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tempo

Que o tempo parece estar passando mais rápido, isso não tenho dúvidas, ainda que não possa explicar o fenômeno em termos científicos. Piscamos e lá se foi mais um dia, mais uma semana, meses, anos. O curioso é que as pessoas parecem estar cada vez mais em busca de celeridade. Tudo deve ser rápido, instantâneo.

Fácil percebermos isso em muitas coisas. O tempo é curto e há muito a se fazer ou é preciso mais tempo livre para não fazer nada? De fato não sei. Parece-me apenas que sobretudo os mais jovens perderam a capacidade de concentração, de fidelizar-se a algo por mais do que alguns minutos.

Se uma palestra ou um livro não cativar a plateia em dez palavras ditas ou escritas, lá se vão ouvinte e leitor, em um arrastar de cadeiras, em um fechar de páginas. É tarde, é tarde, é muito tarde, já dizia o coelho. Ninguém mais tem paciência para dar tempo às coisas, às pessoas, para os acertos que demandam primeiros quase inevitáveis erros.

Época louca em que a primeira impressão é a que fica e as embalagens importam mais do que o conteúdo porque quase ninguém está disposto a chegar até ele. Então seguimos vivendo na superfície das coisas e das pessoas. Melhor contemplar as vidas expostas em fotos do Instagram, que apresentam sempre o lado que se deseja expor.

Ao falar das pessoas de um modo geral, também me incluo em parte, admito. Recentemente o WhatsApp inaugurou um recurso que permite acelerar as vozes das pessoas nas mensagens gravadas. É algo engraçado, primeiramente, mas também é útil quando se precisa ganhar tempo. Assim, embora eu faça uso quando me deparo com mensagens de dez minutos, por exemplo, pergunto-me em que momento eu deixei de ter dez minutos de paciência.

Tá certo que há mensagens muito prolixas, de pessoas que por vezes são repetitivas e poder ouvir tudo mais rápido não deixa de ser um bom recurso, uma forma de ouvir aquilo que talvez sequer fizéssemos. Pensando nisso evito deixar mensagens com mais de 3 minutos, sem me iludir, no entanto, que não serei “vítima” do 2X.

Certa vez, em um grupo do qual faço parte, um dos integrantes que sempre deixa mensagens bem longas, respondeu ao outro que delas reclamou dizendo: —Ué, ouve acelerado! – Achei justo. Se a outro não tem tempo, acelere-o, mas eu me reservo ao direito de ser mais detalhista ou chato mesmo.

Algumas vezes, enquanto gravo uma mensagem já me surpreendi falando mais rápido do que de costume, quase em defensiva. Já estou falando rápido, não me acelere! Talvez, penso, pudéssemos gravar uma advertência no início das mensagens: “Atenção, essa mensagem deve ser ouvida em velocidade normal” ou “Adequada para 2x”.

Fico imaginando o que o futuro nos aguarda em vários aspectos, mas principalmente na forma de comunicação. Se essa crônica sobreviver, de algum modo, ao tempo que também sepulta facilmente esse tipo de texto, talvez um jovem de 2050 nada entenda do que escrevo agora, em 2021. Até lá, creio, as pessoas enviarão sinais pictóricos repletos de conteúdo, decodificáveis diretamente ao cérebro conforme o número de piscadas, ou algo do gênero.

Inevitável pensar, também, quem terá a paciência de ler textos com mais de 250 caracteres. Para quem ainda consegue chegar ao final desse texto, agradeço rapidinho, até que o acelerador de textos chegue e somente me permita dizer que é tarde, é tarde, é tarde, é muito tarde.

Cinthya Nunes é jornalista, advogada, professora universitária e nunca conseguiu escrever textos muito longos mesmo – Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo./www.escriturices.com.br