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Não sei vocês, mas para mim parece que outubro se eternizou. Segundo o dito popular agosto é o mês do cachorro louco e nunca entendi direito isso, até ler que no Brasil, as condições do clima nesse mês favorecem que as cachorras entrem no cio, deixando os machos meio loucos mesmo, sendo comuns as brigas para ver quem consegue acasalar. Talvez haja outras explicações, mas essa foi a que encontrei. Esclarecido o dito popular, aqui com meus botões eu acho que, diante de tantos animais castrados, o mês da loucura está para perder o seu pódio para outubro.

Curiosamente, os dois outubros anteriores foram meses especialmente complicados para mim, em termos de trabalho, e eu fiquei, de lá para cá, com a sensação de que esse mês fez algum trato com o calendário e surripiou uns dias de janeiro, porque as férias a gente nem vê passar mesmo e aí fica mais fácil enganar nossas sensações.

Em ano eleitoral então, nem se fala. Simplesmente está insuportável para quem convive em sociedade e naturalmente se depara com pessoas com opiniões contrárias. Até aí tudo bem. Ou melhor, eu achava que estava tudo bem. Sempre me posicionei democraticamente, pelo respeito ao próximo. Quem sou eu para me arvorar de ser a dona da razão, afinal de contas? Mas tenho, como todos, o direito de ter minhas convicções, por óbvio.

Então, nesta linha, porque prefiro preservar os meus amigos, muitos dos quais pensam bem diferente de mim, não discuto com ninguém sobre política, embora nunca fuja de uma boa e civilizada conversa sobre o tema. Ouço os argumentos contrários e exponho os meus, mas jamais fui até a postagem de outra pessoa, por exemplo, de modo agressivo, ofendendo quem quer que seja. Pois bem, eu pensava, ainda penso, em verdade, que a isso se nominava respeito, educação, mas, para minha surpresa, fui chamada de “isentona” e orientada a não expor minhas rasas opiniões.

Fica difícil assim, parece-me. Por essa lógica, fico em um beco sem saída: preciso me posicionar, mas não devo expor minha opinião. Fica muito claro que, sob a ótica de referidas pessoas, só posso me manifestar se for de acordo com o posicionamento que eles mesmos defendem. Então tá bom. Pensem como quiserem e eu continuo do meu jeito, porque, se eu não estudei errado na faculdade de Direito, o nome disso é democracia e liberdade de expressão. Por princípio, tenho medo de fanáticos de todo gênero, que confundem convicções com verdades absolutas, sobretudo os que ocupam altos cargos, mas abafemos o caso e cada qual leia como quiser.

E se outubro é, originalmente, o mês das bruxas em vários países, com origem em um ritual celta, aqui no Brasil também já podemos considerar uma comemoração bem nossa, ao menos em anos eleitorais, porque a bruxa tá solta geral. As brigas entre amigos, colegas e familiares nunca estiveram tão acirradas e o saldo de tudo isso, embora demonstre em parte que temos nos tornado um país mais atento aos processos eleitorais, também desgasta os mais preciosos núcleos de convívio.

Ando torcendo para outubro se findar, porque para mim já deu o que tinha que dar. Brincadeiras à parte, ando preocupada e sei que o fim deste mês poderá ser o fim de muitas outras coisas e que, neste momento em que escrevo, o futuro é muito mais incerto do que sempre foi. O fato é que não queremos doces e nem travessuras, mas seriedade de quem o povo eleger para governar nosso país. Nunca desejei tanto, de verdade, estar errada sobre a sensação que tenho sobre o porvir. Nem isentona e nem bruxa, só uma cidadã que defende seu direito de expressão. Pai, afasta de mim esse cálice...

Cinthya Nunes é jornalista, advogada, professora universitária e desconfia que São Pedro se perdeu nas contas do tempo – Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo./www.escriturices.com.br