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arvores cidades

Há tempos assumi que vários de meus posicionamentos não agradam e, nessa altura da minha vida, aprendi a não me importar com isso. Claro que busco respeitar as opiniões alheias e mantenho a urbanidade diante do que me incomoda. Contudo, em relação a algumas causas não abro todas as exceções.

Acredito que as pessoas nascem, em regra, como algumas paixões, com certos vínculos e aptidões que podem ou não desenvolver ao decorrer da vida. O amor pelas plantas e pelos animais me acompanha desde sempre. Talvez venha de outras vidas, para quem acredita, ou, de acordo com outras teorias, esteja impresso em meu DNA, na longa corrente hereditária dos meus antepassados.

O fato é que me sinto extremamente ligada à terra, ao verde e à vida animal e isso determina muitas das minhas ações e o modo como me comporto diante de certas situações. Apesar disso, gosto de viver em São Paulo, uma das maiores cidades do mundo. Acredito que é possível a união saudável, inevitável que é, entre o verde e o cinza.

O bairro em que vivo ainda tem muitas árvores e, não estando muito distante do Parque do Ibirapuera, um dos redutos verdes da cidade, sempre há muitos pássaros, de variadas espécies que alimento com frutas na varanda de casa. Em algumas ruas, em especial, é possível encontrar árvores enormes, com troncos que só podem ser circundados por três ou mais pessoas de mãos dadas. Com certeza são árvores já centenárias ou perto disso.

Para meu pesar, entretanto, nosso bairro vem sendo engolido pelas construtoras e a cada dia observo mais casas antigas sendo demolidas para dar lugar a empreendimentos imobiliários. Nesse sentido, duas coisas me incomodam: além das construções que tem marcas e características arquitetônicas históricas e que são jogadas ao chão sem qualquer estudo prévio, morrem com elas também as centenas de árvores que habitavam seus quintais.

As máquinas vem e derrubam tudo, de modo inclemente. Não há qualquer estudo sobre esse impacto e tudo se resolve na alegação de que se trata de propriedade particular e que as pessoas fazem com suas “coisas” o que bem quiserem. Ao meu sentir essa justificativa, além de simplista, é equivocada. Em alguns lugares do mundo já se fala na existência de certos direitos aplicáveis às árvores, de modo que restem com alguma proteção diante da ignorância antropocêntrica humana.

Nem vou, porém, entrar nesse nível de discussão, mas aconselho a quem se interessar pelo tema a ler o livro “A vida secreta das árvores”, de Peter Wohlleben. Qualquer um dotado de um pouco de sensibilidade, após essa leitura, no mínimo irá questionar a existência de um único ponto de vista sobre se as árvores realmente devem ser tratadas como nada, como simples obstáculos diante das necessidades humanas.

De toda forma, eu lamento que tantas árvores, muitas delas frutíferas, servindo de fonte de alimento para abelhas e pássaros, venham sendo derrubadas apenas para dar lugar a novos prédios. Acredito que em muitos casos poderiam ser removidas e recolocadas nas dependências do empreendimento, preservando assim o verde em prol de todos. Mas o que vejo, e adoraria estar enganada, é que viram lixo e nada mais.

Outra questão são as árvores plantadas nas ruas. Ando cansada de ouvir o discurso de que as folhas sujam as calçadas e que as raízes as estragam. Claro que há casos e casos e não sou (tento) radicalista, mas lamento que a única saída encontrada pelas pessoas seja apenas derrubar as árvores e cimentar o local onde elas estavam.

Nem mesmo diante dessa epidemia horrorosa a grande parte das pessoas consegue enxergar além de seus estreitos muros. Tal como pragas, vamos esgotando nosso planeta, esquecidos de que nos alimentamos e respiramos graças ao verde que ainda insiste em resistir a nós. Somente a vacina contra a ignorância é capaz de nos salvar.

Cinthya Nunes é jornalista, advogada, professora universitária e, mesmo correndo o risco de ser considerada doida, abraça árvores – Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo./www.escriturices.com.br