imenso durante o qual desfrutaríamos das visitas tão esperadas dos tios que moravam longe. Era o tempo de assistirmos aos muitos filmes que meu pai alugava com preço promocional e, lá no sofá da casa humilde dos meus avós paternos o mundo parecia imenso e o tempo, infinito.

Naquele tempo, do Carnaval só tínhamos o vislumbre real dos blocos de rua. Hoje entendo que eram muitas as fantasias, cada uma representando uma faceta do que se era ou se queria ser.

Adolescente, gostava de passar as noites e as matinês acompanhada dos amigos, vestindo a roupa escolhida com ansiedade para dançar ao som das marchinhas antigas e dos clássicos sambas-enredo. Era o sonho dos beijos e olhares roubados, das paqueras e da ilusão de que a vida aceitava pausas autoimpostas.

E como tudo é feito de ciclos, hoje meus Carnavais são momentos de descanso, de preguiça no sofá, de encontrar amigos para rodadas de conversa. Em retrospectiva percebo que só fui trocando as fantasias, desfilando alegorias que só meu coração conhece. Seguimos usando as máscaras que a vida exige, na busca do alívio, do ocultar daquilo que apenas nossas almas vivenciam. Pode parecer e talvez realmente seja clichê, mas nos Carnavais da minha vida já fui Colombina, já fui Pierrot, já tive Perna de Pau, Olho de Vidro e até cara de má.

Deixei livre a avenida para que outros foliões possam passar, porque a música segue tocando, mesmo enquanto tantas fantasias vão sendo penduradas nos cabides do tempo. Das gavetas das minhas lembranças eu saco minha máscara de Alegria e, de sorriso no rosto, permaneço rumo aos outros Carnavais.

Cinthya Nunes é jornalista, advogada, professora universitária e, por mais que tenha tentado, não tem o samba no pé – Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo. – www.escriturices.com.br