Não sou daquelas pessoas que resolvem ou agravam seus problemas através da comida. Minha relação com ela sempre foi tranquila. Aliás, caso algo esteja mal, seja dentro ou fora de mim, perco o apetite por completo. Por outro lado, entendo o conceito do que se chama modernamente de comfort food, ou em bom português, comida reconfortante.
Há alguns anos, enquanto assistia a um programa de tv, ouvi essa expressão e fui me informar sobre o assunto. Trata-se daquela comida que traz uma sensação de alívio, de conforto, que remete às coisas simples da vida, da infância. Em resumo, aquela comidinha de mãe, de vó, das tias e de todas as pessoas que, através da comida, compõem nosso universo passado de boas recordações.
Todos nós temos essas lembranças, por certo que em diferentes gradações e adequadas às realidades individuais, ao nosso repertório de vida. Basta perguntar a qualquer pessoa sobre ao menos um prato que o faça lembrar de casa, da família, de tempos mais simples. Não necessariamente isso precisa estar no passado, pois pode fazer parte de nosso cotidiano, daqueles pratos que degustamos e que tem o condão de nos trazer um tipo de alento, aquilo que degustamos com cuidado e prazer em dias nos quais precisamos de todo alento possível.
Importante, penso eu, diferenciar esse conceito da prática de comer indiscriminadamente para suprir alguma carência, em um desequilíbrio emocional e que, não raro, leva a problemas de saúde. A comida reconfortante seria mais como um abraço terno, em uma relação harmônica com o alimento.
Fiquei pensando hoje nos alimentos e pratos preparados com eles que compõem meu arsenal de conforto, que podem trazer boas lembranças ou, em última análise, nos quais eu gosto de pensar quando evoco recordações importantes. Ainda, daquela comida que me transporta, de qualquer lugar onde eu estiver, para junto dos meus.
Como nem poderia deixar de ser, o número um nessa minha lista, é pão caseiro quente com café fresquinho coado em filtro de pano. Essa combinação, penso, em aromas e sabores, vai me acompanhar até o fim da minha jornada. Basta pensar e em um átimo de segundo sou transportada para dentro da casa humilde de meus avós paternos, já há muito falecidos. Quando faço meu próprio pão com café, tão distante hoje no tempo, minha alma e meu coração encontram conforto e forças para encarar o que for preciso.
Macarronada ao sugo é outro prato que sempre me leva para os almoços em família, repleto de crianças que hoje são pais de outras crianças, lugar também de gente que o tempo já levou. Aqui em casa, macarrão nunca é almoço trivial, mas sempre algo que mantemos para os domingos, em uma tradição que mais tem com significado do que com o alimento em si.
Há um doce de leite conhecido como Ambrosia, que minha avó materna fazia e que embora eu jamais tenha provado outro tão saboroso como aquele, eternamente me fará lembrar não apenas dela, mas da fazendo onde eles moravam e onde minha mãe se criou. No conceito de comida reconfortante também incluo, feito pela mesma avó, um bolo de fubá recheado de goiabada e coberto com calda de limão. Cheiro e gosto de casa, de família, de pertencimento que nem mesmo o passar dos dias é capaz de levar embora.
Óbvio que há tantas outras comidas que me são reconfortantes e que, cada uma a seu modo, é capaz de proporcionar sensações tão únicas e repletas de simbolismos, significados individuais que extrapolam meu poder de tradução em palavras, bem como o espaço e os fins dessa coluna, mas agora que já tomei meu café com pão, pergunto ao meu caro leitor: qual é a sua comida reconfortante e por quê?