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dormir com meias

O dia foi corrido, cheio de compromissos profissionais e da rotina da casa. Sentada à frente do computador, em plena primavera, estou de pijamas de inverno e envolta em um cobertor. O termômetro do celular acusa 12 graus e uma garoa fina se faz ouvir pela janela. Mesmo na cidade que nunca dorme, o silêncio se faz presente porque já passou da meia-noite.

Em tempos de seca, a chuva, pelo mínimo que seja, é benção, mas o frio que veio com ela eu bem que dispenso. Friorenta, não sou amante das baixas temperaturas, exceto se for para passear, dormir e comer. Ainda assim, minha tolerância é de poucos dias. Vou ficando encolhida, sonolenta e com preguiça gigantesca de fazer atividade física. Fosse eu um urso, hibernaria, sem remorsos.

Cadê a primavera, meu Deus? Para onde foram os dias de céu azul, vento fresco e sol aconchegante? Aqui na capital paulista, não deu as caras. Reza a lenda que chegará nos próximos dias, meio tímida, mas já trazendo um pouco mais de calor. Entre um calafrio e outro, espero que sim.

Quando de nossa diária chamada de vídeo em família, não deixa de ser curioso pensar que estamos separados por algumas centenas de quilômetros, mas enquanto meus pais e irmãs vestem camisetas e ligam os aparelhos de ar-condicionado, eu visto meias quentes para trabalhar em casa e casacos grossos para dar uma mísera volta no quarteirão com minhas cachorras.

Provavelmente, polêmicas científicas à parte, boa parcela de culpa seja nossa. Não especificamente minha e sua, mas da humanidade que insiste em ignorar os efeitos do desgaste e desrespeito pela natureza. As boas ações e iniciativas de proteção ainda não são páreo para as atividades destruidoras e a conta acaba fechando com saldo negativo. Porém, acredito que certa parte dos fenômenos naturais não tenham causa e efeito diagnosticáveis. Sei lá, mas parece-me que os dinossauros não eram poluidores, não jogavam lixo para todo lado e nem mesmo usavam mais recursos do que precisavam. Ainda assim, todos sabemos que o planeta os retirou de linha, à exceção das galinhas, suas parentes, para alegria do pessoal da maromba.

À propósito do tema, eu, que já não sou fã de academia, encontro no frio sempre um bom (não é bom, eu sei) motivo para não ir. Vai que eu me machuco, penso, já me justificando, como se eu fosse uma atleta de alta performance e não alguém que conta até mais rápido as séries só para acabar logo as repetições monótonas das máquinas de tortura.

Impossível que alguém, de verdade, com sinceridade, goste daquilo, ao menos não se passou dos quarenta e tem trabalho esperando em algum lugar. Do resultado eu também gosto, é claro, ainda que não seja muito razoável esperar que os resultados venham apenas por eu pagar a mensalidade, mas me refiro a gostar mesmo de ir lá e sofrer. Confesso ainda que, nos dias em que não com preguiça ou ranço, vou já pensando no que vou almoçar, esperando que seja possível perder um quilo em quarenta minutos. Positividade é para essas horas meus amigos!

Meu projeto verão, quando o calor voltar, será reclamar que estará quente demais e que o sol estará a fritar minha sensível pele. Trocarei as sopas pelos sorvetes e as cobertas pelo ventilador. Se os dinossauros falassem ou escrevessem crônicas, apostaria que Deus deu cabo deles por reclamarem demais e por assinarem um plano de doze meses na academia que, facilmente, poderia ser substituído por doze dias. Só acho.

Cinthya Nunes é jornalista, advogada, professora universitária e acredita que frio não combina com academia, nem a alegria combina com academia, apesar de necessária à saúde – /www.escriturices.com.br

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