Talvez a religião que você professe, leitor, não envolva a tradição do Natal ou talvez você simplesmente tenha suas outras razões para não comemorar tal data. Em verdade, pouco importa para o que vim lhe dizer. Sim, porque ainda que você esteja lendo e eu, do lado de cá, escrevendo, é um monólogo que travo com a tela em branco, mas que dirijo a quem quer que por aqui esteja.
É claro que a simples mudança de um dígito no calendário não tem o poder de mudar nossos destinos ou de resolver as nossas pendências. Eventualmente, para a numerologia ou outras áreas pode ser determinante. Não sei. Mas acredito que somos criaturas cíclicas. Vamos abrindo e fechando ciclos enquanto podemos. E se não fazemos isso de modo consciente, a cada dia me convenço de que deveríamos fazê-lo.
De um jeito ou de outro nossas vidas vão tomando alguns rumos diferentes com o findar de mais um ano e é até natural que um certo espírito natalino domine as emoções. Muito usado para levar as pessoas a consumir mais, a dar presentes e participar de encontros comemorativos, o Natal pode ser um bom momento para reflexões e para atos que vamos indevidamente economizando durante o ano.
Muito mais do que uma refeição suntuosa, enfeites caros ou roupas novas, ao meu sentir, é claro, importa aquilo que fazemos e o que pensamos sobre o que fizemos. Quais os reais motivos por detrás de nossas atitudes, as boas e as ruins? O que nos move? Do que devemos nos dispor, seja em prol do outro ou de nós mesmos?
Registro que não tenho respostas para quase nenhuma dessas perguntas, nem sou exemplo de coisa alguma. Só sinto que me questionar é minha obrigação, é algo inevitável na minha busca pessoal por me entender e por ser alguém um pouco melhor e sei que o caminho é longo. Sinto que estou sempre um passo atrás de mim mesma, incapaz de me reconhecer de verdade e, lamento, de conhecer as pessoas que me cercam.
Então, a você leitor, seja constante ou que tenha chegado até aqui por um acaso qualquer, quero dedicar este texto, que segue repleto dos meus mais sinceros votos. Entendi que se não posso mudar o mundo, posso brincar com a eternidade efêmera de uma crônica, gravando nela o que lhe desejo para o Natal e para o ano que em breve se iniciará.
Assim, eu desejo que você, se puder, esteja com sua família, com seus amigos, com seus pets ou com qualquer um que lhe faça feliz, que seja capaz de lhe provocar um sorriso sincero. Caso não possa ou não queira estar com mais ninguém, que você possa ser sua melhor companhia e que, neste caso, seja tolerante e generoso consigo mesmo.
Desejo que não lhe falte nunca o pão e que ele seja fruto de trabalho honesto, mas que a sorte também possa lhe fazer boas surpresas, com presentes que o Universo deveria ter reservados para cada um de nós. Se por acaso houver muitas pedras no meio de seus caminhos, porque é certo que algumas haverá, você seja capaz não de construir um castelo, mas um porto para se sentir seguro e para partir quando quiser se aventurar em outros mares.
Que a saúde não lhe falte e que você não a esbanje, mas a conserve, na certeza de que a jornada humana é finita enquanto terrena e que é preciso aproveitar cada dia, único e irrecuperável que é. Que você, no entanto, se compadeça daqueles a quem a saúde faltar e que tenha empatia e solidariedade nos momentos de dificuldade alheia.
Entre todas as coisas que eu poderia lhe desejar, eu desejo amigos, companheiros de caminhada, irmãos que vamos chamando para nosso lado, sem os quais nada vale a pena. Que as amizades sejam verdadeiras, porém, que sejam laços, que sejam nós.