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carnaval

Carnaval de rua cancelado aqui em Sampa. As centenas de blocos que já estavam autorizados vão ter que recolher a serpentina que nem foi lançada. Pago para ver. Tenho certeza de que blocos de rebeldes haverão de sambar, sub-repticiamente, por ruelas dos bairros paulistanos. Festa de máscaras, literalmente. Ao menos deveria ser.

Mas o desfile no Sambódromo está garantido por ora. Lá, por certo, afirmam as autoridades, será possível rigorosa fiscalização. Ademais, será ao ar livre e o vírus, empático, não vai contaminar ninguém. Se for Lua minguante então, sem chance. Assim como na praia, onde o vírus morre pelo sol e pelo sal. As chances de dar errado são mínimas. Para o vírus, acredito.

Esse vírus, sobretudo essa variante mais recente, é um oportunista. Escolhe, aparentemente, os locais para atacar. Em outros, mostra-se apático e inoperante. Creio que esteja recebendo “um por fora” para se comportar assim. Só pode. Então tá tudo bem! Mesmo diante dos números de internações subindo, das notícias de casos de contaminação galopantes, a festa está garantida e tem muita celebridade com samba para dar e vender. Muita vontade de vender. E da outra coisa também. Sambar, é claro.

Eu quero mais desse mundo para mim também. Um lugar livre desse vírus maldito, onde seja possível fazer planos de viagens de cara limpa, ao lado de amigos, da família. E por mais que dentro de avião, segundo reza a lenda, o vírus também seja um cavalheiro comportado, parece que andam cancelando voos porque ninguém avisou aos pilotos e copilotos disso. Possivelmente nem ao vírus. Lamentável essa falha de comunicação. Isso deixa as pessoas confusas.

Confusão, aliás, é a palavra do momento. Só isso pode explicar certos comportamentos. Ainda ontem as pessoas pediam para não haver aglomeração, para ficarmos em casa. Agora tem a vacina, né? Aquela que evitava o vírus, depois evitava os casos mais graves, um pouco depois evitava a morte e agora, parece, depois da 4ª dose, faz tudo ser uma gripezinha

. Então dessa vez podemos voltar para rua, sobretudo se for para “ver a banda passar, cantando coisas de amor”.

Semana que vem tomarei minha terceira dose e irei na quinta, sexta e quantas mais vierem. Meu braço já está a postos também para a vacina da HxNx, precaução numérica que tomo para evitar a pronta desatualização desse texto. Nem sei mais para que servem, nem se virarei um lagarto multicor, mas “ó abre alas, que eu quero passar” e “me dá vacina, me dá vacina para ninguém mais chorar”...

Ainda temos pouco mais de um mês até o Carnaval, no entanto. Será que até lá os planos podem mudar? Pouco provável. Depois da festa vai ser um tal de “Ei você aí, me dá um dinheiro aí “e de “Tristeza, por favor vá embora”, mas ao menos o povo terá gozado seus cinco dias de alegria, porque afinal de contas a vida é curta demais e “quem parte leva saudade de alguém que fica chorando de dor”.

“Ai, ai, ai, ai, está chegando a hora, o dia já vem raiando meu bem eu tenho que ir embora” e “se eu perder esse trem, que sai agora às onze horas, só amanhã de manhã. E além disso mulher, tem outras coisas...”

Cinthya Nunes é jornalista, advogada, professora universitária. Adora marchinhas antigas, é vacinada, vermifugada, carimbada, mas chegou o Carnaval e ela não desfilou – Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo./www.escriturices.com.br