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morcego

Anos atrás minha gata Chica Maria trouxe, por duas vezes, para dentro de casa, um morceguinho. Segurado pela boca, mas de modo sutil, o animalzinho se livrou dela duas vezes, fazendo rasantes pela casa. Depois de algum pânico, conseguimos devolver o mamífero alado à natureza e nunca deixei de pensar que talvez ele estivesse envolvido sentimentalmente com a gata e que eu, sem querer, estava impedindo a consumação daquele amor.

O fato é que não voltei a ver outro morcego por aqui até semana passada. Temos uma pequena área aberta no quintal e lá coloco néctar para os beija-flores. Tenho o cuidado de colocar mistura própria para eles, que dura apenas um dia, não fermentando para colocar essas e outras aves em risco. Muitos são, entretanto, os consumidores da iguaria. As primeiras a aparecer são as abelhas, seguidas das pequeninas cambacicas e, por óbvio, os maravilhosos beija-flores.

Em uma noite dessas precisei subir pegar algo lá fora e tomei um grande susto ao sentir algo passando, em rasante, próximo a minha cabeça. E foi aí que notei que eram vários e bem pequenos. Quatro morceguinhos se revezavam entre os dois bebedouros, fazendo acrobacias no ar, quase como se fosse tudo ensaiado, tamanha era a precisão. Estava descoberta a razão pela qual os bebedouros amanhecem vazios todos os dias.

Sou fascinada por morcegos, diga-se de passagem. Infelizmente muita gente os associa às criaturas nefastas da ficção. Como li em outro artigo1, o que poucos sabem é que os morcegos estão mais próximos do Batman do que do Conde Drácula.

Os morcegos estão entre os mais importantes polinizadores e dispersores de sementes do mundo. Ao defecar sementes acabam sendo responsáveis por reflorestamentos e pela manutenção de muitas espécies de frutíferas. Além disso, exercem relevante papel no controle de pragas, pois são capazes de ingerir o dobro de seu peso em insetos em uma única noite. Dessa forma a ação dos morcegos faz com que seja necessário um número bem menor de pesticidas nas plantações.

Muitos tem medo dos morcegos por conta da possibilidade de contaminação pela raiva. É preciso saber que somente a transmitem se estão contaminados e estudos demonstram que esses animais adoecem exatamente pela falta de habitat natural, pelo estresse que sofrem. Em princípio os pombos transmitem muito mais doenças e ninguém sai por aí morrendo de medo deles.

É claro que não estou aconselhando ninguém a colocar as mãos nos morcegos ou a se expor indevidamente à possibilidade de adoecer. Mas é essencial conhecer um pouco mais sobre a importância e o relevo deles para a própria humanidade. Sem dizer que são seres vivos e tem direito à existência a salvo de crueldades.

Outro dado muito interessante é que das mais de 1.200 espécies existentes no mundo, apenas 3 delas são morcegos hematófagos, ou seja, que se alimentam de sangue. O time do Cavaleiro das Trevas ganha de longe do time do Conde. Então antes de sair gritando que vai ser mordido por um morcego, morda uma boa informação a respeito. Se encontrar algum deles por aí, não o machuque. O que mais mata no mundo, é a ignorância.

Não dá também para esquecer de que além de ser o único mamífero que voa, o morcego é praticamente cego e se orienta por um sofisticado sistema de radar, emitindo ondas ultrassônicas. Dotados do que se chama Biosonar, os morcegos não apenas são capazes de voar no escuro desviando-se de grandes obstáculos como também de localizar, em pleno voo, minúsculos insetos e flores.

Através do estudo da existência do Biosonar ou Ecolocalização, habilidade dos morcegos, golfinhos e baleias, é que os seres humanos desenvolveram tecnologias como os aparelhos de ultrassom, radares e os sonares, tais como os utilizados nos submarinos.

Se é fato que os seres humanos são dotados de inteligência que lhes permite aprender com a natureza, os professores são criaturas bem mais humildes e muito menos letais. A lição mais essencial, no entanto, ainda não conseguimos aprender, ou a maioria de nós não consegue, que é a empatia, o respeito e a consideração por tudo que vive.

Minha casa, no que depender de mim, sempre será uma filial da Bat-caverna.

Cinthya Nunes é jornalista, advogada, professora universitária e adora morceguinhos também – Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo./www.escriturices.com.br