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2015

Delícia que era pegar a lista de materiais para descobrir quais seriam as novidades daquele ano escolar. No começo era a emoção de uma lancheira ou um estojo novo. Uma tesourinha sem pontas era fundamental. Além disso, escolhíamos o papel com o qual encaparíamos os cadernos brochuras das primeiras séries do ensino fundamental que, inclusive, na minha época sequer se chamava assim.

Não importava em que estado estivessem os usados no ano anterior, eu sempre ansiava por uma nova caixa de lápis de cor, daquelas com vinte e quatro ou trinta e seis cores, da Faber Castel. Tinham também os livros didáticos, os quais eu sempre achava bonitos, mesmo que fossem de matemática, disciplina para a qual, sem qualquer dúvida, eu jamais tive pendor. Gostava era das capas, da promessa de conhecimento e, acima de tudo, do cheiro.

Até hoje, se eu me concentrar, consigo resgatar na minha memória, olfativa e sentimental, o cheiro bom do material escolar novo, em uma mistura dos odores dos lápis, das borrachas e do papel dos cadernos e dos livros.

Mesmo nas séries mais avançadas, em todo início de ano havia a emoção dos estojos novos, das canetas e dos imensos cadernos de dez matérias, algumas vezes substituídos pelos fichários. Para mim, ao menos, esse momento de retorno às aulas sempre foi um quase ritual de passagem, porque fosse como fosse, representava um novo tempo.

Sendo uma estudante universitária no período A.I., ou seja, Antes da Internet, era preciso comprar os livros das disciplinas do semestre, bem como os Códigos atualizados. Além disso, era o tempo de reencontrar os amigos e colocar em dia a ausência das férias. Como não tínhamos celulares, WhatsApp e tampouco chamadas de vídeo, éramos sempre surpreendidos com as mudanças no visual dos colegas que passávamos meses sem ver.

O tempo voou e hoje sei o quanto meus pais deveriam temer a volta às aulas, com as intermináveis listas de materiais, as matrículas e o gasto extra que isso representava. Para nós, filhos, no entanto, era apenas um momento feliz, pelo qual ansiávamos. Ainda hoje, tecnologias à parte, vejo que as crianças experimentam sentimentos semelhantes.

Uma de minhas sobrinhas, de onze anos, na noite anterior ao primeiro dia de aula do ano simplesmente não conseguiu dormir direito, acordando minha irmã às seis da matina porque não queria se atrasar. A outra, de três anos e meio, chamava a mãe insistentemente para que a levasse ao primeiro dia da aula de balé, pedindo que se apressassem, embora faltassem quase duas horas.

E eis que no ano de 1999 eu tornei professora universitária e aí o início de mais um semestre letivo mudou de significado. Embora eu goste muito da docência, seria hipocrisia não confessar que adoraria uma semaninha a mais de férias, porque tenho uma dose inevitável de preguiça ao pensar na preparação dos novos conteúdos.

Só uma coisa não muda. No dia anterior eu também fico agitada, porque uma parte de mim quer muito o reencontro com os alunos, a entrada em novas salas, os desafios gestados pelos novos ciclos. De certa forma também renovo meu estojo, as cores dos meus projetos e sigo carregando as esperanças de bons resultados. Se eu fechar os olhos, ainda sou capaz de me sentir como a menina magrela que de vestido vermelho, coração e mochila cheios, chegava para o primeiro dia de aula da vida, desejosa de aprender a ler e a escrever.

Boa volta às aulas aos pais, aos alunos e aos professores. Vida longa às escolas, esse mágico lugar que transforma vidas.

Cinthya Nunes é jornalista, advogada, professora universitária e ainda ama comprar caixas de lápis de cor, exceto pelo fato de que agora é ela quem paga – Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo. www.escriturices.com.br