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Sempre me prometi que não seria daquelas mulheres que escondem a idade, mas a cada virada de década fui tomada por diferentes sentimentos. Quando trintei, ao me tornar balzaquiana, vivi os pequenos conflitos de deixar a tenra juventude, de dizer adeus aos dourados e promissores vinte. Ao fazer quarenta anos, fiquei inconformada por estar na chamada meia idade, uma espécie de limbo onde ficam todos que não são mais considerados jovens, mas ainda não são velhos. Como disse um comediante, uma semi-velha.

Embora eu viva sob o mantra de que habitarei esse mundo por muito tempo, nunca realizei que um dia faria cinquenta anos. Era como aqueles momentos que pensamos jamais se concretizarem para além do futuro, num tempo de porvir eterno. Até ontem eram os meus pais, meus professores e amigos mais velhos que eram cinquentões, mas a roda girou e, cinco piscadelas depois, chegou a minha vez.

 Pensei muito antes de escrever este texto, inclusive. Talvez nem fizesse mal a ninguém se eu completasse quarenta e nove umas três ou quatro vezes. A quem interessa, no fim das contas, há quantos verões eu estou nesse mundo? A experiência, entretanto, é digna de algum registro, de algumas reflexões.

Embora seja um clichê, mas a primeira coisa que me ocorre é a quantidade de amigos que se foram muito antes de chegar neste marco e nem por um minuto duvido o quanto todos lamentam por isso. Então, em muitos sentidos, chegar aos cinquenta é vencer uma série de provas de resistência. É atingir o nível 50 em um jogo repleto do inesperado.

Chegar sem estar completamente aos pedaços, então, é um feito, inegavelmente.

Se paro para pensar, em termos práticos e racionais, é apenas um número, propriamente. Não me define e nem muda, por si só, o que passo a ser ou o que me torno. Essa mudança, ao contrário, é diária, eis que desde o nascimento o destino é certo e imutável. O caminho é o grande presente, a imensa aventura. Pena ser tudo tão rápido.

Um ano antes eu havia planejado uma festa. Queria o tema de Bruxa. Não que eu seja do oculto, nem nada nesse sentido, mas porque, cercada de plantas e gatos, mais senhora de mim do que costumava ser, gosto de dizer que perdi minhas asas por aí, mas agora faço voos panorâmicos de vassoura. Meses antes da data, no entanto, desanimei. Resolvi deixar para lá, mas a vida é cheia de surpresas e ao invés de um, ganhei dois lindos bolos no motivo desejado e um incrível chapéu de bruxa.

Foram momentos realmente mágicos ao lado da minha família e de parte dos meus amigos. De tudo, nada vale tanto quanto a alegria de se estar na proteção da amizade e do amor. Passado, presente e futuro se tornando uma coisa só, experiência que não sei traduzir em palavras, mas que transbordou dentro de mim.

Olhando para os degraus que já subi, sinto que mesmo que eu talvez precise agora ir com mais cuidado, que já fique em maus lençóis quando esqueço os meus olhos para perto, ainda tenho um caminho infinito (enquanto dure) para prosseguir. Não vou dizer que os cinquenta não me assustam, mas mais pelo que ameaçam me levar do que possam me trazer. A finitude passa a adquirir outros tons e mais do que nunca tenho urgências em meu viver.

Escrevi uma história que não rascunhei, mas que aceito como a versão que pude dirigir, o que me foi, até agora, permitido experenciar. Como meu pai diz, no entanto, são apenas os primeiros cinquenta...

Cinthya Nunes é jornalista, advogada, professora universitária e precisou de certa coragem para contar a verdade insculpida em sua certidão de nascimento – Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo./www.escriturices.com.br