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Nada novo, de novo

A gente bem que gosta de pensar que um novo ano possa ser melhor do que o anterior. Por razões místicas ou religiosas, muitos de nós apostam as fichas no ciclo que se reinicia tão logo nosso planeta termine seu giro em torno do Sol. De minha parte fico sempre na torcida por melhores notícias, por esperanças que se renovem, mas já passei da idade de acreditar que só a troca de números no calendário seja suficiente para transformar as coisas.

Como faço todos os anos, fui para o interior aqui do estado de São Paulo para passar uns dias com meus pais, irmãs e sobrinhas. Andando a pé pela cidade, notei, com tristeza, que tal qual acontece aqui na capital, há muito lixo pelas ruas, nitidamente descartado de forma negligente e impune pelas pessoas. Não há serviço de coleta que dê conta, seja lá ou cá.

Tivemos tanta evolução tecnológica nos últimos anos e cada vez mais se fala em conceitos que, penso, no futuro não tão distante serão comuns, tais como metaverso, inteligência artificial e multiverso, mas a grande maioria das pessoas parece não ter a simples habilidade de descartar corretamente os resíduos que produzem. Jogam no chão, nos rios, nas ruas, nas praias e pronto. Nem se importam ou tem ideia dos resultados nefastos de tais atos, nem mesmo a curto prazo.

O que se pode ver é que nada parece mudar, passe o tempo que for. Estamos em 2022 e ainda há tantas mazelas que poderiam deixar de existir com hábitos simples, tais como um pouco mais de empatia pelo outro e pelo planeta. Muitos reclamam dos governantes, mas pouco ou nada fazem para mudar o que está ao redor. Grandes mudanças começam com pequenas atitudes.

A quantidade de animais abandonados pelas ruas também me causa extrema tristeza, tanto quanto a indiferença das pessoas a esse respeito. Muitos, provavelmente a imensa maioria, não se importa se há animais passando fome ou morrendo. Aliás, se tampouco se importam com os humanos em condição de miserabilidade, o que dirá com os animais.

Nessa minha incursão ao interior do Estado ficou ainda mais evidente, para mim, a falta de políticas públicas voltadas à questão ambiental e animal. Falta conscientização da população e a ação estatal para diretrizes e para fiscalizar. Animais não são coisas. Sentem fome, medo, frio. Com os gatos, em especial, a ignorância e o preconceito ainda falam alto demais.

Gatos são criaturas incríveis. Amorosos, leais, companheiros, inteligentes, são excelentes animais de estimação. Só precisam de uma chance. Enquanto escrevo, uma de minhas gatas se esfrega em minhas mãos, procurando meu colo para se aninhar. Foi resgatada, assim como os outros quatro e só lamento não ter condições financeiras para fazer mais por outros animais em situação de risco.

A grande questão é que os gatos se reproduzem rapidamente e uma única fêmea não castrada pode facilmente, em um ano, trazer ao mundo cerca de vinte outros tantos animais. Desse modo, é preciso que pessoas castrem seus animais e que o Poder Público se encarregue de fazer o mesmo com os animais de rua ou comunitários. Sem uma ação conjunta e coordenada, a quantidade de animais abandonados e doentes só faz aumentar.

É necessário que as pessoas entendam que não existe isso de “levar para uma ONG” como se fosse um sumidouro de animais ou um lugar mágico no qual os recursos existam em abundância. Por detrás de toda ONG de proteção animal séria existe uma quantidade de pessoas que praticamente “enxugam gelo”, sem qualquer auxílio externo. A maior parte fecha as portas, abarrotada de abandonos alheios.

Não apenas quanto aos animais, mas em todas as coisas, nada vai mudar se não mudarmos, se não revermos crenças arraigadas e cravejadas em nós pela ignorância e pela irresponsabilidade. Assim, não jogue para o outro aquilo que deveria ou poderia partir de você. Faça a sua parte antes de criticar. Mude a você mesmo antes de discursar como mudar o país ou o mundo. De nada vale o ano ser novo, se os discursos continuam velhos.

Nesse primeiro texto do ano, desejo que em cada um de nós nasça ou cresça o desejo de fazer melhor do que antes e que esse querer se concretize em ação, em fazer. Por um 2022 de menos omissões...

Cinthya Nunes é jornalista, advogada, professora universitária e não tem medo de ser chamada de “velha doida dos gatos” – Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo./www.escriturices.com.br