Coleciono manias. Todas inofensivas, entretanto. Ao menos, creio, a quase totalidade delas. Entre outras coisas, gosto de guardar as sementes das frutas que como. Separo, deixo secar por algum tempo e depois espalho por aí. A maior parte, vou enfiando nos vasos que lotam meu pouco espaço aberto.
Aprendi com meus avós a identificar muitas plantas pelo cheiro de suas folhas ligeiramente maceradas. As mais comuns eu conheço pelo formato do tronco e das folhas, como mangueiras, ameixeiras, pitangueiras, amoreiras, limoeiros, laranjeiras etc. Vez ou outra, no entanto, fico com dúvidas sobre a natureza do que nasce nos vasos, porque os pássaros também semeiam por essas bandas, como o trigo sarraceno que apareceu sabe-se-lá-de-onde.
Ano passado, por exemplo, uma estranha planta foi crescendo, subindo como trepadeira, com lindas e enormes folhas verde bandeira. Cortei uma delas e, como de costume, esfreguei entre os dedos, tentando invocar alguma memória que me permitisse identificá-la. Sem sucesso, resolvi que respeitaria o avanço que ela impôs sobre a tela de proteção dos gatos, invadindo ligeiramente o espaço aéreo da vizinha. Em algum momento deveria surgir uma flor ou um fruto que a denunciaria.
O fato é que a planta cresceu, subiu e se esparramou, mas sem dar qualquer sinal identificador. Cogitei de ser algum mato, que é o nome que damos quando não sabemos do que se trata e que nasce espontaneamente. Depois que descobri sobre as PANCs (Plantas alimentícias não convencionais), entretanto, penso mil vezes antes de arrancar o que julgava ser espécie invasora.
Resolvi que ia desvendar o mistério e pensei em consultar o pessoal da feira livre que ocorre toda semana no quarteirão de casa. Peguei uma folha e fui de barraca em barraca perguntando, mas ninguém sabia do que se tratava, até que o vendedor de verduras, que já me relatara ter sido sitiante, sugeriu que eu colocasse uma foto da dita folha e passasse pelo crivo de um aplicativo gratuito, disponível na internet.
Um tanto incrédula, fiz conforme sugerido e logo de pronto a resposta fez todo sentido. Eu, de fato, joguei sementes daquilo, havia meses, em alguns vasos, mas sem muita esperança de que vingassem, já que não é uma fruta das mais baratas ou comuns, ao menos pelo que sei. Agradeci a mim mesma por haver deixado a pobrezinha se desenvolver e fui inspecioná-la, desta vez com outro olhar. Poucos minutos depois e eu encontrei um botão, que de pronto reconheci.
Tenho predileção por algumas frutas e entre elas está o maracujá, delicioso em geleias, sucos, molhos, bolos, et. Plantei inúmeros pés de maracujá durante minha vida e, à exceção dos que plantei com meus pais na chácara em que vivemos, nunca mais consegui que nascesse uma mísera flor ou fruta. As folhas do maracujá tradicional eu conheço bem e são diferentes desta outra.
O maracujá-doce, uma iguaria que sorvi como sobremesa sempre que pude, pois além de ser mais caro, é mais sazonal, tem uma conformação de folhas diferente, razão pela qual eu não havia sido capaz de reconhecê-lo. Agora eu o trato como rei, porque espero colher alguns frutos. Calmantes naturais, são frutas lindas, perfumadas e saborosas. A lição que fica é que, muitas vezes, temos pressa de entender o que ainda não está pronto para tanto. Há um tempo para tudo, no céu, na terra e no além. Semeamos sonhos, até involuntariamente, mas é preciso lhes dar espaço, aguardar que estejam prontos para vir até nós, para que sejam flor..