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batata doce

Gosto de ditados populares. Quase sempre são divertidos e/ou pertinentes a muitas situações reais e cotidianas. Na tradição oral, creio que vários deles acabaram sendo modificados com o passar do tempo, enquanto outros ainda são reproduzidos de forma errada, mas que, pelo uso, acabaram como versões consolidadas.

O que a maior parte das pessoas desconhece, inclusive eu, é a origem dos ditos populares. Apenas vamos reproduzindo-os, sem ideia do contexto no qual surgiram. Dia desses, enquanto comprava legumes na feira livre perto de casa, escutei uma conversa entre dois feirantes. “Ah, vai plantar batatas!”, disse um respondendo certa provocação feita pelo outro.

Fiquei pensando qual o sentido em se mandar alguém plantar batatas, principalmente porque eu já tentei fazer isso algumas vezes, mas sem sucesso, em meu jardim de vasos. Então, em nada adiantaria alguém me mandar fazê-lo, tampouco tal frase me ofenderia. Curiosa, procurei me informar a respeito.

Descobri que a frase teve origem em Portugal. Como país que era voltado à pesca e às navegações, as pessoas que se dedicavam à agricultura eram tratadas de forma desdenhosa. Sobretudo as que cultivam batatas, alimento que era tido como vulgar. Justo a batata que hoje é um dos ícones da culinária portuguesa. Nada como um dia depois do outro, não é? Pois bem, naquela época, quem se dedicava ao cultivo desse tubérculo praticava uma atividade de pouco valor. Assim, àqueles que não tinham sucesso em outros setores ou que estavam desempregados, era aconselhado que fossem plantar batatas.

Hoje, se alguém manda o outro plantar batatas, creio eu, sequer imagina as razões históricas da frase, mas acredita que está mandando alguém se ocupar de algo, se não tem nada melhor a fazer, ou a se danar. Penso ser esse o sentido que se deduz atualmente. Enfim, na evolução da língua, vamos mesmo incorporando muitas palavras e expressões que sequer sabemos o que realmente significam ou um dia significaram.

Sobre as batatas, gosto demais. Fritas, assadas, cozinhas, com molho, em purê, ao murro, doces ou salgadas. Pão de batata, bolo de batata, doce de batata, biscoitinho de batata, qualquer comida, de modo geral, onde esse divino legume possa ser incorporado. Em verdade, ela mesma cozida com um pouco de azeite e sal já é uma refeição. Resumo da ópera: as batatas têm em mim uma fã incondicional.

Sem dizer que são bonitas. Há delas de várias qualidades, formas, tamanhos, cores e algumas variações de textura e sabor. Para mim, leiga em “batatologia”, são simplesmente batatas. Coisa formidável que descobri é que se faz chips até com a casca, desde que bem lavadas, por óbvio. Mas se a preferência ou a receita exigir que delas se retire a casca, também não é difícil, ainda que possa ser meio entediante descascá-las. Sobre descascar há um ditado envolvendo os abacaxis, mas isso já fica para outro texto.

As batatas são mesmo incríveis. Duram uma eternidade, mesmo não armazenadas da melhor forma, mas caso as esqueçamos em um canto qualquer da fruteira, começam a brotar, loucas por um pedaço de terra para se transformarem na “batatinha que quando nasce, espalha a rama pelo chão”. Da batata já passada vão saindo pequenos brotinhos que logo se transformam em ramos repletos de folhas. Se enterradas, fazem o trabalho sozinhas e, meses depois, dentro da terra há todo um tesouro, dezenas de outras batatas, prontas para se transformarem em comida da mais alta qualidade e do mais delicioso sabor.

Tivesse eu um pedaço de terra para chamar de meu, plantaria batatas sem pestanejar, trocando, inclusive, por outras coisas realmente chatas que sou obrigada a fazer. Se alguém quiser me ofender ou me simplesmente me chatear, que me diga: “Ora, vá pagar boletos”. As batatas, aceito com todo gosto.

Cinthya Nunes é jornalista, advogada, professora universitária e está planejando, nesse momento, uma boa refeição com batatas – Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo./www.escriturices.com.br