images/imagens/top_2-1-1024x333.jpg

 SSUCv3H4sIAAAAAAAACpxSTY/cIAy9V+p/GHFeJEgyE+hfqXpwwJmgJWEFpNVqtf+9fCRTWs2pN/xsv+dn8/H1y+VCJghGkW+Xjxyl2Fi7h+ghGrclmL0cuMdNo28R1CY6b8C24ARRLRusmMBttzbDnyVJQoS4BwxZ7IAURLwnjgo+KOpE32t8ORMlmTpSipCXBgv7VLATquT/1VkfP043cMdNvf+ZLUMW1vd2ukw9Cg5iGug8jyMdhJZUDDNSlCi5AnljTD40TvLMpd2EITr1+g8hZ+MonnVoj7CGaMp+/+qQ7Fl9WPYY0T/TaPjro5g/DuPRItRbHT1kvjLGBUPazZhMJl9U9BqoxivLRvU8Q6Gs8uT1VxJe22vDro1rDv3TKbC5oG+U37xRZrs3bS4u5eOdbcrtW/T5Bo9jEuvcG0w2b2VOnHjiC4SQyvWJN0IqfXO3Njqbi8XwwUp0+pw55H3Heym7Yexv/Sg7xo+C+qEXk3jKOCdR2bbRrXWTJyBay7GblKB86K506JSiEnhPuexvQnDJJ55X+PkbAAD//wMAsn7HmJoDAAA=

Mais um Natal chegando e a família Nogueira, tal como nos últimos oito anos, faria o sorteio de quem desempenharia o papel de Papai Noel. Após o nascimento das gêmeas Sofia e Isa, os avós, Seu Bilu, como era mais conhecido, e Dona Joana, transformaram em tradição a visita especial do “bom velhinho” nas noites de 24 de dezembro.

Havia um sorteio envolvendo tios e primos, todos ansiosos para conferir quem teria a melhor performance. A coisa toda envolvia uma série de preparativos, pois a entrada deveria ser triunfal. As meninas, agora com 8 anos de idade, já estavam difíceis de serem enganadas. No ano anterior, o tio Agenor é que fora o contemplado e resolveu que seria um Papai Noel moderno, mas quando arriscou a primeira fala foi desmascarado pela Bisa Marieta, que aos 94 anos não sabia mais nem onde estava.

—Agenor, meu filho, deixa de ser ridículo! Por que você está com essa roupa vermelha e com essa barba desse tamanho? Você está parecendo meu saudoso Gervásio, aquele velho maluco.

A decepção do tio Agenor foi indisfarçável, ainda mais depois que as meninas começaram a chorar perguntando por que o Papai Noel de verdade não tinha vindo naquele ano. Tiraram a Bisa da sala, mas o estrago já estava feito. Tentaram explicar para as crianças que não era o Tio Agenor, que a Bisa estava enganada, mas nunca se viu Papai Noel mais desanimado nesse mundo.

O motivo não era apenas ter sido desmascarado, no entanto. Quem tivesse a identidade descoberta pelas meninas tinha que pagar as bebidas de toda a família no dia 25. O tratado é que isso seguiria até que Isa e Sofia completassem 10 anos, mas diante do nascimento de mais uma criança na família previsto para janeiro, já se antevia a continuidade da brincadeira.

Dessa vez o sorteado foi o Seu Bilu, o avô. Já fazia três anos da última vez e ele tinha sido um sucesso. As meninas haviam passado semanas em êxtase, contando para todo mundo o quanto o Papai Noel era legal e bonzinho. Dessa vez, na verdade, Dona Joana havia manipulado o sorteio, com a anuência dos filhos. Seu Bilu andava meio adoentado, desanimado e família pensou que ser de novo o Papai Noel lhe traria dose extra de ânimo.

De fato, Seu Bilu passou semanas planejando os detalhes, desde a roupa especial, até a barba feita sob encomenda. Tudo certo para o grande momento, mas as meninas já andavam meio desconfiadas e combinaram, entre elas, que iriam conferir, nesse ano, se o Papai Noel existia mesmo.

Horas antes da meia noite, após a ceia, Seu Bilu, sob o pretexto de não se sentir bem, pediu licença a todos para se retirar. A Bisa foi estrategicamente levada para outro cômodo da casa, sob protestos: —Eu quero ver o Papai Noel também! Agenor, você vai pagar mico de novo, meu filho?

Sofia e Isa foram orientadas a esperar na sala, junto da árvore de Natal. Deveriam colocar os biscoitos especialmente preparados para o lanche rápido do Noel. De repente, no entanto, após um grande estouro, todas as luzes da casa e do quarteirão se apagaram por cerca de 10 minutos. Tão logo a luz voltou, as meninas correram, eufóricas, para contar que esse tinha sido o Natal mais legal de todos! Papai Noel existia mesmo. Elas até puxaram a barba dele com toda força, mas ele era de verdade!

Ninguém entendeu como é que o Seu Bilu tinha conseguido chegar até a sala no escuro, ainda mais com uma barba falsa tão bem colada, mas já se preparavam para lhe dar os parabéns pelo feito, sob os olhares um pouco invejosos do Tio Agenor:
–Também, sem a Bisa por perto para estragar tudo, né?

Minutos depois, Seu Bilu, atordoado, aparecia na sala, sussurrando para os adultos:
—Pessoal, preciso de ajuda. Eu escorreguei e acho que fiquei desacordado uns minutos. Cadê a minha roupa de Noel?

Lá do outro quarto ouviu-se a voz da Bisa:
—Até que enfim tivemos um Papai Noel decente nessa casa. Até presente para mim ele trouxe.

No colo da Bisa, uma foto do Gervásio, emoldurada, exibia um sorriso maroto, que parecia desejar a todos um Feliz Natal...

Cinthya Nunes é jornalista, advogada, professora universitária e espera a visita do Noel, assim, de surpresa – Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo./www.escriturices.com.br