No texto passado contei sobre o resgate que fiz de dois filhotes de sabiá laranjeira. Embora eu realmente me compadecesse dos pais que estavam pelas redondezas, estava certa de que sem conseguirem voltar ao ninho, morreriam de frio ou caçados pelos gatos que perambulam pela nossa rua durante a noite.
Contudo, depois de colocá-los em uma gaiola para evitar que fossem capturados pelos meus próprios gatos e cachorras, busquei alimentá-los com uma mistura especial através de uma seringa. Nada muito fácil, mas possível. Longe, contudo, de ser o melhor cenário para duas aves filhotes. Eu sabia que se ficassem comigo por muito tempo acabariam se tornando dependentes e talvez sequer fossem capazes de voltar à liberdade, de sobreviverem sozinhos.
Por indicação de uma amiga, após falhar em minhas primeiras tentativas de encaminhar os pássaros para as autoridades competentes, entrei com contato, via mensagem de WhatsApp, com a Divisão de Fauna Silvestre, a DFS. Recebi retorno quase imediato, para minha surpresa. De pronto já me fizeram perguntas sobre o estado das aves, bem como se eu tinha foto delas, a fim de que pudessem me orientar melhor.
Por mensagem estive em contato com o veterinário Marcos que me informou que poderiam receber as aves no CeMaCAS – Centro de Manejo e Conservação de Animais Silvestres – Parque Anhanguera, situado na Estrada de Perus, aqui no município de São Paulo. Eu poderia agendar para que a Guarda Ambiental viesse retirá-los ou eu mesma poderia leva-los até a reserva ambiental, distante pouco mais de trinta quilômetros de onde moro.
Fui informada também de que se o local onde os pássaros foram encontrados fosse tranquilo, era melhor deixá-los lá, eis que pela foto que lhe enviei era possível verificar que já estavam arriscando pequenos voos. Os pais cuidariam e logo os filhotes estariam independentes e a salvo. Infelizmente aqui não era o caso e eu estava certa de que virariam lanche de predadores ou morreriam sob as rodas dos muitos carros que cruzam a rua o tempo todo.
Mesmo não sendo perto, resolvemos que levá-los para quem deles pudesse cuidar adequadamente era a melhor opção. Confesso que alimentei a esperança de que eu pudesse entrar e conhecer um pouco da reserva e os muitos animais que lá vivem. Não fossem tempos pandêmicos, eu teria feito esse pedido de pronto.
Já estava me preparando para pegar a estrada quando me disseram que havia uma viatura da Guarda Ambiental aqui perto de casa e que, se eu quisesse, eles poderiam vir buscar os sabiás. Aceitei na hora, sobretudo pela economia de tempo e até de dinheiro, mas intimamente me decepcionei por não ter a chance de conhecer mais de perto o trabalho de acolhimento e recuperação de animais silvestres.
Pouco tempo depois a viatura parou em frente de casa, chamando atenção da vizinhança. Entreguei a eles os meus mais novos amigos, certa de que seriam bem tratados e que dentro de pouco tempo já estariam voando por aí, livres como devem e merecem ser.
Nada fácil o trabalho desenvolvido pelas equipes que compõe o DFS, que recebe cerca de sete mil animais ao ano, muitos dos quais estão seriamente debilitados, machucados, doentes ou traumatizados. Há aves, répteis, símios e outros mamíferos, todos precisando de alimentação e cuidados específicos.
Para quem quiser conhecer um pouco mais sobre a realidade dos animais resgatados na região e mesmo vindos de lugares mais distantes, vale acessar o perfil da DFS no Instagram (@faunasvma). As fotos são lindas e os relatos são informativos e comoventes. De minha parte somente posso agradecer pela atenção e pelo cuidado com os dois pequenos emplumados que cruzaram meu caminho.
Momentos assim enchem meu coração de esperanças. Bom demais conhecer pessoas que se importam, que tem cuidado no trato com o outro, humano ou não, que se empenham para fazer desse mundo um lugar melhor para nossos irmãos animais. Obrigada ao veterinário Marcos, à DFS e à Guarda Ambiental. Que os bons exemplos frutifiquem, pois salvar vidas nunca foi tão importante quanto agora.