
—Cinthya, acho que as abelhas foram embora. Não estou vendo mais nenhuma jataí por aqui – disse-me ele, em uma tarde dessas.
Tratei de responder, sem ir conferir, que elas estavam na colmeia, com certeza. Estava bem frio e, por isso, as jataís ficam mais recolhidas. Não gostam de temperaturas baixas. Ele deu de ombros e alguns dias se passaram sem que eu tivesse tempo de me preocupar ou ir verificar pessoalmente, embora a informação tivesse ficado martelando nas minhas ideias.
Na semana seguinte fui lá conferir, mais por desencargo de consciência do que por achar que elas pudessem não estar na caixa de madeira em que estiveram durante dez anos aqui no meu quintal. Era um dia um pouco mais quente, em que elas deveriam estar voando por ali, mas, de fato, para minha surpresa, não vi abelha nenhuma.
Consultei a pessoa de quem comprei o enxame e com quem ainda mantenho contato, seja porque comprei outros, de espécies diferentes, seja porque já o indiquei para amigos igualmente fãs das abelhas sem ferrão. Perguntei o que poderia ter acontecido eis que tudo indicava a ausência completa de qualquer abelha jataí, ao que ele me ofereceu algumas possibilidades.
Talvez a rainha tivesse morrido e, por alguma razão, não deixou outra preparada para assumir a colmeia. Talvez tivessem morrido por falta de alimento. Talvez uma nova princesa tenha saído para o voo nupcial e não tenha conseguido voltar, morrendo por conta de veneno ou sendo devorada por algum predador. Todas as hipóteses levantadas me deixaram devastada. Durante uma década tudo havia saído bem. Segundo me informei, as abelhas rainhas da espécie vivem de dois a três anos, ao que concluo que o bastão real foi passado com sucesso várias vezes. Por outro lado, descobri que minha colmeia morreu cedo demais, pois poderia se manter por até sessenta anos.
Falta de alimentos eu estou certa de que não foi a causa, pois além de morarmos em uma área arborizada, há muitas flores ao redor. Além disso, abri a caixa para inspecionar e, com tristeza, encontrei bastante mel. Sobre o mel, admito que experimentei um pouquinho. Nunca tive coragem de retirar delas para nosso consumo, com medo de não saber fazê-lo e de espantá-las. Fui informada depois que não era exatamente seguro consumir o mel, porque não era possível saber há quanto tempo as abelhas haviam sumido ou morrido. Enfim, estou bem, a quem interessar possa.
De toda forma, abelha nenhuma se via por ali. Pode ser que tenham morrido aos poucos, sem que novas nascessem, até que ninguém sobrou. À exceção da rainha, as demais vivem cerca de 45 dias apenas e nunca saberei como e nem porque tudo terminou. Limpei a caixa, retirando todos os resquícios da colmeia, que estava muito bem formada por sinal, pois talvez fosse possível usá-la para atrair um novo enxame, mas sequer pude colocar a plaquinha de “temos vagas” porque percebi que estava parcialmente destruída pela ação de cupins ou formigas. Quem quer que fosse o invasor, também não estava mais lá.
Não aceitei a derrota, porém. Perguntei se aceitava parcelamento e comprei um enxame novo, que veio diretamente do estado do Paraná, via transportadora. Minhas novas inquilinas já estão acomodadas, visitantes contumazes das minhas flores. Por garantia, quase todos os dias faço uma inspeção, só por cautela e que Deus salve a Rainha!
