Para você, leitor, que eventualmente pode não saber do que se trata, farei uma rápida contextualização. A “moda” agora, neste momento em que escrevo, outono de 2025, é o tal do bebê reborn, que nada mais é do que uma boneca hiper-realista, simulando um bebê. Até aí, em princípio, nada demais, exceto pelo fato de mulheres adultas as tratarem como se fossem filhos reais.
Nada contra a pessoa gostar do boneco, talvez como item de colecionador, sei lá, mas me parece um tanto estranho que mulheres, ao menos em tese, mentalmente sãs, os embalem no colo, façam encontros de “mamães” de bebês reborn, realizem festas de aniversário, levem ao hospital e, pasmem, participem de “partos” simulados. Se não for algo para conquistar os desejados cinco minutos de fama, é bem preocupante, sob o ponto de vista psicológico e psiquiátrico.
Atualmente, a propósito, a bizarrice vem sendo normalizada. As pessoas, diante das câmeras, agem das formas mais extremas possíveis. São tantas maluquices que me pergunto se o mundo pirou total ou se estão todos criando personas atrás das quais escondem as frustrações de uma vida comum. Para algumas pessoas, parece ser mais fácil fingir que se é bicho, mãe de boneca, vampiro, milionário, alienígena, do que enfrentar a realidade nua e crua, onde os boletos chegam e as coisas acontecem à revelia dos planos, sonhos e ilusões. Às vezes eu acho tudo isso engraçado, mas na maior parte do tempo, é triste.
Crianças e bonecos sempre andaram de mãos dadas. Acredito, sem qualquer rigor ou alicerce científico, que o ser humano primeiro imita, simula, aprende no lúdico, na fantasia, para depois seguir adiante, como adulto, experenciando situações reais. Não que seja necessário, e nem desejado, sufocar a imaginação, a criatividade, o fantástico, ou mesmo a criança dentro de cada um de nós. Ao contrário. Identificar os limites, porém, entre o saudável e a birutice, modernamente, parece cada vez mais complexo. Nunca Machado de Assis foi tão atual. Leitores de “O Alienista” concordarão que tal livro reflete a sensação de qualquer um que ainda não pirou. Ou que pensa que não pirou.
Não consigo achar normal uma mulher adulta passar horas segurando uma coisa, algo onde não há vida, fingindo que se trata de uma criança, dedicando-lhe cuidados e em atitudes que parecem não encontrar respaldo na sanidade mental. Começa a dar um medo real dessa doidice toda. Quem são essas pessoas? Malucas, vorazes por fama, ou existências tristes, vazias por um amor que não teve por e para onde fluir? Admito que não sei.
Há tanta vida no mundo para se amar. Não teve filhos? Dedique-se a um animal de estimação. Não gosta? Seja voluntária em alguma obra assistencial para crianças, para idosos. Cultive um jardim. Tudo bem gostar de brinquedos, mas há destinações bem melhores para o afeto. Penso que, talvez, seja mais simples “amar” um filho de plástico, que não chora, não adoece, não cresce, não questiona, não vai embora. Será o medo da vida de verdade, daquilo que acontece fora das redes sociais, que tem levado algumas pessoas a fugir do que é concreto?
Vidas de mentira, rostos deformados pelo desejo da juventude eterna, avatares, filtros, perfis falsos e, agora, crianças de plástico. Tempos modernos? Não sei. Prefiro à moda antiga, de toda forma. Vida de verdade, ainda que dê trabalho cuidar do outro, gente ou bicho. Não dá para reciclar a existência, nem mesmo com filhos retornáveis, tal como casco de refrigerante. Cada um vive como quer e como pode, é fato, mas tudo anda bem esquisito!
Dia das Mães chegando e agora, pelo visto, há novas opções de presente, muito embora, a única coisa que não é fácil para se tornar uma “mãe” de reborn, seja o preço dos “filhos”. Não tem jeito, no fim das contas: criança sempre é um investimento alto!