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zumbis

—Eu tô com esse machucado aqui, ó!

Olhei e não vi nada na perna da minha sobrinha Olívia, de quatro anos, mas ainda assim resolvi perguntar, para dar andamento na conversa:

— Meu Deus! Parece sério. Está doendo? Como você se machucou?

—Foi o monstro que me mordeu.

—Um monstro? Mas onde ele estava?

—Tia, foi o monstro que estava na minha geladeira.

—Gente, eu nem sabia que tinha aparecido um lá. Sua mãe (minha irmã) nem me falou nada. E por que ele estava na sua geladeira?

—Ué, porque não tinha comida na geladeira da casa dele! – respondeu-me ela, com cara de quem acaba de explicar o óbvio.

—Mas Olívia, por que esse tal monstro foi morar justo na geladeira da sua casa? E me conta como ele é, porque nunca vi um de perto. Ele é assustador?

—Só um pouquinho, porque ele é monstro, né? Mas tem a cabeça cor-de-rosa. Eu acho que ele foi pra minha casa porque lá tem um queijo “picial” (presumo que seja especial, a propósito) e que é bem estranho. É do jeito que monstro gosta, tia.

—Entendi. E então ele mordeu você?

—É, mordeu. Aqui ó, na minha mão (não era na perna?). Eu abri a geladeira porque tava com fome, mas o monstro pulou de lá e me mordeu. E daí eu virei um zumbi. Minha mãe e eu.

—Engraçado que ninguém falou disso comigo. Nem sabia que você tinha virado zumbi, muito menos a sua mãe. E como é ser um zumbi?

— É igual ser verde! E andar assim, meio duro, podre.

—E você e sua mãe morderam mais alguém?

—Só a Ruela e o Paulinho, porque a gente tava com fome de zumbi.

—Então vocês tentaram comer os cachorros? Coitados.

—Nãoooo tia. A gente só mordeu para ter cachorro zumbi também.

—Ahhh, ok. E como vocês voltaram ao normal?

—Minha mãe me deu uma poção mágica, de médica, e depois ela tomou também. Daí saramos.

—Mas e o seu irmão? Por que o monstro nem tentou dar uma boa mordida nele também?

—Porque ele tem um sovaco fedido e quando o monstro veio ele levantou o braço e o monstro desmaiou com o fedor. Daí meu pai apareceu com uma chave, colocou no pescoço do monstro, apertou e matou “ele”. Os pedaços o Paulinho comeu tudo.

—Mas o Paulinho ainda era um cachorro zumbi???

—Nãooo tia!! Ele só tava com fome mesmo. Ele come muito.

—Acho que preciso conversar mais com sua mãe, porque eu estava desatualizada. Nem soube de nada disso. Se você não me conta...

—Tia Cinthya, não preocupa não. Tô bem agora. Sarei já! Só fiquei zumbi um pouquinho mesmo. Mas até que foi legal. Quer um pedaço de queijo “picial” para deixar na sua geladeira também?

—Obrigada meu amor, mas acho que vou deixar para outro dia. Verde nem é minha cor preferida.

Cinthya Nunes é jornalista, advogada, professora universitária e sabe onde encontrar bom papo – Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo./www.escriturices.com.br