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basta

Alguns talvez considerem como alienação, outros, no entanto, podem entender meu ponto de vista, mas tenho evitado, desde o início da pandemia, assistir aos noticiários de televisão e, de forma geral, as notícias mais alarmantes. Não quero com isso afirmar que esteja alheia aos acontecimentos ou que não me importe com o que se passa. Em verdade é exatamente o contrário. Atualizo-me todos os dias, de modo rápido, mas não me sinto capaz de mais do que isso.

Em 2020 era o terror pelo desconhecido, o medo e a tristeza das perdas. Quisera isso tivesse ficado no passado, entretanto. Nesse ano, além de tudo isso, permanecem as outras mazelas do mundo, acrescidas de mais e mais fatos horríveis. Claro que houve e há boas coisas também, pois sem elas seria impossível prosseguir, mas por vezes sinto que a maldade e a vilania ganham cada vez mais espaço, sufocando o bem que tenta sobreviver.

Quem acompanha meus textos sabe que de forma geral evito assuntos desagregadores, como política por exemplo. Evito porque meus pensamentos e convicções não são o único lado possível de se ver as coisas, mas também porque há muita intolerância a distorcer tudo que se escreve ou diz. Só que as vezes ficar calada é uma omissão imperdoável.

Tenho plena consciência de que minhas palavras nesse espaço não têm força para mudar nada. Entretanto, como cidadã que trabalha todos os dias, muito mais do que oito horas diárias, que não recebe nenhum tipo de auxílio governamental e nem nunca recebeu, que paga impostos e mantém, a duras penas, suas contas em dia, sinto-me autorizada ao menos a desabafar, eis que nada mais posso do que isso.

Estamos vivendo um momento de caos econômico para o qual não vejo saída. E nem me venham dizer que a solução é colocar velhos e podres políticos de volta ou mesmo manter os que estão no poder. Aumentos de salários dos políticos e servidores, aumentos na conta de luz, de água, gás de cozinha nas alturas, criação de novos impostos, auxílio absorvente, auxílio isso e aquilo e nada se fala sobre cortes em verbas destinadas aos políticos e funcionários públicos de altos escalões.

Há dias nos quais eu me sinto uma escrava que precisa trabalhar para sustentar os mil auxílios eleitoreiros e mais os outros que se prestam a manter o luxo de certos privilegiados cidadãos brasileiros. Para nós, classe trabalhadora, restam os impostos cada vez mais altos, a necessidade de cortar despesas que já nem podemos ter e a desesperança em um sistema que, com louváveis e mínimas exceções, existe para se autofavorecer.

O triste é que quando a população realmente precisa de auxílio estatal, tem as portas fechadas na cara. Esmolas em forma de auxílios e vales não resolvem a vida de ninguém a médio prazo. Valem como medidas extremas e pontuais, por óbvio, como no início da pandemia, mas a longo prazo perdem o sentido. Mais valeria se todos os brasileiros, os que trabalham, tivesse direito a um salário digno, capaz de colocar comida e respeito na mesa.

Cada vez que ligo a televisão em jornais matutinos, assim, sinto o estômago embrulhar e um imenso nariz de palhaço virtual se instala em meu rosto. Vivo com essa sensação de que os homens e mulheres de bem, acuados, não tem mais voz para mudar nada e que o mundo é um grande esquema operado por quem tem o vil metal nas mãos. O restante pouco parece importar.
Nessa semana, para agravar a minha revolta, hoje indisfarçável, vi uma cena que me trucidou. Um cretino de um caçador e registro que se dependesse de mim TODOS OS CAÇADORES seriam transformados em amebas, matou uma onça preta no Maranhão. Esse ser humano lixo, feliz da vida, ainda posou em fotos e vídeos, gabando-se do feito de ter abatido um animal em risco de extinção. Sequer era algo destinado à alimentação, porque se fosse o caso, de abate para comer, por necessidade, eu seria capaz de compreender. Foi apenas pelo prazer de matar, mesmo prazer que eu sinto agora em sabê-lo preso e em desejar que tenha uma excelente estadia junto aos seus. Desejo a ele tudo de mau e que Deus me perdoe, se puder, por isso.

Sei, por óbvio, que é um ser ignorante e que nem de longe é o único, porque nesse país, a proteção ao meio ambiente e o respeito pelos animais também é regido por interesses de outra monta.

Então que me desculpem meus leitores ou aquele que, inadvertidamente ler esse texto. Hoje sou revolta.

Cinthya Nunes é jornalista, advogada, professora universitária e, feita de carne, ossos e emoções, tem seus dias ruins também – Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo./www.escriturices.com.br