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respeito

Admito que não gosto muito de escrever sobre política, muito menos em tempos de eleição, mas o que tenho visto, ouvido e lido nos últimos dias praticamente me arremessou para tela do computador, sem alternativa de assunto.

Considero esse pleito presidencial algo muito singular, porque os dois candidatos são, cada qual por motivos diferentes, ou muito odiados, ou muito idolatrados. Vou me reservar ao direito de não adentrar nos méritos e deméritos sobre os presidenciáveis, eis que, a esta altura das coisas, cada eleitor já deveria estar a par deles, de um lado ou de outro.

Minha questão aqui é outra. Trata-se de respeito. Segundo creio e posso estar errada, cada qual tem direito de acreditar no que quiser e de votar de acordo com tais convicções.

Até aí, por mais que eu discorde, que repudie certas posturas, sou obrigada, legal e moralmente, a respeitar quem pensa de modo diverso e isso é um exercício diário, nada simples quando penso que a escolha do outro também irá me impactar.

O que não consigo aceitar é o ódio que nasce de algumas falas e parece transbordar pelos poros de muitas pessoas. Exemplifico: em um determinado local em que me encontrava, ao lado de outras pessoas que comungam de ideais ambientalistas, ouvi um rapaz dizer, em alto e bom som, ao ter dificuldades para cortar um pedaço de madeira, que bastaria pensar que ali estava um eleitor do candidato X para ter mais forças para, com o machado, realizar o trabalho.

Fiquei chocada! Que ódio é esse que beira à barbárie? Porque verbalizar é dar início a violência real, é colocá-la no mundo, ainda que como ideia. Não bastava odiar o candidato, mas era necessário direcionar esse sentir aos eleitores dele. Preferi ficar calada, já tendo sido plateia involuntária, sem qualquer vontade de proporcionar mais audiência.

E aí vem outro problema. Os que preferem exercer seu direito ao escrutínio secreto, sem se tornarem cabos eleitorais de figuras pintadas como Bem versus o Mal são chamados de “isentões”, como se não se jogar no meio das ofensas múltiplas fosse sinônimo de covardia. Então, ao que parece, dessa forma, democracia só se exerce na base da ofensa, do ódio cego? Não há mais espaço para o bom debate, concluo.

De minha parte, jamais me furtei a defender o lado que, de acordo com minha experiência de vida, considero o mais adequado e, se me questionam, não hesito em apresentar meus argumentos. Nunca me acovardei politicamente, mas não aceito a provocação da horda, da legião que insiste de separar, categorizar e a cancelar (ideia abominável) as pessoas.

Uma coisa é desaprovar um candidato, outra é afirmar que todos os seus eleitores são pessoas desprezíveis. Tenho muitos amigos queridos que votam em candidato diverso do meu e de igual modo que não gosto de todo mundo que comunga das mesmas opiniões políticas que eu.

Assim, afirmar que determinados Estados do país são desprezíveis só porque majoritariamente o candidato de preferência teve menos votos lá, tal como fizeram defensores dos DOIS CANDIDATOS, além de não resultar em nada positivo, é discriminatório, ofensivo, reprovável e injusto. Sem dizer que em nenhum estado do Brasil houve unanimidade a favor de qualquer candidato! Somos todos brasileiros, acima de tudo e isso deveria importar para quem se pretende democracia.

Então, pergunto, do que adianta criticar as condutas alheias e fazer ainda pior, espalhando Fake News, difamando instituições, credos, e tentar justificar tudo isso porque se quer um país melhor? Continuo defendendo meu direito à discordância, na luta pelos ideais nos quais acredito, mas não admito a violência alheia, verbal ou física. No exercício da democracia e do respeito pelo direito do outro, ainda estamos na idade da pedra.

Cinthya Nunes é jornalista, advogada, professora universitária e lamenta, de um modo geral, a política brasileira – Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo./ www.escriturices.com.br