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sabao

Em texto anterior escrevi sobre a origem da expressão popular “Vá plantar batatas”. Muitos ditos populares têm origens e significados bem interessantes e até engraçados. Como recebi, porém, dias depois, uma mensagem de um leitor que gostaria de saber mais sobre a frase “Vá Lamber Sabão”, resolvi ir à pesquisa pelos caminhos da internet.

Lembrei-me, ao buscar links e sites, que uma vez, quando criança, mordi um pedaço de sabão. Na verdade, de sabonete. Em formato de coração, era tão bonito, macio e cheiroso que não resisti: arrisquei uma mordidinha para descobrir que gosto tinha. A decepção foi imediata, pois o treco tinha gosto de nada e de tudo. Lavei correndo e fiquei com a boca cheia de espuma, quase raivosa.

O que poderia, portanto, significar mandar alguém lamber sabão? Uma espécie de castigo? Pelas minhas pesquisas a expressão costumava ser empregada para mandar alguém se lascar, se ferrar, ou sair do local, para não perturbar. Atualmente, como uso, foi substituído pelo irmão mais moderno “dane-se”. Não fiquei satisfeita porque continuei sem saber a razão pela qual alguém que não fosse uma criança sem juízo iria lamber justamente sabão? Ainda mais em um mundo com tantas opções para serem lambidas.

Prossegui procurando informações melhores e achei que a origem seria pelo hábito que os saboeiros tradicionais tinham de medir o PH dos sabonetes encostando uma pequena porção da massa do sabão na ponta da língua. Se levassem um pequeno “choque” nesse contato, o produto não estaria bom para consumo. Para consumir pela boca, com certeza, nunca está!

Não sei se a informação procede, mas não encontrei nada mais específico, nenhuma explicação que justificasse mandar alguém lamber sabão. Eu acreditava que essa era uma ocupação ou destino que se desejava a quem não tinha nada melhor para fazer e que de alguma forma era inconveniente. Algo como: —Você não tem o que fazer? Vá lamber sabão!

Se uma mãe mandasse o filho pequeno ir lamber sabão, por exemplo, já seria arriscado porque muitos cumpririam a ordem à risca. E fariam isso não apenas por serem criaturas sem juízo por definição, mas porque a expressão caiu em desuso, ao menos pelos mais jovens. Um teste realizado com jovens há 10 anos registrou que a imensa maioria deles não fazia menor ideia do que significava a expressão, nem mesmo em seu uso popular.

E “falando” sobre antiguidades, lembrei-me também de que minha avó materna fazia sabão. Em um imenso tacho eram colocados restos de sabonetes, banha de porco e mais um monte de coisas que não sei precisar. Aquilo era fervido por longo período, adquirindo cores que oscilavam entre verde e cinza. Depois de frio, era cortado em pedaços que depois serviam para lavar roupas e louças. Eu gostava de admirar aquele processo todo, tão artesanal e quase alquímico. Nunca vi ninguém lamber nada daquilo, entretanto. Talvez porque todos fossem muito ocupados e lamber sabão seja atividade de quem tenha tempo de sobra.

Restei meio frustrada por não descobrir maiores detalhes e até pensei em dar uma lambidinha em algum sabão aqui de casa para saber se continuam ruins ou se sinto algum choque que me indique se está ou não bom para o consumo. Como tinha que escrever esse texto, acabei ficando sem tempo, mas uma hora dessas, quem sabe? Afinal de contas, quem não arrisca, não petisca.

Cinthya Nunes é jornalista, advogada, professora universitária e não aconselha que ninguém lamba (ou morda) sabão – Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo./ www.escriturices.com.br