Natal chegando e penso que vale a pena repassar algumas regras básicas de etiqueta e convívio. Nesse período do ano é comum trocarmos presentes com aqueles que nos são queridos, mesmo que sejam pequenos mimos. Em tempos de crise, de vacas não tão gordas, acredito que o gesto de presentear alguém mereça ao menos a consideração alheia.
Gosto muito de receber presentes e nunca deixei de valorizar todos aqueles que recebi. Por sorte sou uma pessoa que gosta de quase todo tipo de coisa. Sou uma pessoa fácil de presentear. Plantas, doces, pães, livros, papel para pintura, tintas, cosméticos, linhas, roupas, bolsas, sapatos, cursos, perfumes, bijuterias, jogos, uma poesia e até mesmo simples caixas estão entre as coisas que enchem meu coração e meus olhos.
Óbvio que eventualmente não ganhamos aquilo que desejamos, como uma vez em que recebi, em meu aniversário de 12 anos, uma camiseta preta estampada com muitos guarda-chuvas roxos. Eu era adolescente e esperava ganhar uma joia que me havia sido prometida. Além disso, odeio roxo. O problema nem era ser uma camiseta, mas o fato da estampa ser de muito mal gosto. Ainda assim, jamais ousei esboçar qualquer descontentamento e vestindo meu melhor sorriso, agradeci.
Nem sempre se deu o mesmo comigo, entretanto. Algumas vezes a falta de jeito do presenteado foi evidente demais, beirando mesmo a grosseria. Vou preservar a identidade dessas pessoas, até porque sequer, creio, fazem ideia do ocorrido, mas confesso que diante de algumas expressões faciais e alegações, minha vontade é de nunca mais dar presente nenhum a ninguém.
Já ouvi todo tipo de coisa, como “ah, isso eu já tenho”, “disso eu tenho bastante”, “nem uso coisa assim”, “não tinha de outro modelo ou de outra cor?”, “darei para outra pessoa”, “estou de regime”, “não me dá mais disso não, que não gosto”, “prefiro aquele outro modelo” e por aí afora. Além desse tipo de resposta desajeitada, para dizer o mínimo, ainda há quem receba o presente, dê uma olhada superficial e murmure um agradecimento amarelo, nitidamente como quem não apreciou em nada o que ganhou.
É preciso dizer que nesse sentido, não importa o que digam, não existe essa coisa de que entre família e amigos há liberdade para ser franco e transparente o tempo todo. Balela! Excesso de franqueza corta como navalha. Pequenas mentiras, nesse quesito, são muito bem-vindas. Nenhum anjo despencará do Céu se você disser que gostou muito de algum presente, mesmo que isso não seja verdade.
É claro que às vezes recebemos presentes que sabemos serem direcionados a nós por pura obrigação, sem qualquer dose de carinho ou consideração. Ainda assim, é nosso papel evitar a grosseria. Ganhou algo de que não gostou? Simples: repasse-o a alguém que possa aproveitar ou que possa realmente apreciá-lo. Só tenha o cuidado de fazê-lo de tal forma que não chegue ao conhecimento do presenteador. Certas mentiras sociais são necessárias, sobretudo se não prejudicam ninguém.
Poucas coisas são tão frustrantes como gastar dinheiro, tempo e carinho escolhendo ou fazendo algo para outra pessoa e receber de volta a indiferença. Então, finja que gostou e ponto final. Guarde sua sinceridade para você mesmo e durma feliz com ela. Em pequenos gestos pode morar a alegria do outro.
Penso que se alguém se preocupa em me presentear, seja com o que for, é porque tem por mim algum afeto ou quer retribuir um gesto. De todo modo, no mais das vezes eu simplesmente adoro tudo o que ganho, sobretudo o carinho alheio. Assim, minha dica para esse Natal, bem como para todas as outras ocasiões é “receber um presente com gratidão é regra de etiqueta, é sinal de educação, daquele tipo que não aprendemos na escola, mas que podemos nos apropriar durante a vida.”