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brasil

Apesar de tudo, eu seria brasileira outra vez. Claro que admiro a cultura e o desenvolvimento de outros países e gostaria de morar em um lugar mais seguro, com menos desigualdade e criminalidade. Mas ainda assim, se me fosse dada a escolha, acredito que ser brasileira, no mínimo, faria parte do top cinco. Há sentimentos que não explicamos, apenas experimentamos.

Este país, de dimensões continentais, é rico das formas mais importantes. Pena ser tão pobre de tantas outras. Para além dos recursos naturais, da beleza da fauna e flora, da comida que nasce quase sem esforço, o Brasil é um gigante, embora de pés amarrados. Assim, ao invés de caminhar livremente, de avançar pelo que se chama de progresso saudável, o país tropeça a cada curto passo, vilipendiado de muitos modos.

Mas o melhor do Brasil, a meu ver, são os brasileiros. Somos um povo cordato, bem-humorado, bonito e único na diversidade de olhos, sorrisos e cabelos. Temos a capacidade de rir do que não podemos alterar, de aceitar as mudanças inevitáveis e de juntarmos tudo para fazer piada. E como o brasileiro ri gostoso! Do outro e de si mesmo. Não há povo no mundo que se leve tão pouco a sério e digo isso no melhor dos sentidos. Acredito, inclusive, que é por isso que sobrevive a tanta política baixa e interesseira, entre outras coisas.

Assim como outros lugares do mundo, estamos em meio a uma crise que embora seja financeira na base, é política na ponta. Então é óbvio que eu preferia estar em um país com mais segurança jurídica e financeira, mas a porta da saída não é a imagem que me vem à mente nesta hora. Eu prefiro tentar mudar algo a fugir. “Verás que o filho seu não foge à luta?”

Considero bem covarde o discurso de uns e outros sobre as providências para o passaporte estrangeiro e a iminência da viagem só de ida para outro país, com as honrosas exceções. Refiro-me àquelas pessoas que se referem a ir embora como abandono da pátria, como quem deixa uma muda de roupa para trás. Há centenas de outras boas ou não tão boas razões para se deixar um país para sempre, inclusive a busca de novas oportunidades e tudo isso é justo e justificável, porque nem sempre nem sempre conseguimos conquistar o que precisamos com braço forte.

A propósito disto, somos o que somos, essa nação mestiça, múltipla, plural, porque resultados das vindas, voluntárias ou não, de pessoas de outros lugares. Isso tudo é um movimento natural, sobretudo com a globalização, só me ressinto é da falta de uma identidade por parte de pessoas que retiram daqui o melhor, nem sempre o justo e, quando não lhes convém, endossam o discurso de “vou morar agora em Paris.”

Tempos mais escuros nos rondam. Estamos próximos das eleições e na disputa de poder, as pessoas não somam, mas se dividem, polarizando posturas, criando lados imiscíveis. No final, todos, pouco importa quem vencer, todos perdermos. Acredito que mais do que pensarmos nos candidatos, nos erros e acertos de cada um deles, deveríamos pensar o que nos move, patrioticamente falando. O quanto do nosso discurso é em prol do país ou de nossos únicos interesses é a grande questão patriótica, a meu ver.

Não me refiro a discursos cegos de idolatria, porque isso apenas serve de manipulação de poder, mas da reflexão de que um país é a nossa casa e também é bem mais do que isso. A divergência de opiniões deveria ser respeitada, mas não é. Os discursos de ódio inflamam e separam pessoas que se reuniam pela amizade. Até onde isso se justifica? As eleições passarão, os políticos se darão as mãos pelas costas, nos bastidores, como sempre. E nós, os brasileiros, o melhor do Brasil, separados por linhas ideológicas de araque, estaremos piores, bem mais tristes e essa é a independência que fingimos comemorar, ó Pátria Amada Brasil.

Cinthya Nunes é jornalista, advogada, professora universitária e brasileira, com muito orgulho – Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo./www.escriturices.com.br