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Há alguns dias, aqui em São Paulo, no meio da tarde o céu escureceu. Começou a ventar muito forte e logo raios e trovões dominaram tudo. Trabalhando em casa, corri para fechar janelas e portas, um tanto assustada com a intensidade da chuva. Nem sabia, na hora, que se tratava (segundo li) de um mini ciclone.

A coisa toda não durou meia hora, mas os estragos se projetaram por vários dias e por muitas vidas. Com a força dos ventos quase mil árvores caíram e, em uma cidade onde o cinza luta com o verde, sempre é triste saber de tantas perdas, porque com as árvores também se foram ninhos, sombra e flores.

Para além disso, porém, algumas pessoas perderam as vidas, atingidas pelas árvores ou por construções que desabaram com a chuva. Em alguns casos as árvores estavam doentes ou mesmo mortas e, em um mundo ideal deveriam ter sido substituídas por outras. Assim como os seres humanos e os animais, as plantas também têm um ciclo de vida e quando inseridas no meio urbano, precisam ser removidas para segurança de todos.

Em alguns locais os moradores também tiveram prejuízos com o destelhamento de suas casas, bem como com a água que em poucos minutos inundou e levou com ela móveis, veículos e até mesmo animais. Bairros inteiros ficaram sem água e sem luz por horas ou por dias. Aqui na vizinhança muitas casas ficaram sem energia, sem internet, tornando impossível a vida moderna, que hoje de tudo isso é dependente. Aqui ficamos sem água da rua, mas as caixas deram conta de não deixar faltar o necessário para o dia a dia.

No dia seguinte, incrivelmente de céu azul e sem resquícios de nuvens, o cenário era desolador. Em uma curta caminhada pelas ruas encontrei não apenas árvores caídas, mas muitos e muitos galhos que se soltaram de outras tantas. A que mais chamou minha atenção foi uma árvore imensa que, ao cair, restou atravessando uma avenida, impedindo o acesso de veículos. Por sorte, ninguém foi atingido neste caso em especial.

Tratava-se de um plátano. Tal árvore, trazida ao sudoeste e ao sul do país pelos imigrantes italianos, atinge grandes proporções e produz madeira resistente, que costuma ser utilizada na fabricação de estruturas. De acordo com uma rápida pesquisa pela internet, o plátano pode atingir de 30 a 40 metros de altura. Em alguns sites há notícias de que podem viver até dois mil anos e, em outros, que pode chegar até os trezentos.

Acredito que o plátano em questão já tinha em torno de um século, pois era realmente enorme. Com um tronco imenso e galhos que se projetavam para o alto, repletos de folhas de cinco pontas, cujos tons oscilavam entre o verde, o amarelo e o avermelhado, era de fato muito bonito. Contudo, ao cair, revelou-se o impensável: estava quase inteiramente oco e sem raízes. Não sei precisar a razão, se cupins ou outra praga dela se apossaram, mas é fato que estava frágil, doente, ainda que ostentasse outra condição.

Impossível não lamentar pelas vidas humanas que se perderam após a brevíssima passagem do ciclone ou seja lá o que tenha sido, mas eu também sinto muito pela perda das árvores. Obviamente há responsabilidades públicas a apurar, eis que podas irregulares, insuficiência de acompanhamento e mesmo a super impermeabilização do solo contribuem para tudo isso, mas outros fatores como o aquecimento global, desmatamento nacional, entre outros, também devem ser considerados.

Não consigo deixar de pensar também no plátano, tão lindo e aparentemente um gigante sólido, cheio de vida. Ao lado dele, árvores muito menores permaneceram intactas ou quase, mostrando que nem sempre as coisas são como parecem, tanto na natureza, quanto na vida das pessoas e que, em nas tempestades, somente nossas raízes podem nos dar alguma chance de resistir.

Cinthya Nunes é jornalista, advogada, professora universitária e lamenta a fragilidade da vida, em todas as suas formas – Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo./ www.escriturices.com.br