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A quantidade de lixo pelas ruas das cidades, sobretudo em uma cidade grande como São Paulo. Pelas ruas se encontra todo tipo de descarte. Parece-me que grande parte das pessoas simplesmente não se importa. Jogam lixo pela rua como se as coisas fossem ser absorvidas pelo concreto ou pudessem desaparecer como mágica.

Sempre que posso, ao menos na rua onde vivo, recolho uma infinidade de coisas que as pessoas descartam. Tampinhas, copos, garrafas, papel, anúncios de propaganda e restos de comida. Sei de algumas pessoas no bairro que fazem o mesmo. O restante fica para a Prefeitura recolher, mas é como enxugar gelo, já que todos os dias há mais e mais.

O curioso é que noto muito mais gente reclamando das folhas e flores que caem de algumas árvores do que da imundície deixada pelos seres humanos. Assim, há sempre pedidos para que árvores sejam cortadas, além das muitas que, criminosamente, são arrancadas pelos moradores incomodados com a “sujeira” que elas produzem. Acho difícil de entender, admito.

Pelas ruas do bairro, fazendo uma caminhada com minhas cachorrinhas, notei duas esquinas que, frente a frente, exibiam situações muito distintas. Em uma delas o lixo colocado pelos moradores, que na origem estava acondicionado de forma correta, encontrava-se revidado e espalhado para toda parte. Na outra, o chão estava amarelo, coberta das inúmeras florezinhas que a chuva da noite anterior fizera cair da imensa árvore. Era como céu e inferno. Só não sei como muitos invertem essa percepção.

Saindo da cidade de São Paulo, de carro, pelas marginais, uns dias depois, vi que os muitos Ipês estavam em flor. Flores roxas e rosas coloriam o gris habitual. Circundavam o rio quase morto e fétido. Impossível abrir a janela do carro, pois o cheiro, insuportável, atingia não apenas meu olfato. Houve um momento, há décadas, no qual acreditei que veria os rios Tietê e Pinheiros despoluídos. Hoje já não acredito mais, restando apenas imaginar a vida que um dia neles foi abundante.

Sou incapaz de jogar qualquer coisa que seja na rua. Procuro um lixo para fazer o descarte correto, seja lá do que for. Primeiro porque me ensinaram desde criança a agir desse modo e depois pelo que acredito e quero para o mundo. Ainda assim sei que indiretamente contribuo para o lixo no mundo apenas por existir e consumir. Tenho consciência da minha participação no caos, portanto.

Por mais que eu saiba que poluição, pobreza e ignorância seja uma tríade que anda de mãos dadas, é inegável que o descarte de lixo pelas ruas é feito por pessoas de todos os níveis sociais, o que é ainda mais lamentável, pois reflete somente descaso, desrespeito. Além disso, temos o despejo de esgoto clandestino, não tratado, feito por muitas empresas que apenas se preocupam com o lucro, como se fosse possível comer dinheiro e se não precisássemos de água limpa para viver.

Por outro lado, admiro o trabalho de formiga de algumas pessoas que, reunidas, tentam fazer algo para que tudo não fique pior. Recolhem lixo de manguezais, de rios, de praias, das ruas, das matas, cientes que os recursos não são infinitos, de que, se nada for feito, um dia seremos soterrados em meio a tanta sujeira, tanto daquela que conseguimos ver, como daquela invisível aos olhos.

Cinthya Nunes é jornalista, advogada, professora universitária e queria que todo lixo jogado na rua e nos rios aparecesse, num repente, na casa de quem jogou – Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo./www.escriturices.com.br