E no começo deste mês elas apareceram, em bando. De repente, na entrada da churrasqueira aqui de casa, surgiu um enxame de abelhas. Sei identificar pouquíssimas abelhas, mas ainda assim pelos nomes populares. Descobri, estudando um pouco o tema, que são muitas as espécies de abelhas nativas sem ferrão, com subcategorias inclusive. De todo modo aquelas abelhinhas me remetiam à velhas conhecidas da infância, as tais abelhas que enroscam no cabelo.
Vieram em um sábado qualquer, sem avisar e tomaram conta do lugar. Eram muitas mesmo e, preocupada como sou com as abelhas, não queria que se aninhassem ali, porque por certo morreriam se precisássemos usar a grelha. Saí em busca de todos meus contatos de conhecedores do assunto, os meliponicultores, para saber como proceder.
Seguindo as orientações obtidas de um amigo e professor de escrita criativa, que é meliponicultor e um amor de pessoa (Rafael), esperamos que a noite chegasse, que elas se acalmassem e fomos inspecionar o lugar. Com as lanternas dos celulares, tomamos um susto quando vimos uma colmeia enorme instalada lá dentro, na chaminé. E foi aí que começou a minha saga em busca de uma solução que preservasse as abelhas e a estrutura da construção.
Por indicação cheguei até uma ONG, cujo nome omitirei aqui, pois mal me responderam, sempre de forma evasiva e já dizendo que não poderiam fazer nada ou que teriam que estourar a chaminé. Encontrei em uma rede social um meliponicultor que dá cursos online sobre captura e criação de abelhas e, bem mais receptivo, tentou me auxiliar de várias formas, mas novamente não foi possível localizar quem pudesse vir fazer a retirada.
Antes disso, eu já havia ligado para os bombeiros, que me informaram não fazer esse tipo de serviço, mas que eu não as matasse, pois é crime ambiental. Fiquei me perguntando que se fosse para matar as abelhas é um tanto óbvio que eu não ligaria para os bombeiros ou para outro serviço público, e acho que meio que comentei isso com a atendente. Enfim, liguei para Prefeitura, mas o tempo médio seria de trinta dias de espera.
Matar as abelhas estava e sempre esteve totalmente fora de cogitação. Eu precisava de ajuda profissional e fui procurar no lugar para o qual convergem todos os desesperados: o Google. E foi lá que achei o Prof. José, um biólogo, apicultor, que há muitos anos trabalha com captura e resgate de abelhas, sem causar mal a elas. Ele me atendeu muitíssimo bem, fornecendo informações importantes. Tudo combinado para ele vir fazer a retirada do enxame e fui dar uma conferida das abelhas. Um verdadeiro mistério se instalou: elas haviam sumido!
Várias possibilidades me foram apresentadas. Primeiro que as abelhas não abandonam simplesmente as colmeias. Não as sem ferrão, ao que me disseram, pois a rainha não tem asas e, assim, como ela não poderá sair, se algo, como fogo por exemplo, alcançar a colmeia, todas morrerão, unidas. Até perguntei se lagartixas comem abelhas, porque vi uma lá, mas umas risadas depois me disseram que não exterminariam o enxame, ainda que pegassem uma ou outra.
A possibilidade que me pareceu mais provável é que as abelhas, quando as vi, estivessem chegando, procurando um lugar para se instalarem e acabaram encontrando um ninho abandonado, algo que deveria estar na churrasqueira há muito tempo e nunca havíamos visto. Algumas abelhas não gostam da proximidade de pessoas e tudo que fiz nos últimos dias foi ficar lá perto, xeretando. Isso talvez as tenha afugentado e resolveram ir se instalar em outra freguesia.
Seja como for, passei uma semana doida atrás de alguém que me ajudasse e as minhas futuras hóspedes foram embora sozinhas. Ficaram para um descanso e nada mais. Descobri, nessa aventura, muitas coisas bem curiosas sobre as abelhas, inclusive que nem todo mel deve ser consumido, pois pode estar contaminado com cocô, mas isso é tema do próximo texto, para quem for abelhudo e quiser conferir.