Quando meu gatinho Bento morreu, há pouco mais de um mês, fiquei em dúvida se adotaria outro. Menos de uma semana depois, uma amiga me enviou fotos com filhotes de gatos para adoção. Minha reação automática foi responder negativamente. “Acho que não voltarei a adotar outro tão cedo”.
Percebi que minhas resoluções não são dignas de fé. Ao menos não aquelas que envolvem pets e livros. Há tempos desisti de mentir para mim mesma sobre não comprar mais livros.
Não resisto. Viciada assumida. E sem remorsos, exceto o de não ter mais espaço, nem na casa, nem no dia, para poder ler todos os livros que tenho vontade.
Sobre os pets a situação é parecida. Não me permito ser uma acumuladora, porque prezo pela qualidade de vida deles e da minha própria, o que impõe um limite de vagas. Talvez chegue o dia em que eu me dê conta de que a fragilidade da minha existência possa ser um impeditivo absoluto, mas enquanto puder supor que ainda haverá décadas a viver, haverá pets ao meu lado.
E foi assim que a Lily veio fazer parte da trupe. Frajolinha, nascida apenas com metade do rabo, já corre pela casa como um coelho, no auge dos três meses de vida. No dia em que chegou, não estava solitária. Quase duas dezenas de pulgas vieram junto. Resistentes ao remédio aplicado horas antes, foram esmagadas uma a uma, pacientemente e com certa paúra.
Faminta, corre para cozinha sempre que me vê lá. Olhando para cima, mia sem parar, parando somente diante do pratinho lotado de sachê que, por sinal, não pode ser de qualquer sabor e é devorado em minutos. Nem faz sombra, mas já é exigente. No desespero, se eu levo mais do que dois minutos para aplacar os desejos dela, não se intimida, lançando sobre os pratos de comida das cachorras, em busca de alguma iguaria.
Geniosa, Lily é mansa e amorosa. Havia sete anos que não tínhamos um filhote de gato pela casa. Não se trata, de forma alguma, de uma substituição, porque quem ama os animais sabe que isso não se opera deste modo. Cada indivíduo é único e insubstituível. Mas a alegria de acompanharmos as brincadeiras e descobertas de uma pequena vida que escreve seus primeiros parágrafos, sem dúvida ameniza a lembrança das perdas.
Na impossibilidade de salvar milhares de animais, de acolher todos que precisam, resolvi amparar mais uma. Desisti de mudar o mundo, sonho que acalentam só os muito jovens, os ingênuos ou os santos. Só não desisti de mudar alguns mundos. O meu, por exemplo, está bem melhor com a vinda da Lily e, a julgar pelo ronronar constante, o dela também.